Visto aos dias de hoje, o que Pinto da Costa escreveu no seu livro 'Azul Até ao Fim' soa quase a profecia. "Neste momento, duas preocupações enchem a minha cabeça e o meu coração. Na minha falta, como será o relacionamento dos meus filhos? Como se vão entender na divisão dos meus bens? Já lhes lembrei o que a minha querida Mãe nos dizia, a mim e aos meus irmãos: 'Entendam-se, senão metade do que vos deixo será para os Tribunais e advogados. Sábias palavras, que todos seguimos, e tudo dividimos sem o mínimo atrito".
Ora, se também leram estas palavras, não se pode dizer propriamente que os filhos a tenham assimilado, uma vez que desde que foi aberto o testamento que estoirou a polémica na família, que agora conhece novos desenvolvimentos, depois de Alexandre Pinto da Costa, o mais velho dos filhos do portista, ter dado entrada com duas ações contra Cláudia Campo em tribunal. Na primeira, reclama 3,69 milhões de euros à última mulher do pai e na segunda diz que ela delapidou a herança do pai, que no momento final, se revelou como um cofre vazio, uma vez que da lista de bens para partilhas apenas restava um T1.
Depois disso, ficou também a saber-se, noticiado pelo Correio da Manhã, que o luxuoso T3 onde Pinto da Costa vivia na zona das Antas, tinha sido vendido em vida a Cláudia, desconhecendo-se por que valor, bem como as ações do FC Porto que o ex-presidente detinha. Também em relação aos milhares de euros decorrentes dessa transação não há sinal do paradeiro. Há ainda peças de museu que desapareceram e outros bens patrimoniais aos quais Alexandre tenta agora seguir o rasto, prometendo mão pesada para a madrasta, o que leva à seguinte questão. Qual é, afinal, o papel de Cláudia Campo em toda esta história e que posição desempenhou na vida de Pinto da Costa?
A bancária esteve ao lado do antigo líder azul e branco nos últimos oito anos, e sempre foi descrita como tendo um perfil muito discreto e diferente da maioria das namoradas ou mulheres por quem Pinto da Costa se apaixonava. Avessa a confusões, preferiu sempre a sombra ao estrelato e apareceu em muito poucas ocasiões. No entanto, quando o portista saiu cabisbaixo do Dragão, na derrota mais pesada da sua vida que lhe 'roubaria' a presidência, era Cláudia que estava a seu lado. E quando, nos meses seguintes, ficou a saber que nada havia que pudesse fazer para combater o cancro, foi a bancária que o tirou de casa, que o levou aos fados, a passar fins de semana no Algarve, assumindo também o difícil papel de cuidadora na doença. "A Cláudia tem sido um exemplo, de uma companheira", descreveria Fernando Póvoas, na altura, sobre o apoio da bancária, de 48 anos, sobre quem o filho mais velho de Pinto da Costa direciona agora todos os holofotes.
A viúva goza, aliás, de excelente reputação entre a maioria dos amigos de Pinto da Costa. Descrita como "discreta, afável e correta", ninguém acredita que, por livre vontade, tenha "desviado o que quer que seja". "O que quer que a Cláudia tenha feito, foi sempre por vontade de Pinto da Costa. Ele estava doente, sim, mas muito lúcido e soube exatamente o que queria fazer com a sua herança. A Cláudia não o manipulou, somente esteve a seu lado e o apoiou nas decisões que tomou", diz uma fonte, acrescentando que, apesar de a filha de Pinto da Costa, Joana, aparecer como parte interessada nos processos movidos por Alexandre, a verdade é que mantém uma excelente relação com a 'madrasta', e estará a par de tudo o que foi decidido pelo pai em relação ao património.
Mas se grande parte dos amigos sai em defesa de Cláudia, o mesmo não se pode dizer em relação ao filho, Alexandre, cuja relação com o pai ficou marcada por muitas zangas, segundo estes motivadas sempre por questões de dinheiro. Nos últimos dois anos e meio, pai e filho estavam, aliás, de relações cortadas, apenas tendo feito as pazes meses antes da morte do portista. Um desentendimento descrito pelo antigo dirigente no seu livro com mágoa profunda.
"Por discrepâncias com o meu filho Alexandre, não passámos o Natal em conjunto com os restantes familiares, nem sequer nos encontrámos. TRISTE. Por essas ausências senti-me triste", escreveu sobre o Natal de 2023", reforçando, mais tarde, essa ideia. "O Natal deste ano foi muito triste para mim porque faltou o meu filho, que por motivos de 'lana-caprina' (insignificância) se afastou de mim. Foi uma mágoa sempre presente".
Recentemente, Alexandre comentaria esse mesmo desentendimento dando conta que esteve sempre ao lado do pai quando este precisou e não deixando de apontar o dedo a algumas pessoas. "Nunca foi o dinheiro ou os bens materiais que me moveram no apoio que dei ao meu pai nos momentos em que ele mais precisou de mim enquanto filho. Não foi o dinheiro ou os bens materiais que me moveram nos desacordos que tive com o presidente do FC Porto por ele estar tão mal acompanhado nos últimos anos da sua presidência", disse, na mesma ocasião em que afirmou que iria doar o espólio que recebesse relacionado com o clube ao FC Porto, o mesmo que entretanto, terá desaparecido, estando em parte incerta.
Pinto da Costa e Alexandre, recorde-se, já tinham estado zangados no passado por questões relacionadas com negócios relativos transferência de jogadores do FC Porto. Depois de dez anos de costas voltadas acabariam por fazer as pazes quando Alexandre viveu um período difícil de saúde, sendo diagnosticado com cancro no pulmão. Agora, foi também a doença, do pai, que os uniu nos meses antes da sua morte.
