
Para grande parte das figuras públicas, o jogo faz-se nos seguintes termos: partilha-se as fotografias mais pessoais quando até há alguma marca disposta a pagar por esse conteúdo, vemos-lhe os filhos de trás para a frente em dias infindáveis de férias, os hotéis de luxo onde ficam hospedados, o namorado no ginásio, mas no momento em que uma polémica estoira, há um semblante indignado quando respondem aos jornalistas: "Não vou comentar, não sabem que eu não falo da minha vida privada?", construindo, depois, a narrativa da vitimização face ao comportamento dos meios de comunicação social, "que andam sempre a escarafunchar a ferida" - que eles próprios abriram, entenda-se.
Os dois pesos e duas medidas são comuns a grande parte das celebridades que cá andam, numa espécie de desmemoriamento coletivo que tem muito poucas e elegantes exceções. Façam o exercício: pensem em alguém a quem nunca viram a cara dos filhos, que nunca mostrou uma divisão da casa a pretexto de receber um sofá à borla, que não partilha fotos a jantar num restaurante de chef e o identifica para fintar a conta ou que não faz as férias pela agência 'x' e as mostra numa espécie de diário de bordo, desde o momento em que acorda, ainda de remelas nos olhos, até ao boa noite final?
Catarina Furtado é uma dessas raras exceções. Aos 52 anos, sabe 'andar nisto', no compromisso perfeito entre ter consciência de que é conhecida em todo o Portugal e tem de satisfazer algumas das curiosidades dos fãs, mas ao mesmo tempo ergue muros para garantir que os dois filhos, em comum com João Reis, não andam na rua com dedos apontados de quem os reconheceu só por os ver nas stories de Instagram.
No amor, é a mesma coisa. Foram-lhe conhecidos dois amores 'a sério' apenas: o músico João Gil - com quem chegou a assinar a música 'Solta-se o Beijo', cantada por Nuno Guerreiro e Sara Tavares (ambos já desaparecidos) e para a qual escreveu a letra - e o ator João Reis. Durante o longo casamento com este último, de quem tem dois filhos, Maria Beatriz e João Maria, de 19 e 17 anos respetivamente, e devido ao facto de serem ambos figuras públicas, vimos, a espaços, alguns momentos românticos partilhados pelo casal, mas sem cansar e, talvez por isso, o divórcio tenha sido notícia de forma tão leve como o que ficou para trás: sem polémicas e guerras à mistura. Ou pelo menos, se as houve, só eles as conhecerão, na sabedoria de quem tem consciência de que, neste meio, até saber o que se partilha e com que amigos é uma virtude.
Note-se que Catarina nunca mostrou os filhos, nem estes foram fotografados por paparazzi, o que demonstra sabedoria na gestão da sua vida e na relação com a imprensa que sempre respeitou a sua privacidade. Porquê? Porque a apresentadora nunca usou a "moeda de troca" antes mencionada nem escancarou portas da vida íntima, limitando o seu percurso público à vida profissional e curtos apontamentos privados, sempre contextualizados. Ou seja, são conhecidas as suas rotinas bem como o bairro de elite onde mora, mas as mesmas nunca foram invadidas e muito menos devassadas.
Nos últimos dias, Catarina voltou ao 'jogo' de entreabrir um pouco a privacidade, sem que de facto a escancarasse. Num podcast, admitiu estar apaixonada, ou "com o coração quentinho", pedindo desculpa por não revelar a identidade do novo amor, os fãs também não lhe exigem mais, sabem que esta é a Catarina de que gostam, a mesma que, apesar dos convites, se tem mantido sempre no mesmo canal, a que tem feito um percurso solidário paralelo, consciente de que as figuras públicas têm também uma missão social.
Na sua conta de Instagram, onde tem mais de 800 mil seguidores, não se fala, no entanto, só de trabalho. Ainda há poucos dias, a vimos em Mykonos, na Grécia, a anunciar que estava de férias com os filhos, mas só ela aparecia nas fotografias, fresca, leve, aos 52 anos, a fazer os fãs implorarem pelo segredo do elixir da juventude. Há quem diga que está na forma descomplicada como gere a vida pública, longe das arrelias das grandes polémicas, que ficam confinadas às paredes da sua casa.