
Carlos e William foram os primeiros a chegar à sua cabeceira e esse foi o principal sinal de que o estado de saúde de Isabel II era muito grave... tão grave que levou ao desfecho mais trágico e aquele que ninguém esperava, pelo menos para já. Desde que perdeu o marido, o príncipe Philip, em abril do ano passado, e com todos os escândalos que têm manchado o nome da sua família, a monarca de 96 anos e 70 de reinado dava sinais claros que tinha perdido a vontade de viver. Os problemas de mobilidade acabaram por ser a sua melhor desculpa para se começar a retirar da vida pública, para ir largando aquilo que foi a sua existência durante sete décadas.
Recolheu-se no seu sofrimento. Apesar da sua grande família, viveu os últimos tempos numa reclusão voluntária e solitária. Rodeada apenas pelos seus amados cães e de um restrito número de funcionários reais. Entre eles, uma equipa médica que a acompanhou até à morte de dia e noite. Com um impressionante sentido de Estado, fez questão que os súbditos guardessem dela a imagem de uma mulher férrea, determinada, resiliente e corajosa. Uma imagem que será muito difícil de igualar e, muito mais, de suplantar.
TUDO PREPARADO AO PORMENOR... COM CONHECIMENTO DA RAINHA
Apesar desta ser o desfecho menos desejado, a Inglaterra preparou-se para o dia de perder a sua rainha, uma das figuras mais amadas e respeitadas da História da realeza contemporânea. Com a sua morte a 8 de setembro às 18.21, um plano especial [que há estava preparado e que recebeu o aval da própria rainha] foi posto em marcha. A primeiro-ministra, Liz Truss, foi informada de imediato pelo secretário privado de Isabel II, através de um telefonema com a frase de código: "A London Bridge caiu". Depois foram informados os ministros através de um email e em 10 minutos todas as bandeiras da zona de Whitehall - o centro administrativo do Reino Unido - foram colocadas a meia-haste em sinal de luto. Um comunicado oficial foi emitido pelo Palácio de Buckingham e de seguida as contas oficiais da casa real britânica ficaram a negro assim como todos os sítios da internet governamentais. Agora, a família real irá anunciar os planos para os 10 dias seguintes que irão preceder o funeral da rainha.
Ao mesmo tempo que se chora a morte da rainha, aclama-se o novo rei. A sucessão real foi imediata. O lema "Rei morto, rei posto" aplica-se imperativamente à monarquia inglesa. Pela linha de sucessão e de acordo com o direito comum, foi obviamente o príncipe Carlos, o filho mais velho de Isabel II, a subir ao trono. Se durante muito tempo se especulou sobre uma possível abdicação por parte de Carlos a favor do filho, William, a maioria dos analistas da família real tem-se agora a certeza de que isso não aconteceu. "Quando a rainha morrer, Carlos tornar-se-á automaticamente rei (...) Só se Carlos morrer antes da rainha é que William se tornará rei quando ela morrer", afirmou Robert Hazell ao 'Insider' no início deste ano. No entanto, alguns especialistas da realeza acreditam que o príncipe Carlos exercerá o cargo durante apenas alguns anos [também pela sua já avançada idade] e depois então abdicar a favor de William. Para bem da modernização da monarquia.
TRANSIÇÃO DE PODERES DE ISABEL PARA CARLOS
Mas quem tem estado atento, perceberá que estes últimos tempos, especialmente neste último ano, a transição de poderes foi feita de forma discreta entre Isabel II e o seu filho mais velho. Basta recuar um pouco no tempo para perceber que o príncipe de Gales tem assumido cada vez mais responsabilidades. Aos poucos, a monarca foi reduzindo a sua agenda oficial e delegando no filho mais velho certas funções que eram suas e ele, por seu turno, tem enfrentado com dignidade aquilo para que foi educado e preparado ao longo da sua vida.
"Depois de ter esperado mais de 60 anos para ser rei, é perfeitamente natural que o príncipe Carlos queira assumir o trono e as funções reais para as quais se preparou toda a sua vida", afirmou um representante da Constitution Unit da University College London, citado pela 'Marie Claire'. "Mas também será natural que, depois de reinar durante alguns anos, Carlos escolha pedir ao Parlamento para entregar o trono ao príncipe William", acrescenta. Mas ainda há quem acredite que Carlos irá abdicar logo a favor do filho. "[Carlos] não quer [o trono], é muito difícil", afirmou Stewart Pearce, antigo professor de voz da princesa Diana, ao 'The Sun'.
Uma coisa é certa: Carlos III ao tomar o lugar de Isabel II - a quem muito pouco se pode apontar ao longo dos seus 70 anos de reinado - terá os olhos do mundo em si. Será feito um escrutínio apertado à sua postura e ações para saber se estará ao nível da sua conduta exemplar, nomeadamente o seu carisma, nobreza inata e a sua conhecida capacidade de liderança, discreta mas sempre prudente. O novo rei, a quem cabe a tarefa de suceder a uma das mulheres mais importantes das últimas décadas da História mundial, terá um reinado difícil. A monarquia poderá passar por uma fase de deriva e o país sentir-se-à órfão durante muito tempo. A última vez que o Reino Unido chorou a morte de um monarca foi há 70 anos (quando o padre de Isabel II, o rei Jorge VI, morreu). E Carlos foi o príncipe de Gales que mais tempo teve de esperar por subir ao trono.
ALTERAÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS O desaparecimento da rainha marca um antes e depois na história do Reino Unido.
Será aos portões do Palácio de Buckingham, em Londres, que se espera o maior dos ajuntamentos para chorar a sua morte. Mas há também a forte possibilidade que comece a nascer um movimento anti-monarquia. A confirmar-se, isso é algo que os Windsor mais temem, pois sabem o quanto a instituição, só por si, já está frágil, ainda mais sem Isabel II. A família real está consciente do peso que a rainha tinha para a união e para travar os ímpetos republicanos. Há outro aspeto menos revelante do que este último, mas que não deixa de mostrar o quanto a morte da rainha mexe com o quotidiano: serão retirados 3,6 milhões de notas em circulação – só no Reino Unido – que ostentam a cara da monarca e que terão de ser substituídas pela imagem do novo rei: Carlos III.