
Nunca a apresentadora da SIC falou tão abertamente da morte da mãe, da dor que continua a sentir, das saudades que são cada vez mais agudas e da fé que tem e que a conforta nas horas mais difíceis. Mas Liliana também abre o sorriso, quando nos conta ao pormenor como foi o dia mais feliz da sua vida, aquele em que casou com Rodrigo Herédia, nas Maldivas. Faz o balanço de um ano que foi uma verdadeira montanha-russa de emoções.
Neste início de ano pedia-lhe que ainda fizesse o balanço de 2016.
Neste início de ano pedia-lhe que ainda fizesse o balanço de 2016.
O tempo não tem ajudado?Antes pelo contrário. Quando comecei a ter mais tempo para mim, comecei a sentir-me muito triste. A saudade é cada vez maior… do cheiro, do abraço, do beijo. É muito doloroso perder uma pessoa que nos conhece melhor do que ninguém.
Por falar em dor, como foi acompanhar a sua mãe na doença?Foram anos muito duros e difíceis. Tenho de falar do meu irmão, pois quando nós, a pedido da minha mãe, decidimos que ela iria ficar em casa foi ele que ficou como cuidador. É verdade que o universo dá muitas voltas e na altura em que a minha mãe teve o AVC ele já estava divorciado e tinha acabado de ficar desempregado. Ser cuidador é muito difícil, principalmente daqueles que mais amamos. Contratamos uma senhora que nos ajudava, mas como não tínhamos mais dinheiro os cuidados eram divididos entre mim e o meu irmão, mais ele como já expliquei.
2016 não poderia ter começado pior.Não podia mesmo. A minha mãe morreu no dia 3 de janeiro, mas como sou católica praticante acredito muito que ela está num lugar melhor. Isso ajuda a encontrar um pouco mais de paz.
Eram uma família muito unida.O mais importante na nossa família sempre foi o amor. Quando viemos de Angola passamos por muitas dificuldades financeiras, mas tivemos sempre muito amor. O amor que a nossa mãe nos deu foi-lhe retribuído nesta fase da doença. Fizemos tudo o que conseguimos fazer pela minha mãe, contudo o sentimento de impotência, dor, medo, stress por sabermos que estávamos numa luta contra o tempo foi muito grande. Foram quatro anos de muita angústia.
Foram quatro anos em que viveu em função da sua mãe?Exatamente. O mais importante era dar-lhe conforto e carinho que ela tanto precisava.
Não ficou nada por fazer. E por dizer?Nada. Dissemos-lhe tudo. Mesmo o meu irmão, que é uma pessoa mais fechada, aproveitou os momentos que teve com a minha mãe para lhe dizer tudo o que queria. Eu falava muito com ela, mesmo nos momentos em que parecia que ela não estava cá. Como sabia que ela estava a sofrer muito, muito, muito cheguei a dizer-lhe inclusivamente para se deixar ir.
Ela faleceu com os filhos ao lado?No dia em que falamos à nossa mãe na possibilidade de ela ser internada numa clínica notamos-lhe imediatamente o pânico no olhar. Assim, o que fizemos foi montar uma espécie de clínica em casa. Dois dias antes de morrer, já não tínhamos condições de a ter em casa e acabou por ir para um centro de cuidados paliativos. Acredito que ela perceber que o fim estava próximo e não queria morrer em casa. Outra coisa que não me sai da cabeça, é a minha mãe ao longo da sua doença ter tido um dos filhos sempre junto dela. Ou estava eu ou estava o meu irmão. No dia em que a minha mãe morreu, eu não estava porque o Rodrigo tinha-me oferecido uma viagem e o meu irmão foi ver o Sporting, que ainda era a única coisa que o fazia sair de casa. As minhas primas, que tinham vindo para o Natal e para o fim-de-ano, estavam cá e isso dava-nos uma grande segurança para nós podermos descansar um bocadinho. E foi precisamente quando nenhum dos dois estava com ela, que a minha mãe escolheu para partir. Penso que foi assim, porque de uma forma indireta, quando estávamos ao pé dela, acabávamos por a quer perto de nós e isso impedia-a de partir.
A fé ajuda-a a superar esta perda?Ajuda muito. Sabê-la num sítio melhor é tão reconfortante. "Aqueles que nós amamos, nunca morrem. Apenas partem primeiro", é nisto que acredito e que me deixa melhor. Nem quero imaginar como é que uma fé que não tem fé lida com a morte.
Nos momentos de maior saudade o que faz?Eu ainda não consigo falar com a minha mãe. Ainda só choro e rezo. Mas sei que hei-de conseguir falar com a minha mãe [não consegue conter as lágrimas].
Aos 45 anos já não tem os seus pais vivos. Alguma vez se revoltou contra Deus ou o questionou ‘porquê eu’?Nunca. A única coisa que queria é que a minha mãe não tivesse sofrido como sofreu [continua a não conseguir conter o choro]. O meu pai perdi-o em seis horas, desde que se queixou até falecer. A minha mãe, foi vê-la sofrer estes anos todos e sentir uma impotência enorme de não a conseguir ajudar. Nunca perguntei ‘porquê eu’, mas sim ‘porquê ela’ que sempre foi a pessoa mais doce, ternurenta e querida. Não sei como é que o meu ‘passarinho’, como nós lhe chamávamos aguentou tanto sofrimento. A minha mãe sempre foi uma mulher muito frágil e magrinha e nunca pensávamos que tivesse tanta força e resistência.
Resistiu e teve toda essa força por amor aos filhos?Sem dúvida, mas sobretudo por uma enorme preocupação com o meu irmão.
