Daniela Onís, a cantora do trio ‘Ruge’, brinca com as reações que ouve da boca do público que assiste ao espetáculo. "Muitos espetadores dizem: ‘Ainda bem que não vim ao engano’". A questão coloca-se porque os mentores e criadores do projeto quiseram fazer algo único, sem estilo definido, estereotipado ou sequer, ainda, estereotipável.
Rodrigo Guedes de Carvalho, que no palco despe a farda de jornalista e pivô da SIC e enverga a de poeta e declamador, defende o lado inusitado de um projeto que começou por ser só seu e hoje é dos três, com o músico Rúben Alves a fechar o trio: "Até porque há um momento... Diria que aos dez minutos de jogo, em que as coisas mudam. E de repente, o que vem a seguir torna-se uma atração no espetáculo. E torna-se imprevisível. Não é um poemazinho, uma cançãozinha, uma musiquinha…".
Sendo Rodrigo a figura mais conhecida do trio ‘Ruge’, era inevitável que o questionássemos sobre como gere, ou se gere, essa notoriedade no cartaz. "Não digo que o facto de ser uma figura pública não crie curiosidade. Isso tem lados bons e lados maus. Sempre teve na minha vida. Mas é algo em que eu não penso porque não é para aqui chamado".
"Ser figura pública não é para aqui chamado" O pivô da SIC reconhece que o estatuto de "figura pública" existe "por ter alguma visibilidade enquanto jornalista", mas esclarece tudo, impondo limites: "eu não sou definido pela minha profissão. E provavelmente sou muito mais eu aqui do que na minha profissão".
"Ser figura pública não é para aqui chamado"
O pivô da SIC reconhece que o estatuto de "figura pública" existe "por ter alguma visibilidade enquanto jornalista", mas esclarece tudo, impondo limites: "eu não sou definido pela minha profissão. E provavelmente sou muito mais eu aqui do que na minha profissão".
RODRIGO EXPÕE-SE
"Aqui exponho-me muito. Exponho-me totalmente", assume, ainda que com cautelas, e garantindo ser um desafio, mais um. "Agora não faço isso para desconstruir a minha imagem. A minha imagem de jornalista da SIC é uma coisa e é inabalável e intocável e isto aqui é o Rodrigo Guedes de Carvalho que faz poemas e que chamou uns amigos para os dizer. Arrisco bastante, mas também não teria piada se não fosse assim".
O projeto ‘Ruge’ começou há dois anos, inicialmente apenas na mente de Rodrigo Guedes de Carvalho, o escritor de romances que ama poesia e a escreve. "É um projeto que tinha pensado e que nunca poderia por de pé sozinho e precisava e dois pilares: Um pilar musical, que desde logo foi o Rúben Alves, a partir do momento em que o conheci. E depois precisava de uma voz feminina e acabei por conhecer, em boa hora, a Daniela Onís, através da uma amiga comum, a Sandra Faria".
As premissas de Rodrigo foram claras no seu pensamento desde o primeiro momento: "Queria fazer um primeiro projeto em Portugal de espetáculo que tivesse ‘spoken word’, algo que não existe. Temos declamação de poesia e espetáculos de música. Não temos nada que case as duas coisas. É arriscado fazê-lo, mas achamos que há público e, sobretudo, é material totalmente original: Aqui não há ‘covers’ de canções nem há leitura de poemas alheios. É um trabalho nosso que defendemos em palco". E a autoria dos poemas? Rodrigo esclarece: "São maioritariamente meus".
AMOR E POSITIVIDADE
Questionado sobre o que podemos esperar dos ‘Ruge’, Daniela Onís esclarece: "O espetáculo roda em torno do amor. É sobre o amor e tudo aquilo que o amor provoca. As pessoas identificam-se imenso com tudo o que mostramos. E vamos mostrar desde tristeza, alegria, saudade, amor de mãe, de pai. As pessoas podem sentir tudo o que amor pode gerar", sublinha a atriz, cantora e professora de expressão dramática e interpretação.
E o que sentem os artistas? "Sentimos da plateia uma energia muito positiva. Sentimos que no início as pessoas não sabem muito bem ao que vão. É um espetáculo diferente. Alia a poesia à música e as pessoas ficam a pensar o que vem daqui. Mas, quando começam a perceber, alinham e reagem bem. Temos até alguns comentários simpáticos da parte da plateia. Estamos bastante contentes com o ‘feedback’. No geral, as pessoas saem felizes. Isso temos constatado", garante Daniela.
Durante quase uma hora e um quarto de espetáculo, Rúben Alves toca no seu sintetizador, a música está sempre presente. "Temos composições dos três e temos arranjos feitos em conjunto. Há de tudo e o espetáculo é muito variado em termos musicais. Há todo o tipo de sentimentos e de reações e há todo o tipo de ritmos e de canções diferentes: cantadas, instrumentais, há momentos de música por baixo de voz fala e voz cantada", refere o músico e compositor.
O QUE ESPERAR?
E para que ninguém sinta que vai ao engano, sem estragar a surpresa, claro, dizemos o que é, afinal, o ‘Ruge’. "Tem mais imaginário de musical e tem um imaginário cinematográfico, de banda sonora de filme. Tem Michael Nyman (compositor minimalista). Tem para o final José Mário Branco. Há coisas muito portuguesas e coisas muito universais. As canções não são quadradinhas de pop ou de rock", informa Rodrigo Guedes de Carvalho, revelando o que interessa: "A nós, o género não nos interessa, interessa-nos o que soa bem e o que vai bem com as palavras. Neste espetáculo as palavras não são um mero verbo de encher. Nas canções são mesmo a espinha dorsal".
E deixa uma ambição: "Gostava de iniciar um tipo diferente de espetáculo - O tipo ´'Ruge'".
