
Dia de 3 de dezembro, a data da última grande trapalhada do então ainda ministro da Administração Interna (MAI), Eduardo Cabrita, de 60 anos, ficará para sempre marcada no coração e na memória de Ana Paula Vitorino, de 59, a mulher e ex-ministra socialista do Mar, por quem se apaixonou, entre reuniões chatas, sessões mais animadas de esclarecimento, comícios fervorosos, jantaradas de camaradagem e empolgantes arruadas com militantes PS.
COMO TUDO SE TORNOU OFICIAL...
Há 9 anos, já ambos cinquentões, deram o nó e juntaram oficialmente os trapinhos, sem filhos, diz na biografia de Ana Paula na Wikipédia que o fizeram "por opção". Não têm descendência em comum, mas têm um pequeno cão que todos os dias, pela noitinha, é passeado por Cabrita nos quarteirões do bairro de Lisboa onde moram - apesar de também terem casa em Almoster, no Ribatejo.
Ora, Ana Paula Vitorino - que foi afastada à força das hostes governamentais por causa dos rumores do 'Family Gate', uma escandaleira montada em 2019 porque António Costa teria pisado "linhas vermelhas", ao misturar famílias com cargos no Governo, – saiu, assim que o marido Cabrita apresentou a demissão, em defesa da sua honra.
"Sempre disse que o Eduardo é a melhor parte de mim. Não é 'apenas' o meu amor, o grande amor da minha vida. É também a pessoa, o político e profissional que eu admiro. É uma pessoa íntegra, honesta e responsável", escreveu Ana Paula sobre o marido que considera injustiçado.
Pelo menos, para já, o jurista que fez carreira na política, passou pelo Governo de Macau e se gaba de saber falar mandarim, não passará fome por ficar desempregado, já que a mulher preside ao Conselho de Administração da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, onde ganha 12 mil euros por mês, fora as despesas de representação, que poderão rondar os 4800 euros mês. Dá para o camarão e para as sodas...
"Sempre disse que o Eduardo é a melhor parte de mim. Não é 'apenas' o meu amor, o grande amor da minha vida. É também a pessoa, o político e profissional que eu admiro"
O ÚLTIMO DOS "IMPOLUTOS"
Na publicação do Facebook, que poucas horas depois Ana Paula apagou, a ex-ministra e mulher do agora ex-ministro recorda ainda as palavras do malogrado socialista Jorge Coelho para enaltecer o marido despejado do Governo, já que o homem forte da construtora Mota Engil costumava dizer que Cabrita era "o último dos impolutos".
Na hora do adeus do marido ao ministério que tutela polícias e bombeiros, Ana Paula Vitorino, qual leoa em defesa da sua cria, disparou: "O Eduardo é um Homem com letra maiúscula e terá sempre o meu apoio e o meu agradecimento por tudo o que tem trazido de bom à minha vida e pela mais-valia que tem sido para o nosso País".
A mulher forte dos transportes em Portugal reage assim depois de, em 2019, o marido também a ter "defendido" - embora à boleia de um oportuno 'post' de um ativista ambiental que escreveu um texto inflamado a defender a mulher que mandava na nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE), quando António Costa a afastou do Governo para evitar acusações de promiscuidades familiares.
"Ministra do Mar fora do Governo? Não percebo nada disto! Afinal quem ‘faz acontecer’ e apresenta resultados é retirado do jogo? O mais importante devia ser a competência e o trabalho apresentado e não as relações familiares. Da nossa parte, um agradecimento muito especial à ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, pelo empenho na defesa da nossa causa e pela responsabilidade a nós atribuída. Vamos fazer tudo para levar o barco a bom porto", dizia o ambientalista fã da ministra. Cabrita partilhou o texto, fez um like corajoso… mas mais não se podia comprometer.
O MINISTRO QUE CHORAVA
António Costa perdoou-lhe tão elevada ousadia, até porque Eduardo Cabrita era, tal como semanário Expresso escreveu em 2015, "O Homem de Mão de Costa".
E apesar de ser Adjunto do primeiro-ministro no Governo da 'Geringonça', foi uma tragédia que fez ascender Eduardo Cabrita ao posto de comando da Administração Interna.
A 17 de junho de 2017, na região do Pinhal Interior, em especial no concelho de Pedrógrão Grande, morreram queimadas ou sufocadas 66 pessoas, entre as que ficaram encurraladas numa estrada nacional e as que foram apanhadas de surpresa pelo fogo à porta de casa e se desorientaram. Mais: 254 pessoas ficaram feridas, sete delas em estado muito grave.
Ainda hoje os portugueses guardam na memória as imagens televisivas do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a abraçar um então ministro Adjunto do Primeiro Ministro em lágrimas, desorientado e desesperado com os acontecimentos trágicos.
Constança Urbano de Sousa, a ministra da Administração Interna à data da primeira tragédia não cairá com este episódio, mas a sua gestão catastrófica dos fogos, de novo, em outubro de 2017, que destruiram tudo à sua passagem entre os concelhos de Pampilhosa da Serra, Arganil e Oliveira do Hospital, ditaram a sua saída e a ascensão de Cabrita ao lugar de MAI.
O texto elogioso que a amada Ana Paula escreveu ao seu mais que tudo Eduardo Arménio, que foi publicado nas redes sociais e divulgado na imprensa, acontece no dia em que, de manhã, confrontado pelos jornalistas sobre o conteúdo do despacho de acusação referente ao acidente que na Auto Estrada 6 vitimou um homem, atropelado pelo carro do Estado onde seguia Eduardo Cabrita, este descartou responsabilidades e afirmou ser, "apenas um passageiro". Atirando as culpas para o motoristas, agora no lugar de arguido e acusado de homicídio por negligência, que seguia a 163 Km/hora.
Às 17h30 desse mesmo dia, depois de uma longa conversa telefónica com António Costa, ambos concordaram que este tema poderia ser a ferrugem que iria corroer o PS em plena campanha eleitoral e fazer perder muitos votos. Só havia uma saída, a de Cabrita, sem honra e com muito pouca glória.
Livre de responsabilidades governativas, o amigo de longa data de António Costa que este protegeu de todos os escândalos no seu Executivo ao longo de quatro anos, fica livre para, com a sua patroa, em 2022, fazer mais umas temporadas de praia no Meco, onde, no último verão, foram apanhados pelos banhistas e pelos fotógrafos. Com tempo de sobra para se amar.
A MULHER QUE VENCEU DOIS CANCROS
Esta demissão de Eduardo Cabrita, depois da alegadamente "injusta" não recondução de Ana Paula Vitorino em 2019, é mais uma das muitas tragédias que o casal já viveu, em especial com a frágil saúde da socialista. Ana Paula Vitorino era secretária de Estado dos Transportes no Governo de José Sócrates quando, em 2007, foi acometida de um cancro. A governante combateu o carcinoma e recuperou, mesmo mantendo-se em funções.Só que uma tragédia nunca vem só e, em janeiro de 2016, cerca de dois meses depois de ter assumido a pasta de ministra do Mar, o cancro volta a abalar, de novo, a saúde de Ana Paula. A ministra chegou a esconder os efeitos da quimioterapia com uma longa peruca loira, mas, passado alguns meses, assim que o cancro começou a entrar em remissão e o cabelo começou a crescer de forma consistente, assumiu o cabelo curtinho.
Eduardo Cabrita manteve-se sempre a seu lado e foi sempre o seu pilar nas horas más. Agora que ele está na mó de baixo foi a vez e Ana Paula retribuir o apoio e desfazer-se em elogios.