
E de repente já passaram mais de 20 anos desde que Portugal conheceu Zé Maria, que acabou por ser o primeiro vencedor do 'Big Brother' em Portugal, programa que transformou a televisão deste retângulo à beira mar plantado para sempre. O alentejano não imaginava ao que ia, aliás, nenhum dos primeiros concorrentes sonhava com o que iam viver fechados naquela casa da Venda do Pinheiro, onde tinham mais de meio Portugal a vê-los em permanência.
O Zé Maria das galinhas rapidamente conquistou os portugueses. Franzino e diferente, o alentejano de Barrancos, terra de valentes resistentes, foi ficando e acabou por ganhar, de goleada, o programa apresentado por Teresa Guilherme. Começou aí o pesadelo.
De bolsos cheios, coisa que nunca conseguiu no seu Alentejo onde a pobreza é rei, Zé Maria tornou-se no centro das atenções. A TVI transformou-o em estrela mediática, mas esqueceu-se de que o alentejano precisava de ajuda para enfrentar algum que desconhecia profundamente.
E a coisa descontrolou-se. A saúde mental de Zé Maria, que já seria problemática antes de ir para o formato da vida real, acusou a pressão... e ele foi ao limite. Numa das vezes em que perdeu totalmente o controlo, foi encontrado nu na rua. Foi preciso a intervenção da polícia para evitar o pior.
O dinheiro, entretanto, desapareceu, tal como desapareceram os amigos que se foram aproximando com o cheiro do dinheiro fresco nos bolsos do Zé Maria, que nessa altura não pensava no futuro.
Foi preciso bater no fundo para voltar a casa. E é em Barrancos que o agora cinquentão, 50 anos feitos no dia 7 de julho, vive. Longe dos holofotes e de desconhecidos, quase que isolado no Alentejo profundo. "Eu sou o Zé Maria, mas não quero falar", é quase sempre a resposta que dá aos "forasteiros" que chegam a Barrancos, terra que o viu crescer e que o recebeu de braços abertos depois dele ter tocado o Sol e se ter queimado.
Agora, tem acompanhamento médico e está medicado. Vai ser assim para sempre, se quiser ser funcional e evitar situações mais dramáticas. Tal como acontece em muitos lados do interior profundo, o trabalho não abunda. Zé Maria é ajudado pela Segurança Social, que controla se ele vai às consultas médicas e se toma a medicação. Se falhar, é-lhe cortado o subsídio. Mas ele tem cumprido.