
À medida que o outono se instala, a paisagem ganha também características próprias. Não são apenas os tons alaranjados das folhas caducas, que passam a atapetar o chão, ou o sol que se põe mais cedo, envolvendo as cidades numa penumbra precoce. Nas ruas, há um cheirinho que nos envolve em determinadas partes da cidade e que nos faz imediatamente identificar a estação do ano. É outono, logo cheira a castanhas assadas.
Em Lisboa, há muitos e bons assadores de castanhas, tanto que já se tornaram quase uma instituição na cidade, onde não procuramos apenas a iguaria, mas sim, aquela pessoa específica que assa as melhores.
A Baixa lisboeta é onde mora grande parte da tradição. Na Rua Augusta, na Garrett, perto da Livraria Bertrand ou na Praça dos Restauradores, vendem-se castanhas magnificamente assadas, com o toque certo de sal, e a casca que salta de uma só vez, bem como no Chiado. Mas a tradição está espalhada um pouco por toda a capital. Entre a Avenida da Liberdade, Praça do Duque de Saldanha, Almirante Reis ou na esquina com a Avenida de Paris, Jardim da Estrela, há quem se dedique, ano após ano, a aprimorar a técnica de assar castanhas, que nunca sabem igual às que fazemos em nossas casas. Depois, é só desfrutar daquele saquinho, ou típico cartucho, que ainda tem o condão de nos aquecer as mãos, que começam a gelar do frio.
Os segredos nunca são revelados e ainda bem, porque esta é uma profissão que ainda não caiu em desuso e que dá um colorido especial às cidades, por esta altura do ano.