
Depois do comentário polémico de Cristina Ferreira sobre a mulher morta à faca às mãos de um ex-companheiro em Oliveira do Bairro ter motivado diversas queixas na ERC, com a apresentadora a afirmar que esta se colocou, de alguma forma, "a jeito" ao entrar para dentro do carro do agressor, foi a vez de o jornalista Luís Osório escrever sobre o tema na sua crónica 'Postalinho'.
O escritor deu razão à apresentadora e num longo texto explicou porque é que, na sua ótica, as vítimas "se põem a jeito" ao perpetuarem relações tóxicas com agressores.
"É verdade que há mulheres que se põem a jeito para que as tragédias aconteçam. Não por usarem roupas provocantes – era só o que faltava. Não por desejarem impor a sua vontade – era só o que faltava (...) Também não por terem culpa, são absolutamente inocentes. Mas quando um homem é violento, quando desde o primeiro momento é doentiamente possessivo, quando trata a mulher como se fosse sua exclusiva propriedade, quando humilha e maltrata, quando ameaça (...) quando alguém que namora com uma besta quadrada continua a fazê-lo, quando alguém entra no carro de um homem que constantemente a ameaça por achar que nada de mal irá acontecer… desculpa-me, mas está a pôr-se a jeito."
O caso originou, como seria de esperar, diversos comentários, com várias figuras públicas a não deixarem passar em branco o texto de Luís Osório.
"Olhe que não, olhe que não", escreveu Iva Domingues, enquanto a jornalista Cláudia Lopes foi mais direta nas palavras.
"Caro Luís Osório, falamos muito do que não sabemos. Mas como pessoas pública devia pensar melhor e não falar do que não sabe. Infelizmente as circunstâncias das vítimas são tão singulares como cada vítima e é sempre tão fácil falarmos do alto das nossas bolhas de privilégio. Porque como se diz no Porto: pimenta no c* dos outros é refresco!", escreveu.
Também Marta Rangel alertou Luís Osório para a importância de se analisar o contexto pessoal e socioeconómico de cada vítima e não banalizar um tema tão complexo.
"Infelizmente uma vítima nem sempre tem esse discernimento. E não é preciso ser - ou ter sido - vítima para sabê-lo. Muitas vezes são isoladas de tal forma que deixam de acreditar nelas. Outras vezes não têm recursos - emocionais, psicológicos, financeiros - para sair da situação. Muitos agressores são de tal forma manipuladores que algumas vítimas acreditam que têm culpa. 'Pôr-se a jeito' nunca será uma boa expressão - dentro ou fora do contexto."