
Donald Trump está a enfrentar uma avalanche de investigações em todas as áreas que ele gosta de se vangloriar: nos negócios a sua empresa foi condenada por fraude, na política é investigado por alegadamente tentar reverter os resultados das eleições de 2020, por supostamente incitar a multidão que invadiu o capitólio a 6 de janeiro de 2021, e por ter escondido documentos da Casa Branca na sua mansão da Florida. E nas relações com as mulheres não param de vir à tona novas acusações de assédio sexual. Mas agora o ex-presidente dos Estados Unidos é oficialmente um "predador sexual".Depois de anos a vermos acusações de mulheres que apontaram as agressões de Donald Trump - e até de uma gravação em que ele admite ter sido agressor -, a escritora E. Jean Carroll, ex-colunista da Elle, é a primeira a cantar vitória entre mais de 20 mulheres que vieram a público. O ex-presidente dos EUA foi condenado terça-feira, 9, por abusar sexualmente a escritora no provador de uma loja de Nova Iorque e também de a difamar quando ela revelou em público que tinha sido vítima de Trump.No seu depoimento, Carroll disse ter sido violada por Trump, mas o júri constatou o abuso sexual, considerando que o ex-presidente submeteu-a a contato sexual sem consentimento pelo uso da força e que foi com o propósito de gratificação sexual.
O principal candidato presidencial do Partido Republicano foi condenado a pagar cinco milhões de dólares, condenação que ele vai recorrer. "Não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem é essa mulher. O veredicto é uma vergonha, uma continuação da maior caça às bruxas de todos os tempos", respondeu na sua plataforma Truth Social."Estou muito feliz, cheia de alegria, felicidade e prazer pelas mulheres deste país", reagiu Carroll, citada pela 'People'. "Ele foi considerado responsável por uma acusação muito grave [...] Eu nem ouvi o dinheiro. Não se trata de dinheiro. Trata-se de recuperar o meu nome."
E. Jean Carroll é uma das mais de 20 mulheres que vieram a público denunciar alegados crimes de Trump, mas nem todo escrutínio em cima do ex-presidente e pela terceira vez candidato presidencial parecem ter feito Trump mudar as suas atitudes.
Esta semana, a ex-diretora de Comunicações Estratégicas da Casa Branca Alyssa Farah Griffin fez novas denúncias contra o seu antigo patrão. Em declarações à 'CNN', a antiga funcionária da presidência confessou que tem "inúmeras histórias" de comportamentos perigosos de Trump.
Alyssa Farah Griffin former Trump White House Communications Director says she brought to Mark Meadows countless incidents of Trump towards Women.pic.twitter.com/kJRJRXEkSE
— ??? ?? ? (@_MarcusD3_) May 9, 2023
"Você levou a Mark Meadows, o chefe de gabinete, ou a outros chefes de gabinete, incidentes que testemunhou de Donald Trump a comportar-se de forma inadequada com as mulheres?", perguntou o jornalista.
"Levei, tal como a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Stephanie Grisham e outros", garantiu Farah Griffin. "Nada no nível do que aconteceu [com E. Jean Carroll], mas coisas que eu consideraria impróprias e que eu tinha o dever de relatar."
More on this:pic.twitter.com/gchjvT3QKT
— ??? ?? ? (@_MarcusD3_) May 9, 2023
Stephanie Grisham foi mais longe nas suas declarações, também esta semana, na CNN. "Havia uma funcionária específica que [Trump] pedia sempre que viajasse quando não era a vez dela. Uma vez, ele fez um dos meus assistentes levá-la novamente só para que pudesse 'olhar para o seu rabo'. É o que ele disse ao assistente. Escrevi isto no meu livro, não é nada de novo, para mim, dizer isto publicamente. Sentei e falei com ela, perguntei-lhe se estava desconfortável. Tentei tudo o que pude para garantir que ela não era deixada sozinha com ele. Levei isto a alguns diretores diferentes, incluindo Mark Meadows. No final, o que eles podiam fazer além de ir lá e dizer: 'Isto não é bom, senhor'? Donald Trump faz o que Donald Trump quer fazer. E estás a lidar com o presidente dos EUA, não há um grupo de Recursos Humanos ou um representante para dirigir-se, para falar destas coisas".
A ex-secretária de imprensa acrescentou que o caso "com esta funcionária foi muito mau". "A ponto de deixar-me extremamente desconfortável. Todos os membros seniores da equipa sabiam disso, acontecia muito com ela. Na verdade, fiz tudo o que pude para mantê-la fora das viagens e ficar com ela, se estivesse sozinha, porque estava muito preocupada com o que podia acontecer".
As novas acusações aconteceram logo depois que foi tornada pública a condenação de Trump no caso de Carroll. E quais foram as reações após a decisão do júri? O advogado conservador e forte crítico do ex-presidente disse logo no Twitter: "Deus abençoe E. Jean Carroll e parabéns a Roberta Kaplan [advogada da acusação], e a sua equipa, pelo bom trabalho que fizeram".
Mas nem todas as reações foram neste sentido. O senador republicano Marco Rubio declarou que "todo o caso é uma piada". Outro senador da mesma bancada, Tommy Tuberville, comentou que o resultado o "faz querer votar nele duas vezes".
NORMALIZAÇÃO DE ESCÂNDALOS
Nem uma condenação parece abalar Donald Trump e as suas perspetivas para chegar às eleições de 2024 como candidato do Partido Republicano. O correspondente em Washington do 'Guardian', David Smith, escreve numa análise esta semana que "como as mortes na estrada e, em menor escalada, as mortes por armas de fogo, a sua máquina perpétua de escândalos normalizou-se, a sua habilidade peculiar e estranha de enfrentar controvérsias que derrubariam outros políticos agora é um dado adquirido".
Trump esteve esta quarta-feira, 10, na CNN, no programa 'Live Town Hall', para uma entrevista em que culpou a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, pela invasão ao capitólio, disse que podia perdoar a maioria dos invasores, referiu a sua amizade com Putin, e celebrou "uma grande vitória" na reversão da lei do aborto nos EUA - que retirou o direito das mulheres de decidir.
Perante todas as declarações, a plateia simpática a Trump aplaudia e sorria às suas declarações, algumas das quais comprovadamente 'fake news'.