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Todos os nomes: a história da SIC e os "pontos nos is" com quem a fez e a tentou destruir, segundo Francisco Pinto Balsemão

Num capítulo dedicado à SIC no seu livro 'Memórias', o seu fundador não deixa nada por dizer sobre as personagens que fazem parte da história do canal. De Rangel a Bárbara Guimarães, de Daniel Oliveira a Maria Elisa Domingues e a Cristina Ferreira, o seu papel é revelado, nem que seja como traidores.
Luísa Jeremias
Luísa Jeremias
24 de setembro de 2021 às 00:09
Cristina Ferreira e Francisco Pinto Balsemão
Cristina Ferreira e Francisco Pinto Balsemão Foto: dr

A história da SIC é dos mais apetitosos capítulos do livro de memórias de Francisco Pinto Balsemão, apresentado oficialmente esta semana, já nas livrarias e com a primeira ediçãoe sgotada num abrir e fechar de olhos. Não é de admirar. O autor e patrão da primeira estação privada nacional recorda como todo o processo de criação aconteceu, como a SIC cresceu, as adversidades, as manobras de bastidores, as histórias com as personagens que ali se tornaram conhecidas do grande público - ou, pelo menos, ganharam outra dimensão. 

Negócio à parte - as relações com os parceirios, da Globo a Joe Berardo ou Jacques Rodrigues, dariam para escrever outra longa proza - centremo-nos nos rostos do pequeno ecrã e naqueles que, ainda hoje, ajudam a SIC e florescer a gosto do seu criador. 

Em 'Memórias', Balsemão diz não acertar contas com ninguém mas a verdade é que também não deixa nada por dizer, fazendo-o sempre com a sobriedade, a educação e o bom senso que lhe são apanágio. Até com quem quese destruiu um projeto. 

O que se segue são as suas próprias palavras sobre os muitos profissionais com os quais se cruzou, dos de topo, aos "rostos". 

Afinal são muitas aventuras de quase 30 anos, vitórias, derrotas, arrelias, celebrações. Com nomes. 

Cabe ao leitor analisar e tirar as suas próprias conclusões. 

DE MARIA ELISA A EMÍDIO RANGEL: O ARRANQUE E AS (MÁS) SURPRESAS

Maria Elisa: "Começou a faltar, a ter de ir ao médico, ao dentista, etc., e eu percebi logo que algo estranho se passava (...) Um dia, em junho de 1992 (...) pede para falar comigo e diz-me que não quer continuar. Deu-me umas desculpas esfarrapadas de saúde, misturadas com queixas (...) E foi-se embora. Curiosamente para voltar diretamente para a RTP".

Emídio Rangel e Francisco Pinto Balsemão
Emídio Rangel e Francisco Pinto Balsemão

Emídio Rangel: [com a saída de Maria Elisa] (...) "Cheguei à conclusão de que, naquela situação de emergência, o melhor era pedir a Emídio Rangel para acomular (...) Falei com Rangel que era um homem de decisões rápidas, por vezes demasiado rápidas, e aceitou mediante o aumento do ordenado, o que era justo (e, em qualquer caso, era menos do que ganhava Maria Elisa Domingues)". 

"Quanto à grelha foi mais complicado. Rangel estava muito embalado pelo êxito da SIC e tendia a considerar-se infalível, para não dizer detentor da verdade única e absoluta.

De vez em quando era indispensável fazê-lo baixar à terra (...)"

"Tive pena que as minhas relações com Emídio Rangel se tivesse deteriorado. Com o andar dos tempos habituei-me, no entanto, a verificar que muitas pessoas que comigo trabalham e com quem julgava ter criado laços pessoais de comunicação e mesmo de alguma amizade, mudam de atitude, do dia para a noite, em 24 horas, quando deixam de trabalhar comigo. (...) Já mencionei a necessidade freudiana de 'matar o pai' mas não sei se isso explica tudo."

