
Luís Aleluia decidiu despedir-se prematuramente da vida, aos 63 anos de idade, mas no seu pensamento estavam a mulher, Zita Favretto e os dois filhos, José e João, a quem deixou uma mensagem nas suas redes sociais."Meus grandes amores", escreveu numa legenda a acompanhar as fotografias.
Luís e Zita nunca conseguiram ter filhos biológicos, apesar de terem tentado vários métodos, incluindo inseminação artificial. Mas a vontade do ator em ser pai era muito grande e o casal acabou por adoptar dois irmãos, de descendência goesa, João e José, atualmente com 17 e 20 anos de idade, respectivamente. Na época o ator ficou assustado com a situação e admitiu que teve dúvidas. "Vi uma figurinha a correr para mim, a agarrar-me e a dizer: ‘Mano, vamos que o pai já chegou’. Foi a primeira vez que me chamaram pai", contou. "Chegámos ao hotel e chorámos. No outro dia procurei uma igreja porque precisava daquela paz. Quando cheguei à instituição outra vez disse que já não os queria. Ficaram todos apavorados."
Mas esse desejo, quase uma forma de poder dar (e acima de tudo receber) o amor que não teve na sua infância, marcada por violência doméstica e uma institucionalização na Casa do Gaiato, com apenas 10 anos, falou mais alto. "Depois, em conversa com a psicóloga disse-lhe que não ia ficar com os meninos porque não estava preparado. Ela disse-me uma frase que me marcou, 'um pai que manifesta essa preocupação, vai ser um grande pai!'". A SITUAÇÃO LEGAL DOS FILHOS
Com a partida de Luís Aleluia é a mulher, Zita, que fica com a responsabilidade solitária da tutela dos filhos, um deles ainda menor. O mais velho, já maior, carece no entanto de atenções especiais, por sofrer de Síndrome de Asperger, uma perturbação do espectro autista. Foi o próprio Luís Aleluia que o revelou, em conversa com Fátima Lopes, em 2019.
E agora, como fica a situação dos filhos do ator? Em Portugal, quando um dos pais adotivos falece, o outro pai adotivo mantém a responsabilidade legal pela criança ou crianças adotadas, de acordo com o Código Civil e a Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo. Isso ocorre porque a adoção estabelece uma relação jurídica de filiação, conferindo aos pais adotivos os mesmos direitos e responsabilidades que os pais biológicos têm em relação aos seus filhos.
No entanto, se houver preocupações sobre a capacidade do pai ou mãe adotivo sobrevivente de cuidar adequadamente das crianças (neste caso em concreto um dos adotados já é maior), o tribunal pode ser envolvido. Nesse caso, ele realizará uma avaliação das condições do progenitor sobrevivente para determinar se ele ou ela é capaz de manter as condições de educação e cuidado dos menores.
O tribunal considerará vários fatores ao tomar sua decisão, incluindo a estabilidade financeira, o ambiente familiar, a capacidade de cuidar das necessidades emocionais e físicas do menor, entre outros aspetos relevantes.