
Poucas vezes um caso amoroso esteve tantas vezes em destaque nos sites dos principais jornais económicos como nos últimos dias, com uma espécie de gossip interno, que começou por ser cochichado nos corredores da Galp, a transformar-se, de repente, num assunto amplamente discutido em praça pública, e que culminou com o pedido de demissão de Filipe Silva, o CEO da companhia no centro da polémica.
Se ainda não se está familiarizado com a notícia, eis um breve contexto. Há menos de um mês, andava Filipe Silva numas luxuosas férias em família pela Ásia, quando a Comissão de Ética e Conduta da Galp Energia recebeu uma denúncia anónima sobre o alegado caso amoroso entre o CEO da empresa e uma diretora de topo, que dependia hierarquicamente deste. A informação entregue à Comissão de Ética estava plena de detalhes, provas e confirmações que não deixavam dúvidas de que não se tratava de um mero rumor e exigia averiguações urgentes, uma vez que violava um dos códigos de conduta da Galp, pois mediante esta situação Filipe Silva seria obrigado a comunicar à empresa o envolvimento, devido à cadeia hierárquica e ao potencial conflito de interesses.
Foi prontamente aberta uma investigação interna e o facto de a notícia ter sido tornada pública pelo Eco apressou medidas duras. Do momento em que as denúncias anónimas foram recebidas até ao dia em que Filipe Silva, de 60 anos, apresentou a sua demissão por "motivos familiares" passaram-se apenas 20 dias, e provavelmente o caso até seria mais célere se o CEO não estivesse do outro lado do mundo, numa viagem de sonho que se transformou num pesadelo.
Ao Eco, dias mais tarde, Filipe Silva responderia ter tido conhecimento da denúncia, não se pronunciando sobre a mesma, garantindo que a iria discutir atempadamente com a Comissão de Ética.
A partir do momento em que o CEO chegou a Portugal tudo se precipitou, com Paula Amorim a mostrar publicamente tolerância zero para a quebra das normas de conduta. "A Presidente do Conselho de Administração reitera o compromisso da Galp no cumprimento do Código de Ética e Conduta, atuando por isso, sempre que aplicável e nos termos das disposições legais e estatutárias", reiterou.
A forte pressão mediática e interna acabaria por levar Filpe Silva, formado em Washington, e que estava há mais de dez anos na petrolífera, a apresentar a demissão devido ao caso que mexeu com a estrutura de topo da Galp. Sobre o assunto, apenas os detalhes institucionais foram discutidos e vieram à tona, nunca tendo sido revelado quer o nome da diretora com quem Silva manteria o caso amoroso, nem quaisquer pormenores sobre a atual situação familiar do gestor de topo, cujo nome do substituto será conhecido nos próximos dias.
Certo é que o caso gerou muita polémica e colocou uma série de questões em cima da mesa. Em primeiro lugar, a forma pronta como foi tratado pela companhia, numa postura semelhante, cada vez mais, à das grandes empresas, que revelam agora mão pesada para casos de assédio e outros romances na estrutura que ponham em causa a idoneidade da mesma.
No entanto, depois de Filipe Silva ter apresentado a demissão outras vozes se insurgiram, questionando o porquê de o caso ter sido exposto publicamente, devido a uma alegada fuga de informação. Segundo a Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal, tudo não passou de "um golpe de teatro".
"De tempos a tempos, a presidente do Conselho de Administração [Paula Amorim] interrompe o seu estado de completa ausência no que à empresa diz respeito para fazer o anúncio da expiração do prazo de mais um presidente da Comissão Executiva e que outro lhe seguirá. Desta vez, não obstante um eventual incumprimento do Código de Ética ser grave, surgiu na comunicação social uma precisa e pouco usual fuga de informação (...) Tudo podia ter sido resolvido no remanso dos gabinetes, como é normal".
Em críticas ferozes a Paula Amorim, a CCT vai mais longe e afirma que não era Filipe Silva quem devia colocar o lugar à disposição. "Quem devia apresentar a demissão é, entre outros, a presidente do Conselho de Administração, Paula Amorim."