A questão Big Brother: "O Big Brother representava tudo aquilo que eu detestava em televisão. (...) A minha primeira reação foi de rejeição (...) Era óbvio que a hipótese Big Brother também não interessava a Emídio Rangel. temendo pelo êxito do novo formato veio, no entanto, propor uma solução salomónica: comprávamos o formato e não o transmitíamos. Essa hipotese não era, evidentemente, exequível, porque o preço pedido pela Endemol era elevadíssimo (...)

"Com o Big Brother começou um certo descontrole por parte de Emídio Rangel (...). "

"No final de 2001, os programas em stock, muitos deles por estrear por falta de qualidade, totalizavam 19 mihões de contos (95 milhões de euros). (...) A saida de Rangel tornou-se, assim inevitável. Pecou por ter sido desnecessariamente arrastada(...)"

OS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: OS "SÉRIOS" E AS DESILUSÕES  

Gualdino Paredes: que era para ser o n.º 2 de Rangel na Informação mas se deixou, de certa forma, manietar.

Alcides Vieira: acabou por ser o verdadero chefe de redação, no dia a dia, com bastate autonomia e levando a água ao seu moinho sem quase nunca levantar ondas. É das pessoas que melhor sabe pensar televisão em Portugal (...) continua a colaborar connosco com bastante regularidade. 

Margarida Marante: "Na altura [início da SIC Notícias] houve muita discussão, por vezes desabrida e fora dos limites, na qual Margarida Marante, que vivia com Rangel há alguns anos, teve um papel incendiário"

Ricardo Costa: "Tenho por ele uma elevada consideração pessoal e profissional. Arranja sempre tempo para tudo, pensa bem e não tem medo quando é preciso atuar. Não esqueço (...) que por duas vezes pôs o lugar à disposição: uma, em 2014, quando o meio irmão, António (...) ascendeu a secretário-geral do PS, e mais tarde, em 2016, foi indigitado primeiro-ministro."

José Alberto Carvalho: "(...) horas antes, e na sequência de uma conversa na véspera, em minha casa, me assegurou, no meu gabinete da SIC, 'olhos nos olhos', como eu lhe disse e ele repetiu, que não sairia" [com Rangel para a RTP].

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A despedida emocionante de José Alberto Carvalho, que está de luto

Pedro Mourinho: foi-se embora sem se dignar a deixar-me sequer um mail de despedida. 

AS ESTRELAS DO ENTRETENIMENTO

Catarina Furtado: A grande projeção de Catarina em Portugal deveu-se, sem dúvida, ao programa Chuva de Estrelas. Quando, para ir estudar para Londres, passou o testemunho a Bárbara Guimarães, nunca mais conseguimos, no regresso, encontrar-lhe um formato onde obtivesse tanto êxito (...) Quando saiu tive penam mas estava determinada a procurar novos caminhos que, em minha opinião, não encontrou, mas ela saberá melhor".  

Bárbara Guimarães: "Com quem mantenho boas relações pessoais (fui, aliás, testemunha de um dos processos que ela moveu contra o ex-marido, Manuel Maria Carrilho, na sequência de um casamento e de uma separação, recheadas de peripécias desagradáveis e de maus-tratos, como já foi reconhecido em tribunal, e que a prejudicaram na vida pessoal e na carreira) (...)

Balsemão e Tita com Herman José no Café Café em 2003
Balsemão e Tita com Herman José no Café Café em 2003

Herman José: "Arrastou-se durante demasiado tempo, com consequências lastimáveis para a SIC, mas também para mim, que mantinha com ele relações amigáveis que incluíam vir à nossa casa e nós a casa ou ao barco ou ao restaurante dele". 

Alexandra Lencastre: "Nem tudo correu bem (...). Um dos exemplos foi o do programa 'Na Cama Com..." A dona da cama era a belíssima Alexandra Lencastre, o cenário era à meia-luz, os lençóis de seda. Só que (...) as conversas com os convidados acabavam por ser conversas que se poderiam ter à mesa do café... os espetadores sentiram-se enganados e (...) mudam de canal"

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Herman José recorda momento em que Alexandra Lencastre mostrou quase tudo em palco... por culpa dele

Fernando Rocha: "(...) cuja magnífica e maravilhosa utilização do vernáculo foi uma 'cantiga de escárnio e maldizer, que encantou uns, chocou outros, mas que era firme referência das massas estudis". 

