
Em tempos, quando se olhava para o mapa de Lisboa, a zona oriental surgia ali como um ponto desgarrado que, sim, era dentro da cidade, mas não dentro o suficiente para se querer lá estar, até porque os eventuais pontos de interesse estavam como que descurados.
Ao longo dos últimos anos, toda aquela zona entre Beato e Marvila sofreu uma profunda restruturação. Os históricos edifícios antigos começaram a ser restaurados, as casas foram mudando de dono e adapatarm-se a outros tempos e grão a grão foi-se edificando aquilo que é agora o spot mais alternativo da capital, onde o lado artístico ganha terreno através de projetos inovadores e conceitos diferentes.
Em outubro, o Hub Criativo do Beato será, por dois dias, o palco do Tribeca Festival (festival de cinema internacional), estabelecendo-se ainda mais como a sede do empreendedorismo em Portugal. O espaço, que Carlos Moedas pretende que seja como que a nova Fábrica de Unicórnios do nosso país.
Mas a verdade é que não faltam razões para permanecer naquela que outrora foi uma zona quase negligenciada de Lisboa. A Fábrica do Braço de Prata, que funciona como um centro cultural na cidade, dá espaço a encontros artísticos, novas vozes da música e literatura, num roteiro alternativo às sugestões mais convencionais.
Esta é, aliás, uma lógica muito própria do Beatro, que em tempos foi conhecida pelas suas fábricas, que agora foram aproveitadas com pinta e respeito pelo passado para criar novos conceitos artísticos e de negócios.
O Marvila 8 é um dos mais recentes exemplos desse twist. Os antigos Armazéns Abel Pereira da Fonseca foram renovados q.b. para dar origem a um novo spot da moda. E quando dizemos renovados q.b. é mesmo assim, porque aqui o entulho foi aproveitado para fazer parte da decoração, as paredes foram deixadas meio em bruto e o resultado é o espaço de antigas adegas reaproveitado para lojas invulgares, galerias de arte e onde podemos encontrar quase tudo exceto aquilo que os centros comerciais convencionais têm.
Depois, há restaurantes, petiscos e novos sabores para provar, tudo debaixo dos tetos altos e com muitas plantas pelo meio para criar aquele ambiente metade rústico, metade jungle, que cativa cada vez mais seguidores.
É, por isso, seguro dizer que a parte Oriental de Lisboa renasce agora com muito bom gosto, estilo, mas sem nunca se desviar de uma linha de respeito pela Lisboa menina e moça que outrora ocupou aquele espaço, tornando-se quase como num exemplo de integridade que nem sempre vemos em todos os pontos da cidade.
Por lá há ainda as fábricas da Dois Corvos e da Musa, duas cervejas artesanais com assinatura portuguesa, que se têm destacado cada vez mais, o Clube Ferroviário de Lisboa e monumentos escondidos ao virar de cada esquina como o Palácio da Mitra - que já chegou a receber a ModaLisboa - e que mostram como no Beato a Cultura e a inovação andam felizes, e de braço dado.