
No último domingo, Ricardo Araújo Pereira "mimou" Luís Osório no 'Isto é Gozar com Quem Trabalha'. O humorista levou ao programa da SIC o fato do antigo diretor de 'A Capital' ter conduzido uma conversa com a ministra da Cultura num podcast do Partido Socialista. E não poupou nos adjectivos. Agora, Luís Osório usou as redes sociais para responder ao humorista e revela por que motivo terá sido, na sua opinião, humilhado e alvo de bulliyng num programa líder de audiência. O ex-jornalista foi comparado com um cão, lambuzão com o poder.
Foi no seu perfil de Facebook, que Osório escreveu uma longa missiva e revela que acredita ter voltado a ser protagonista de um momento de humor de RAP depois de ter dito que o melhor humorista da sua geração, elegendo antes Bruno Nogueira. O texto do elogio a Nogueira, também ele agora colaborador da SIC, foi escrito em abril de 2020... mas Osório acredita que foi o motivo para o que aconteceu no domingo, 21 de fevereiro.
"Não era uma brincadeira. Ricardo montara a entrevista com bocadinhos que encaixou como se fosse um puzzle para criar a ideia que desejava. Uma mentira que fez passar por verdade. No entanto, deixei passar. São as regras do humor e tinha de estar à altura.
"Pensei que podia ser por causa de um sketch que os Gato Fedorento fizeram há uns 15 anos. Lembro-me de um caixão onde estava um morto e um filho a esfregar as mãos por se estar a aproveitar da doença do pai para ser conhecido. O meu pai era o morto e eu o filho. Tínhamos acabado de publicar um livro e o meu pai achou piada ao sketch. Achou tanta piada que eu fiquei calado. Mas não podia ser porque era eu que devia estar zangado e não o Ricardo. Não podia ser isso. Pensei que podia ser por nunca me ter respondido a nenhuma mensagem nas várias que lhe deixei quando o convidei para ser entrevistado para o ciclo "30 Portugueses". Mas não podia ser porque era eu que devia ficar chateado, não ele", recordou Osório.
"Pensei que podia ser para me ridicularizar, chatear, magoar com o seu sarcasmo e inteligência. Mas não, também não era isso. O sketch acabava com uma cadela, a bela Custódia, a fazer o que eu faço – a lamber os pés a quem passa. Não, ele queria fazer uma outra coisa. Desejava humilhar. Fazer bullying", lamentou.
"Então o que terá sido? Pensei que tinha sido por causa de um texto que publiquei aqui no dia 17 de abril de 2020 – há cerca de dez meses. Um postal que teve 500 partilhas e uma repercussão que paguei caro quase um ano depois. Reproduzo o meu pecado original. Porque penso mesmo que foi isto que o fez lançar-me uma fatwa".
Recorde o texto que Luís Osório acredita estar na origem do "mimo" que recebeu.
1. Não quis escrever apressadamente sobre o "novo" programa do fundador dos Gato Fedorento. Depois não achei que valesse a pena a crítica, afinal existem outros assuntos mais importantes por estes dias do que dizer mal de um programa de televisão, Não irei desenvolver o que penso sobre "Isto é gozar com quem "trabalha" – é um programa igual ao programa que fez anteriormente num outro canal de televisão, mas menos surpreendente por já o termos visto antes. Ricardo Araújo Pereira é um talento. Difícil duvidar disso. É culto e inteligente. Tem bom gosto. Mas infelizmente cristalizou no que resulta, no que os canais pagam, no que lhe dá dinheiro. Acontece aos melhores. Quando passam a ser milionários – e Ricardo e milionário tendo em conta os rendimentos no nosso país – passam a ter muito mais a perder do que a ganhar. Deixam como por milagre de ser incómodos. Ou a ser os tipos a quem se convida para que diga mal de uma forma que seja tolerável. Ou a pessoa que já não arrisca determinados assuntos com medo de perder audiências, contratos ou por outra coisa qualquer.
Ouvir e ver Bruno Nogueira todas as noites no Instagram – num formato a que chamou "Como é que o Bicho Mexe?" é um exercício para ele, mas também para nós. Como se fossemos parte ativa dos seus sucessos e da sua hipótese de falhar, cúmplices de um artista de circo sempre próximo de cair na jaula dos leões ou de partir a espinha por não existir rede possível no lugar que nos propõe. Onde Ricardo Araújo Pereira se defende, Bruno Nogueira arrisca. Onde RAP é conservador, Bruno é revolucionário ou, pelo menos, testa os limites de fazer humor, de comunicar num tempo confinado como este.
Bruno Nogueira irá falhar muitas vezes. Será o preço a pagar pelo seu não conformismo. Espero que não recue perante o abismo. Que confie num instinto que o leva a seguir em frente como se apenas existisse o presente", rematou.