Desde a noite de 5 de de dezembro que a paz não chega e que as mesmas perguntas ecoam, uma e outra vez, na cabeça de Tony Carreira e Fernanda Antunes, que não conseguem aceitar porque é que a tragédia bateu precisamente à porta da filha, que aos 21 anos tinha a vida pela frente. "Porquê com a Sara?", "Porque é que Ivo Lucas não foi capaz de contornar o carro de Cristina Branco e evitar o acidente?", "Porque é que a fadista não sinalizou devidamente a viatura?", "Porque é que Sara tinha de ir naquele dia ao Porto?"...
Parte das respostas estão a ser dadas no julgamento que procura apurar responsabilidades pela morte prematura da jovem num brutal acidente de viação, e a família não pede mais do que a verdade dos factos que, apesar de não apaziguar a dor, pode ajudar no processo de um luto, que dura há quase três anos e está longe de ficar concluído.
"Nada vai mudar as saudades que tenho da minha filha. A única coisa que eu peço desde o primeiro dia é que haja uma percentagem mínima de humanidade. No mínimo é assumir aquilo que aconteceu com todos os erros, que podiam ter acontecido comigo", disse Tony Carreira após ouvir os primeiros testemunhos dos arguidos, que alegaram não se recordar da maioria dos factos que originaram o acidente fatal.
Mas se para a maioria, ouvir a versão dos peritos e dos arguidos pode ajudar a entender porque é que, afinal, o acidente fatal aconteceu, Maya tem uma visão diferente do assunto. A conhecida taróloga e apresentadora da CMTV fala em karma para explicar o acidente fatal e diz que nada podia evitar o desfecho, que acabou em tragédia para a família Carreira.
"Quando há um acidente, há circunstancias que levam a esse acidente, que podem ser normais, e que surgem no decurso da vida normal. E depois há outros acidentes em que pessoa que parte teve manifestações que nos levam a concluir que havia ali um caminho a percorrer, e que havia diversas situações que levavam a esse caminho e àquele momento", diz, acrescentando que, no caso de Sara Carreira, houve vários indícios e sucessão de acontecimentos que indiciaram que este foi um acidente kármico.
"Isto significa que a Sara quando nasceu tinha uma missão e que essa missão foi cumprida, extinguiu-se, ou então pode ter vindo cá completar o karma de uma outra pessoa. Eu não acredito na morte física, acredito que que quando o karma se cumpre a alma terá o seu caminho, e precisa de ter paz para depois poder fazer o seu percurso de reencarnação", explica.
E quais foram os sinais exatos, no acidente de Sara Carreira, que levam Maya a concluir que a cantora já tinha cumprido o seu desígnio? São quatro, sendo que os primeiros indícios comçeram antes da fatídica noite, quando Sara reuniu os amigos para um jantar tardio do seu aniversário.
O JANTAR DE ANIVERSÁRIO
Sara Carreira completou o seu último aniversário a 21 de Outubro, mas os festejos com os amigos só aconteceriam na sexta-feira dia 4 de dezembro, véspera do acidente fatal. Nessa data, a jovem cantora ainda se encontrava em Lisboa e tinha-se juntado com a melhor amiga Bárbara Bandeira e outros para soprar as velas. O momento acabaria por ser partilhado por Bárbara, que não resistiu a uma piada pelo facto de a jovem ter celebrado o aniversário tanto tempo depois.
Só que para Maya não foi uma piada ou coincidência, mas sim o primeiro forte indício de que o karma de Sara estava prestes a ser cumprido. "Houve aquilo que seria um sinal inconsciente dela, que é o jantar de despedida chamemos-lhe assim, que é um jantar de comemoração de amizade, um jantar em que se estava a celebrar um aniversário que já tinha ocorrido em outubro e estávamos a 4 de dezembro. Diria que é quase um jantar de despedida", afirma Maya à 'The Mag'.
O CONDUTOR QUE FAZ NOVA ROTA
Para Maya, outro dos sinais de que o acidente de Sara não foi uma fatalidade, mas sim kármico foi o facto de o condutor que desencadeia a sequência dos acidentes, e que estava alcoolizado, não ter usado o seu habitual trajeto para circular, e que não incluía aquela autoestrada.
"Um ponto importante é a presença de um carro em marcha lenta, conduzido por uma pessoa do Ribatejo, de uma aldeia perto, e que não era habitual fazer a autoestrada e que estava manifestamente alcoolizado, e que estava ali naquele momento e é o causador do acidente. Na verdade, ele aparece ali não se percebe muito bem porquê", explica Maya para designar que o arguido tinha de estar naquele dia e àquela hora naquele trecho da autoestrada para que a sequência dos acontecimentos se desenrolasse.
A VIAGEM QUE FOI APRESSADA
Estávamos em pleno confinamento quando Sara Carreira decide apressar a sua viagem ao Porto para ir buscar as peças de roupa da coleção que estava a desenvolver com Micaela Oliveira. Apesar de a maioria da roupa ainda não se encontrar pronta, o que gerou inclusivamente alguma fricção no encontro entre as duas, a jovem acabaria por viajar na mesma até ao Norte. "Houve o facto de a Sara ter alterado a ida dela ao Porto, apressado essa viagem, que não era para ser naquele sábado. Houve um apressar da situação", revela Maya, para justificar a sua visão dos acontecimentos.
IVO ERA O ÚNICO DISPONÍVEL
Por fim, e de forma a concluir a sua teoria sobre o que aconteceu na noite de 5 de dezembro de 2002, Maya acredita que até a presença de Ivo Lucas ao volante do jipe estava designada. Em tribunal, o próprio afirmou que, naquele sábado, era a única pessoa disponível do círculo mais próximo de Sara para ir ao Porto. "Até o facto de o Ivo poder ir a conduzir é um indício. Se fosse noutro dia ele podia não ir. Houve uma alteração das circunstâncias. Diria também que o facto de ir no sábado ao Porto numa altura em que estávamos em pandemia, com limitação de circular entre concelhos, foi mesmo uma coisa forçada."
"NÃO SENTI QUE O TONY TIVESSE ACEITADO"
Foi apenas um ano depois da morte de Sara que Maya reuniu a coragem necessária para falar com Tony Carreira. No sentido de dar conforto a um pai destroçado, a taróloga colocou-se no seu lugar de dor enquanto lhe falava sobre a maneira como encara o que aconteceu e que, na sua opinião, podia ajudá-lo a aceitar a tragédia de perder a filha. "Falei com o Tony, mas não senti que ele tivesse aceitado. Quando falei com ele, tinha feito um ano que a Sara faleceu. Foi a altura em que eu me senti capaz de falar com ele, mas sinto que o Tony ainda não está preparado para aceitar que era uma coisa que tinha de ser e que, embora haja responsáveis, não há culpa. Há uma responsabilidade legal, que tem de ser apurada, mas é de facto um desenvolvimento cármico", diz, para de seguida concluir.
"Tudo isto são circunstancias que levam a que eu entenda que, independentemente da dor, independentemente da perda dos pais, do trauma que o Ivo fica para o resto da vida, a Sara encontrou ali o final do Karma dela. Foi uma caminhada para o final do karma dela."
