
Henrique Gouveia e Melo, de 61 anos, tornou-se o novo herói português com o seu trabalho na task force da vacinação contra a Covid-19. É um "anjo" vestido de militar para os portugueses e o mundo virou os olhares para este homem que, nos últimos tempos, tem sido requisitado por vários órgãos de comunicação internacionais para entrevistas e palestras.
Há uma nova variante que requer ainda mais cuidado e que está a pôr um mundo em alerta. As pessoas temem pelas reuniões familiares do natal e anseiam por receber a terceira dose da vacina.
Por onde quer que passe, o vice-almirante é aplaudido de pé. Os "obrigado" multiplicam-se e o povo português pede por mais perante números de infetados que voltam a aumentar e as filas que, aos poucos, voltam a surgir nos centros de vacinação a par do ritmo da terceira dose, que se pede que seja urgente. "Só comento as coisas que me dão enquanto missão, e já não é minha missão", descarta o submarinista. Ao olhar dos portugueses, só o vice-almirante pode resolver este atraso. Mas, porque é que Gouveia e Melo não volta?
Gouveia e Melo continua a rejeitar a possibilidade de voltar, mesmo que a nação que tanto o aclama lhe peça que retome as rédeas do processo de vacinação com medo de uma catástrofe. Realça que "a guerra não está vencida" e que é preciso "dar vacinas a quem precisa e não voltar a vacinar quem já não precisa", insistindo que "não há seres humanos descartáveis".
O PROTAGONISMO QUE ABOMINA
Declina a ideia de que o sucesso do processo de vacinação é uma vitória sua. Remete-a para todos os envolvidos e para os portugueses que aderiram ao plano. Mas revela que, para "convencer o povo" existiu um segredo, que agora partilha: "Não há lideranças sem empatia. Temos que falar com as pessoas, dar importância, ouvi-las. Essa empatia foi essencial para o processo."
Desvenda agora que usou durante o seu exercício de funções sempre a farda militar porque "era uma fase de guerra". O nome de Gouveia e Melo tornava-se um dos mais apelativos para comandar o País e há quem gritasse que o vice-almirante devia ser o próximo Presidente da República. Mas este espera não se deixar cair na vida política. "Se isso acontecer, deem-me uma corda para me enforcar", pediu, com humor.
REJEITA CARGO POLÍTICO
Gouveia e Melo confessa que fez tudo para tirar as atenções políticas de cima de si numa altura em que só queria salvar o País e ver a sua tarefa concluída com sucesso. "Houve uma entrevista que dei que serviu o propósito de deixar de ser presidenciável. A certa altura as pessoas já não estavam preocupadas com o processo de vacinação, mas com o facto de eu poder ser o próximo Presidente ou o Sebastião português. Tive que mostrar que não era assim tão inteligente e tão fantástico."
Mas as pessoas continuam a pedir o regresso do homem em que confiam, a quem depositaram a sua esperança e que até dá conselhos paternais sobre como "educar os filhos para serem organizados e responsáveis", pergunta feita por uma mãe na Web Summit. "Tem de os matricular na escola da Marinha para terem uma carreira militar. E têm de ser normais, terem bons sentimentos sobre a comunidade, terem a esperança de fazer algo, não apenas por si mesmos, mas por toda a gente", sugeriu, deixando a plateia ao rubro.
O D.SEBASTIÃO QUE NÃO VOLTA
O vice-almirante rejeita um "sebastianismo" que afirma ser prejudicial para o País. "Estarei sempre disponível enquanto militar, mas gostaria de ver a nossa sociedade a andar para a frente de outra forma: sem nenhum Sebastião, porque Sebastião é cada um de nós."
Garante que cumpriu a tarefa que lhe foi proposta mas que está na altura de Portugal aprender a organizar-se. "O meu papel enquanto militar foi ajudar a colocar um penso rápido na ferida. A ferida fechou e sarou, agora precisamos de viver sem pensos rápidos", disse, salientando que o país está noutra fase, mas que existe a "tendência outra vez de dizer 'tragam o Sebastião'", que é provar que "não aprendemos nada enquanto sistema".
Portugal precisa, frisou, de conseguir unir "outra vez" a Ordem dos Médicos, dos Enfermeiros e as diversas entidades do Ministério da Saúde e "esse ecossistema resolver este problema da terceira dose e do que vier para a frente".