
Inês Herédia é um dos nomes mais mediáticos da comunidade LGBT+ portuguesa e, desafiada por uma marca a explicar o que a motiva a festejar o mês Pride, de orgulho da comunidade, não se coibiu de fazer um longo e sentido testemunho, agradecendo a quem "deu o corpo às balas" no passado" e atacando quem continua a ter comportamentos discriminatórios.
"À medida que amadureço vou questionando e reajustando a que acho que deve ser a minha voz enquanto pessoa LGBT no meu país. Nem sempre a resposta é fácil de decifrar: como atriz cada vez mais gosto da minha privacidade, interessa-me pouco mostrar-me demais na minha vida pessoal. Quero que conheçam as minhas personagens, o resto é meu e dos meus. Sei no entanto que tenho uma voz importante para centenas de adolescentes e jovens adultos", começou por afirmar a atriz de 32 anos.
"Para ti que achas que não és homofóbico porque ‘aceitas’ desde que não seja na tua casa ou à tua frente. Tento explicar-te a ti pai, mãe, tio, irmão, amigo, colega de turma, que estás desse lado, que a orientação sexual não é uma escolha, não é tratável, não é depravação e não é ‘aceitável’ ou ‘respeitável’, da mesma medida que tu não tens que aceitar ou respeitar o facto de eu ter duas pernas ou dois braços."
"Tento explicar-te com o meu Instagram que sou exatamente igual a ti (...), que tu e eu somos o mesmo. A auto-aceitação é a parte essencial da minha facilidade e foi exatamente ela que me tornou única e bonita, mas no meu caso foi esta a aprendizagem de que ninguém pode não aceitar ninguém. (…) Prefiro falar para a parcela da sociedade que não nos compreende. Prefiro explicar-vos porque é que eu preciso de celebrar o mês do Pride, por duas razões."
"A primeira, para relembrar todos aqueles que deram o corpo às balas para que eu possa estar aqui a fazer este vídeo. (…) . Sim, a descriminalização da homossexualidade em Portugal só tem 40 anos. Existem pelo menos duas gerações que na sua grande maioria acredita que é razoável chamar maricas a alguém. Imagina seres posto fora de casa por causa da cor dos teus olhos ou mandarem-te para uma terapia de conversão para que os teus olhos mudem de cor. Ninguém aqui tem uma agenda para o que quer que seja."
No fim, emocionou-se ao listar as consequências que os membros da comunidade ainda sofrem devido à homofobia: "E a segunda razão pela qual eu gosto de celebrar o Pride és tu: tu que ainda fazes bullying, que ainda bates, que ainda expulsas o teu filho de casa, que ainda não acolhes, que ainda não integras, que ainda ‘aceitas’ ou ‘respeitas’… Tu não tens que aceitar ou respeitar nada, eu também não tenho que aceitar ou respeitar a cor dos teus olhos. Enquanto existir, eu, comunidade LGBT, sinto a obrigação de falar mais alto como tu mas com amor, porque cada vez que o faço diminuo a probabilidade de um miúdo decidir que não aguenta mais viver no flagelo que tu lhe provocas. E ganha a esperança, e ganha o amor", concluiu. Na caixa de comentários, a atriz de 'Festa é Festa', da TVI,' foi elogiada por várias personalidades, entre elas Daniela Ruah, Marta Gil, Benedita Pereira ou Joana Espadinha.