
Madonna é daquelas figuras incontornáveis. Por mais anos que passem, novas estrelas que possam surgir ou fenómenos que pareçam eclipsá-la, ela mantém, orgulhosamente o título de rainha da pop, com tudo aquilo que faz a despertar um interesse à escala planetária. No entanto, mantém uma aura de secretismo em torno da sua vida, apenas mostrando aquilo que quer e dando, a espaços, entrevistas onde vai mais a fundo em questões existenciais ou que, de alguma forma, marcaram o seu lado mais pessoal. Depois de nove anos em silêncio, a estrela quebrou, nos últimos tempos, este recato para uma grande conversa com Jay Shetty, em que falou dos temas mais disruptivos da sua vida, do grande desgosto amoroso ao problema de saúde grave que viveu em 2023 e a levou a estar 48 horas em coma.
Um momento de grande fragilidade em que Madonna afirma ter tido uma visão da sua mãe, que faleceu quando a artista tinha apenas cinco anos, vítima de cancro. “Já estava quase do lado de lá quando a minha mãe apareceu e me perguntou se eu queria ter com ela. E eu disse que não. Tinha uma assistente no quarto comigo, e ainda estava inconsciente. Mas ela ouviu-me a dizer ‘não’. Quando acordei, percebi que esse ‘não’ tinha que ver com a minha necessidade de perdoar e fazer as pazes com as pessoas com quem ainda estava chateada”.
Uma dessas pessoas era o irmão, Christopher, com quem estava zangada há três anos e que acabaria por falecer no ano passado, após uma luta contra um cancro na garganta. Quando o irmão adoeceu, a cantora, de 65 anos, admite ter lidado com sentimentos controversos sobre aquilo que devia fazer.
"Uma das coisas mais importantes que fiz foi perdoar aqueles que em tempos considerava os meus maiores inimigos, neste caso o meu irmão. Não falei com ele durante anos e anos e, de repente, ele estava doente, procurou-me e pediu-me ajuda. Isso significou ter aquele momento, do tipo: 'Vou ajudar o meu inimigo?' E eu simplesmente fiz isso. Foi um alívio enorme, um peso enorme tirado, um fardo que saiu de cima de mim, finalmente poder estar num quarto com ele e segurar-lhe na mão, mesmo que ele estivesse a morrer, e dizer-lhe 'Eu amo-te e perdoo-te'. Isso foi muito importante".
De entre todos os momentos que marcaram a sua vida, Madonna admite que o seu refúgio tem sido a espiritualidade, a que se agarra para perceber que, por pior que seja o cenário, há sempre um amanhã. Uma força superior a que teve de se agarrar na fase em que, na sua vida, achou que não havia retorno, tendo perdido a vontade de viver, quando, durante o divórcio de Guy Ritchie, lutou pela custódia do filho Rocco, numa experiência que assume ter sido "devastadora".
"Embora o meu casamento não tenha resultado, quer dizer, isso é mais ou menos normal. O casamento de muitas pessoas não resulta, ou porque casaram com a pessoa errada, não estão alinhadas ou não foram feitas uma para a outra… Mas tentarem tirar-me o meu filho, isso é como se me estivessem a matar. Foi exatamente isso que eu pensei na altura."
A cantora estava em digressão quando foi informada de que o filho tinha tomado a decisão de ir viver com o pai, numa dor que ainda hoje, só de recordar, considera insuportável. "Cheguei mesmo a pensar em suicidar-me. Pensei: 'Não consigo aguentar mais esta dor'. Tinha de subir ao palco todas as noites... Achava mesmo que era o fim do mundo. Não aguentava. Simplesmente não aguentava", disse, admitindo que isso foi o pior por que já passou. "Foi como se me tivessem arrancado o coração".
Apesar de hoje já conseguir falar sobre o assunto, Madona explica que esta foi uma ferida que "demorou anos a sarar", até por causa do trauma de ter perdido a mãe muito nova.
“Graças a Deus, já não me sinto assim. Fui abandonada pela minha mãe em criança. Perder a guarda do meu filho foi como se a história se repetisse. Não conseguia aceitá-lo e isso causou-me muito sofrimento”, confessou, acrescentando que foi o seu caminho espiritual que a salvou. “Tive de continuar a estudar e a seguir o meu caminho espiritual, que me ajudou a compreender que o inimigo está dentro de mim. Hoje em dia, tenho o prazer de dizer que sou muito amiga do meu filho, mas na altura não conseguia ver isso. Pensei mesmo que era o fim do mundo.”