
Manuel Trindade, forcado dos Amadores de São Manços, distrito de Évora, morreu este sábado, 23, no Hospital de São José, em Lisboa, após ter sido colhido na praça do Campo Pequeno, na última sexta-feira, dia 22. O jovem forcado, de 22 anos, foi colhido quando efetuava uma pega a um touro da ganadaria Vinhas, sendo que embateu com enorme violência nas tábuas. Logo na arena, todos se aperceberam da gravidade da situação, sendo que o jovem forcado foi prontamente socorrido e transportado para o Hospital de São José. No entanto, acabaria por falecer na manhã de sábado, gerando uma onda de choque.
Mas houve quem, nas redes sociais, se tivesse mostrado insensível ao drama de se perder nestas circunstâncias a vida de alguém ainda tão novo. Foi por isso que Alzira Trindade decidiu sair do anonimato, a mãe do jovem forcado, para escrever uma 'carta aberta' aos ficaram "contentes com a morte" do filho. "Dirijo este desabafo ao PAN e seus seguidores: Venho agradecer todos os vossos aplausos, todos os risos e regozijos com a morte do meu filho. Vocês, conheceram-no para ficarem contentes com a sua morte? Vocês, sabem se ele gostava de animais? Por acaso, SIM! Sempre temos tido cães e fazem parte da nossa família, dormiam com ele, quando ele chegava a casa, riam-se para ele… os animais sabem quem são as boas pessoas!", começa-se a ler neste desabafo indignado de uma mãe em sofrimento.
"O meu filho pertencia a um grupo de irmãos que envergam uma jaqueta com honra, com bravura. Estes grupos nunca fizeram mal a um touro, lidavam com ele, com arte! O meu filho nunca vos incomodou para vocês dizerem ‘já nos livramos de mais um’, ‘este já está arrumado’. Na vossa perspetiva o meu filho não é um animal. Mas é! UM ANIMAL RACIONAL! Porque não criticam os corredores de fórmula 1, os pugilistas, os esquiadores, os amantes de rapel, tantos desportos que colocam em risco a vida do animal racional”, escreve Alzira Trindade.
E termina: "Mas há mais: 'Tinha prometido a mim mesma não ler os vossos comentários inteligentes, mas foram surgindo alguns ‘tão bonitos’ que eu não aguentei e tive que vos agradecer pelo apoio e carinho demonstrado. Nós, ainda vivemos num país democrático, em que cada um é livre de gostar do que gosta e a mais ninguém diz respeito. Estou aqui, na minha casa, a fazer tempo… à espera… que me entreguem o corpo do meu ‘Menino de Ouro’ sim a esperar! Porque ele, esse animal, foi para dador de órgãos (ainda bem que já nos livramos deste) e assim ajudar 7 vidas de animais racionais! Olhem, celebrem, ele vai continuar vivo em 7 pessoas para vos incomodar. Que mau que ele era, o ANIMAL RACIONAL. Não vos ocupo mais o tempo com o meu desabafo, podem continuar a desejar-me condolências e apoio com o vosso carinho ‘conhecido’ SE TIVEREM CORAGEM!”
Entretanto, o PAN de Inês Sousa Real viu-se obrigado a fazer um esclarecimento público: "Nas últimas horas têm circulado, em páginas ligadas à tauromaquia, informações falsas e difamatórias sobre o PAN a propósito da morte trágica de Manuel Maria Trindade, jovem de 22 anos que perdeu a vida numa pega", começa. Acrescentando de seguida: "Queremos ser absolutamente claros: O PAN não se regozijou, nem nunca se regozijaria, com a morte de um jovem em circunstância alguma. Em momento algum, nas nossas intervenções ou comentários públicos, foi desrespeitado o sofrimento da sua família ou de quem assistiu a esta tragédia" garantiu o partido com representação na Assembleia da República.
E conclui: "O que defendemos é conhecido de todos: A abolição da tauromaquia, por razões éticas e de respeito pela vida e pelo bem-estar animal. Que crianças e jovens não sejam expostos a esta violência, tal como já defendeu por duas vezes o Comité dos Direitos da Criança da ONU e também entidades como a Ordem dos Psicólogos. Uma simples pesquisa nas nossas páginas ou na entrevista da nossa porta-voz na NOW mostra claramente que nunca houve qualquer desrespeito pela dor desta família. Reafirmamos a nossa posição com respeito e empatia: Empatia para com as pessoas, para com as famílias que enfrentam uma perda irreparável. Empatia para com os animais que continuam a sofrer nas touradas. Se episódios como este reforçam a nossa convicção de que as touradas devem acabar, sim, reforçam. Mas defendemos as nossas convicções com humanidade, respeito e responsabilidade."