"Pedro Lima teria feito 54 anos. Fez, sim. Ele partiu, mas ficou. Ficou nos filhos. Ficou na mulher, nos amigos e nos que com ele se cruzaram. Lembro-me da data de abril por ter combinado casar com Anna no dia em que fizesse 50 anos – sabemos que não os completou pois decidiu partir faz agora três anos", começa assim o 'Postal do Dia' de Luís Osório sobre Pedro Lima que escreveu em abril de 2023. Sem qualquer justificação, o escritor decidiu esta semana republicar esta crónica nas suas redes sociais.
A razão para esta republicação? Poderá, simplesmente, ter sentido falta do ator. Mas o que ressalta deste 'Postal do Dia' era a bondade de Pedro Lima. "No dia em que saí da direção do Rádio Clube recebi muitas mensagens, telefonemas e abraços. 'Luís, estou contigo', 'Luís, estamos juntos', 'Luís, para a semana telefono e vamos jantar', 'Luís, não te desampararei'. Luís, isto, aquilo e aqueloutro. No dia seguinte a mesma coisa. Na semana seguinte, quase nada. Um mês depois recebi um telefonema. Era um homem que eu não conhecia bem. Tínhamo-nos encontrado um par de vezes com amigos comuns, mais nada. 'Olá, Luís… é o Pedro Lima, lembras-te?'", recorda o escritor.
E prossegue: "O Pedro queria apenas dizer que estava ali, que gostava da minha escrita, das minhas ideias e que sabia bem o que era estar apenas por sua conta. No dia em que lancei 'Mãe, promete-me que lês', ele estava lá. O nosso olhar encontrou-se, senti-o comovido, quase tanto como eu. Era o meu livro, mas era também o seu… um livro de vida e desamparo, um livro que (soube-o depois) representava uma viagem à sua própria experiência e a uma infância e juventude sem a presença da sua mãe."
Diz ainda Luís Osório sobre Pedro Lima: "O seu sorriso iluminava o mundo, mas não conseguia acender um caminho de salvação para os seus fantasmas. A sua presença encantava, mas os seus olhos escapavam-se algumas vezes para um lugar que apenas ele conhecia. Era ator. Pai de cinco filhos. Tinha a mesma idade que eu. Queria muito encontrar um lugar de apaziguamento e houve momentos em que isso quase lhe pareceu ser possível. 'Luís, as coisas estão a correr tão bem! Corre tudo como num sonho. É aproveitar enquanto dura', escreveu-me numa mensagem em meados de 2016. Obrigado, Pedro… E prometo-te uma coisa: daqui a um tempo telefono-te… livra-te de não me atenderes."