Mas também viveu emoções muito boas no ano que acabou.Muito boas, mesmo. Como disse, vivi também o dia mais feliz da minha vida, o do meu casamento. O Rodrigo já me tinha pedido em casamento e eu já lhe tinha dito que sim. Tinha-me oferecido o anel, mas pediu-o de volta para me fazer uma surpresa nas Maldivas. Contudo, o Cláudio Ramos viu o anel e, sem me perguntar nada, espalhou que eu estava noiva o que chateou bastante o Rodrigo. Bem, acabamos por viajar para as Maldivas, que foi o meu presente de aniversário, neste clima de anel para cá, anel para lá. Entretanto, já lá estava há dois ou três dias e nada de anel, o que me levou a pensar que ele se tinha esquecido do anel em Portugal.
E, afinal, onde é que andava o anel?O resort onde ficamos é ideal para surfistas, ou seja, de um lado há ondas daquelas que eles gostam e do outro uma praia paradisíaca. Eu ficava do lado da praia e o Rodrigo ia fazer surfar para o outro lado. Num desses dias, já ao final da tarde, estava eu deitada na minha espreguiçadeira dentro de água quando vejo chegar a prancha do Rodrigo com um bouquet e uma grinalda de flores. Entretanto, chega ao pé de mim e voltou a perguntar se queria casar com ele. ‘Quero e já amanhã’ foi a minha resposta. Foi o que aconteceu porque tudo fazia sentido para nós.
Mas já ia a pensar em casar, pois até tinha vestido de noiva.Não era um vestido de noiva. De todos os vestidos brancos que levo sempre quando vou de férias, este era o que eu mais gostava e que mais se adaptava ao momento. Inclusivamente é um vestido que já o tinha usado em diferentes ocasiões.
Como descreve esse dia?Um dia muito emotivo e muito feliz. Estávamos os dois com um sorriso de orelha a orelha. Foi um casamento muito simples, mas muito bonito. Se pudesse escolher, escolhia tudo exactamente igual e tenho a certeza que se fosse planeado não teria corrido tão bem.
Pensam fazer alguma coisa com os amigos e com a família para assinalar o vosso casamento?Já nos perguntaram isso imensas vezes, mas não me apetece nada. Foi um dia tão bonito que por enquanto não me apetece.
Ainda está em lua-de-mel?Ainda estou numa fase de enamoramento. Até pela minha aliança e pelo meu anel. Ainda estou nas nuvens com o meu casamento. Como se vê este foi um ano de muitas emoções para mim, embora a tristeza ocupe um espaço maior tive a bênção deste dia.
Tem a vida que sempre desejou ou as expectativas foram superadas?Sou muito grata pela vida que tenho e agradeço a Deus por isso. Vi os meus pais passarem por muits dificuldades e também passei por muitas dificuldades.
Essas dificuldades marcaram-na?Marcaram, sem dúvida alguma. E quanto mais crescemos mais nos apercebemos das marcas que julgávamos que não tínhamos mas que afinal temos.
Que dificuldades foram essas?Viemos de Angola na situação difícil em que vieram tantas outras famílias, ou seja, sem nada. Lembro-me de na escola não ter uma mala e levar os livros dentro de um saco de plástico, os lápis também. A roupa que usava era a que me davam, não tinha brinquedos. Enfim, nós nem sequer tínhamos uma casa. Ficávamos em casa dos meus tios. Não foi fácil, mas lá estar o amor esteve sempre presente. Mas voltando à pergunta, agradeço a vida que tenho mas sonhamos em ter sempre um pouco mais.
Desses sonhos faz parte ser mãe?Sim, esse era um sonho que tinha….
Diz ‘era’. Deixou de querer ser mãe?Hoje tenho receio por causa da minha idade. Na fase em que ia ser mãe, ou seja, quando começou a minha relação com o Rodrigo aconteceu isto à minha mãe. Poderia, é certo, ter tentado engravidar mas eu precisava de toda a minha força e energia para cuidar da minha mãe. Não posso dizer que não pode acontecer e se assim for será muito bom, mas como disse já tenho 45 anos e há um receio.
Alguma vez se deslumbrou com o mundo da televisão, com a fama?Nunca, especialmente porque à minha volta tenho algumas pessoas de família que precisam da minha ajuda e isso acaba por nos chamar à terra. Faz-me é sentir o quanto tenho de ser grata pela vida que tenho e privilégios que temos nesta profissão.
Ganha bem?Há a ideia errada de que todos os que trabalham em televisão ganham bem. Há, de facto, pessoas que ganham muito bem e há outras que ganham o normal. Sinto, contudo, que a melhor coisa que me aconteceu foi ir trabalhar para a SIC e ter crescido como profissional e também como mulher.
Como foram estes 23 anos de SIC?Foram anos de altos e baixos, como acontece com toda a gente. Mas tive sempre sorte de ter estado em projetos de sucesso. Por fim, chega este desafio que é a SIC Caras numa altura, confesso, já não estava à espera e que me veio enriquecer profissionalmente. Sinto-me muito feliz e realizada.
Não há nenhuma mágoa de não estar na SIC?Não há absolutamente mágoa alguma. O nosso canal por cabo ainda tem muito que crescer e estar lá desde o minuto zero acaba por ser muito empolgante e incentivador.
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Fotos: Paulo Miguel Martins
Styling: Pedro Leitão
Maquilhagem e cabelos: Carina Quintiliano
Liliana Campos vestida por Veste Couture e calçada por Luís Onofre