OS PARCEIROS DAS NOVELAS:  

Teresa Guilherme: "A associação que começara bem, com a 'Floribela' e se deteriorou quando, em junho de 2007, constituímos a produtora TDN - Terra do Nunca Produções. (...) As relações com a nossa sócia tornaram-se insuportáveis e resolvemos separar-nos dela". 

António Parente: "É um bom homem de negócios, que fez carreira por si próprio (...) Tenho aprendido bastante com ele e é com prazer que anualmente o visito na Golegã, por ocasião do S. Martinho, e passeamos pela feira no break pixado por dois magníficos cavalos, que ele conduz com mestria e orgulho. 

OS CASOS DANIEL OLIVEIRA E CRISTINA FERREIRA: COMO CHEGARAM AOS CARGOS E O QUE OS DEFINE     

Daniel Oliveira: "Tem revelado ser competente e calmo em todas as áreas". (...) "É dos que responde rapidamente aos e-mails, consegue trabalhar e comunicar bem com outras áreas da Impresa e é um perito na utilização, a seu favor, das redes sociais. Digo-lhe, frequentemente: "Não deixe que isso lhe suba à cabeça!" Ele, que além de inteligente é sensato, garante-me que não deixará"

 

A passagem a diretor de Programas de Daniel Oliveira: "A direção de Programas (agora, de Entretenimento) não estava a funcionar bem. As audiências do prime time eram más ou insuficientes. O esquema bicéfalo Luís Proença/Gabriela Sobral - ou tricéfalo, se acrescentarmos Júlia Pinheiro, era algo paralisante. Daniel Oliveira era subdiretor, nessa Direção, mas não lhe davam poder nem sequer voto nas matérias mais relevantes. Eu já apostava nele e, por vezes com conhecimento do Francisco Pedro, claro, fazia curto circuito nas hirarquias e pedia-lhe diariamente opiniões ou relatórios (não foi por acaso que, em 1 de setembro de 2017, o convidei e à sua simpática mulher e excelente apresentadora, Andreia Rodrigues, para o jantar dos meus 80 anos)."

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Veja as imagens do dia mais emocionante da vida de Andreia Rodrigues e Daniel Oliveira!

Cristina Ferreira: "A sofreguidão de protagonismo de Cristina acabará por prejudicá-la" (...) "É uma profissional que não deixa nada ao acaso, sabe o que quer e consegue atrair desde o Presidente da República aos pastores da Malveira. Gosta de gastar dinheiro e, por isso e para isso, criou uma marca e uma fábrica de produção que procura cuidar bem. (...)"

"(...) Penso que é mais um caso em que a fama e o prestígio lhe subiram à cabeça (ao ponto de acreditar que pode candidatar-se à Presidência da República...). Veremos como, entretanto, se desenvencilha da luta pelo poder em curso na TVI."  

A "verdade" de Balsemão sobre a contratação (e a saída): "Recuperação da SIC e luta pelo primeiro lugar nas audiências começou em 2018 e aconteceu em 2019. Já estava claramente em curso (...) quando da contratação de Cristina Ferreira. (...)"

"A contratação, em agosto de 2018, de Cristina Ferreira, na qual Daniel Oliveira esteve logicamente envolvido, mas que numa primeira fase passou, do nosso lado, essencialmente por Francisco Pedro, foi naquela altura uma excelente aquisição para a SIC."

(...) "Eu não a conhecia e, trazida pelo Francisco Pedro, veio visitar-me à sede oficial da Impresa, na rua Ribeiro Sanches [à Lapa] que, entre outra vantagens, é um local ideal para quem queira encontros sem fotógrafos nem jornalistas. Fiquei surpreendido e chocado quando em junho de 2020 ela veio anunciar que saía da SIC e voltava para a TVI. E mais chocado fiquei quando soube que, antes de anunciar a saída, ela já andava a recrutar pessoas para as levar para Queluz de Baixo.

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