
É benfiquista desde pequenino e, quando treinava na formação dos encarnados, sonhar vestir a camisola da equipa principal com o Estádio da Luz cheio. O desejo de João Pereira acabaria por se concretizar, mas não foi o Benfica que lhe trouxe as maiores felicidades na carreira. "Cumpri um sonho de criança. Porque tu começas a alimentar esse sonho quando vês os jogadores na televisão: 'Ei, quem me dera!'. Fui muitas vezes apanha bolas. Muitas vezes. Nos 13 anos em que estive no Benfica, para aí em cinco, seis anos fui apanha bolas. Queria sempre ser apanha bolas para estar perto dos meus ídolos, poder conviver nem que fosse só um bocadinho com eles. E de repente estou na primeira equipa do Benfica. Eu sei que há muitas pessoas que pensam que eu joguei pouco mas se forem confirmar eu fiz muitos jogos", já partilhou aquele que já é dado como certo como o eleito de Frederico Varandas para suceder a Rúben Amorim, que está a caminho do Manchester United, depois de os ingleses terem acordado pagar a cláusula de 10 milhões de euros.
Apesar da paixão pelo Benfica, acabaria por aprender a amar os rivais quando se mudou para o Sporting, naqueles que se tornariam nos anos mais felizes da sua carreira. "Eu vou dizer que chorei muitas vezes quando o Benfica perdia com o Sporting e era gozado pelos meus colegas na escola. Joguei 13 anos no Benfica e ia estar a ser hipócrita dizer que era do Sporting desde pequenino, porque não sou. Aprendi a gostar do Sporting", diz, acrescentando que o foi melhor tratado nos leões, que agora lhe estendem a passadeira vermelha para a equipa principal, depois de se ter destacado a treinar a equipa B do clube.
Ao longo da sua carreira como jogador, João Pereira, atualmente com 40 anos, acabaria por se cruzar com muitos rostos do mundo do futebol e, curiosamente, Rúben Amorim é dos que conhece desde a mais tenra idade. Em miúdos, jogaram muitas partidas juntos e o futuro treinador do Manchester já brincou ao afirmar que o colega tem aquilo que define como uma espécie de dupla personalidade.
"O João Pereira fora de campo é um paz de alma, dentro de campo é um mete nojo. Eu conheço o João Pereira desde miúdo. Eu zangava-me com João Pereira no campo de quase andarmos à porrada. Ele sai do campo e se for preciso espera por ti no túnel e diz: 'então mano, como é que estás?' Parece que tem dupla personalidade", já afirmou Rúben Amorim.
E, de facto, são conhecidas as explosões no relvado de João Pereira que quando perde as estribeiras, leva tudo à frente. Em 2021, o defesa não gostou de ter sido expulso contra o Tondela e não calou a sua revolta, insultando o árbitro assistente e o quarto árbitro. "Vão para o c..., vão se f...!", disse em alto e bom som, acabando por ser suspenso e multado por injúrias.
O APOIO INCONDICIONAL DE NATACHA, A MULHER DA SUA VIDA
Na vida pessoal, não se conhecem mais namoradas a João Pereira do que Natacha Esmail. Os dois já namoravam há cerca de seis anos quando decidiram trocar alianças e fizeram-no em duas cerimónias distintas, e repletas de luxo: uma hindu, devido à origem da noiva, e outra tipicamente portuguesa.
Nas redes sociais, esses e outros momentos felizes são partilhados desde então, como o nascimento dos dois filhos: Gabriel e Daniel, ainda que nem tudo tenha sempre sido um mar de rosas. Um dos momentos mais complicados vivido pelo casal aconteceu pouco depois do nascimento do segundo bebé, que teve de ficar internado apenas dez dias após o parto, devido a uma infeção respiratória.
"Passei os últimos oito dias no hospital com o meu bebé internado. Um filme de terror que nenhuma mãe devia passar. Ninguém imagina um pós parto assim. Ninguém acha que 10 dias depois de dar à luz e sair da maternidade com um bebe cheio de saúde, vá voltar para o hospital com um bebe a sofrer por infeção respiratória. Experienciei episódios terríveis, que quero apagar da minha memória para sempre", começou por escrever.
"No fim de tudo o que levo é uma gratidão imensa. Por um sistema nacional de saúde que funciona com profissionais incríveis, prestáveis, responsáveis, lotados de trabalho mas sempre com um sorriso na cara e uma mão amiga para nos tranquilizar. Por uma família incansável que não me deixou comer uma única refeição de hospital (entre outras mil coisas) e pelo Pai incrível que escolhi para os meus filhos. Que equipa de sonho que somos! Manobras e desvios para não deixarmos nunca nenhum dos nossos bebés sozinhos, para que a rotina do nosso Gabriel não fosse afetada, para que ele não se apercebesse muito do que se passava e pudesse continuar a ser o bebé feliz que sempre foi", partilhou em 2021, mostrando o orgulho que sentia na sua família.
João Pereira também retribui os mimos e admite que a mulher foi quem não o deixou cair nos três momentos delicados da sua carreira: nas saídas do Valência, Hanonver e, por último, no trabzonspor, na Turquia, quando sentiu que lhe estavam a puxar o tapete. "De um momento para o outro, fui proibido de treinar com os meus companheiros, de frequentar o clube e de me despedir dos meus colegas de equipa, e sem que me fosse dada nenhuma razão para isso. Encontrei-me numa situação de rescisão, aos 36 anos, e sem saber o que era o futuro. A minha mulher apanhou essas fases complicadas e esteve lá para mim", admitiu em conversa com o site 'Zero Zero'.
Apesar do apoio, nem todas as decisões foram tão aplaudidas por Natacha, que já tinha feito uma espécie de acordo com João Pereira: quando terminasse a carreira como jogador, iam começar a aproveitar a vida familiar, estabilizar sem andar com a casa às costas e dar também mais rotinas aos dois filhos. Só que tal não aconteceu e quando o Sporting o convidou para treinar a equipa B, a companheira do antigo jogador zangou-se.
"Fiquei chateada. O João dizia sempre que quando acabasse a carreira queria ser treinador, mas eu perguntava sempre: quando é que vamos assentar, ter bebés, ficar sempre no mesmo país...", conta, acrescentando que, mais tarde, acabaria por dar razão ao marido. "Depois percebi que ele tinha muito potencial como treinador e que era um desperdício se ele não o fosse. Depois, foi ao contrário, comecei a dar-lhe livros de liderança, a incentivá-lo a fazer cursos de inglês", já partilhou Natacha, numa versão corroborada por João Pereira.