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The Mag - entrevista

Afinal quem é Zelensky? Autores de biografia desvendam o passado de ator popular na Rússia e como conquistou o seu povo e o mundo

A história do presidente ucraniano é contada pelos jornalistas Andrew L. Urban e Chris McLeod no novo livro 'Zelensky – O Herói Improvável'.
Amarílis Borges
Amarílis Borges
02 de junho de 2022 às 22:57
Olena e Volodymyr Zelensky
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Olena e Volodymyr Zelensky
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Olena Zelenska
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Olena Zelenska
Olena Zelenska

Volodymyr Zelensky passou de comediante mais popular na Ucrânia e na Rússia para o presidente invisível e, pouco depois, o homem que decidiu enfrentar o poder de Vladimir Putin. Os jornalistas australianos Andrew L. Urban e Chris McLeod correram para contar a história desta figura de um metro de 70 centímentros, de 44 anos, que costumava viver de fazer os outros rirem, agora não esconde a ruga cada vez mais acentuada na testa. 

'Zelensky – O Herói Improvável' chegou a Portugal no mês passado, sob a chancela da Ideias de Ler. A FLASH! falou com Andrew L. Urban, que vive em Sydney. 

Zelensky, o herói improvável
Zelensky, o herói improvável

Como é que este livro começou?

É uma história interessante. Eu escrevi um livro há dois ou três anos chamado ‘Murder by the Prosecution’ [assassinado pela acusação] que é sobre erros da Justiça, pessoas inocentes na prisão, publicado pela Editora Wilkinson. Michael Wilkinson ligou-me pouco depois da invasão a Ucrânia ter começado e perguntou-me: ‘Os nossos parceiros americanos estão muito interessados em ter um livro sobre [Volodymyr] Zelensky rapidamente, para ser o primeiro. Estarias interessado em fazê-lo?’ E eu disse: ‘Queres dizer, Zelensky, o maior herói, o assunto mais quente, esse Zelensky? Sim!' Então, comecei imediatamente. Ele ligou-me outra vez, uns dias depois, e perguntou como eu me sentiria ao trabalhar com um dos seus outros escritores, Chris McLeod, que está em Melbourne - eu estou em Sidney. O Chris é muito bom a fazer pesquisa, ele já foi editor de revistas, de jornais. Ele é muito bom a fazer pesquisa. Ele [Michael] perguntou se eu consideraria trabalhar com ele [Chris] e eu disse que sim, claro. Já tinha começado a trabalhar na pesquisa, apenas a recolher o material na Internet, foi como fizemos… Estou na Austrália, é uma grande distância da Ucrânia, mas isso não interessa hoje em dia porque toda a guerra está na televisão, está nas redes sociais, está instantaneamente disponível em tempo real, e ele já era o presidente da Ucrânia há pouco mais de dois anos. Já havia algum material biográfico disponível sobre ele. Ficámos presos a isso e estávamos a escrever enquanto a guerra estava a desenrolar-se, nós estávamos a seguir em tempo real.

Como é que este livro começou?

Andrew L. Urban
Andrew L. Urban Foto: DR

Estava prestes a perguntar-lhe sobre isso. Como foi a experiência de escrever sobre Zelensky enquanto a guerra estava a progredir e você estava à distância, sem a ouvir os sons das bombas?

Quer dizer… na verdade nós estávamos porque houve uma grande cobertura da guerra, foi quase como estar lá de certa maneira. Poderíamos estar em Kiev e não teríamos uma visão melhor, a não ser que estivéssemos no campo de batalha. Nem sequer pensei sobre isso ser um problema porque tornou-se num evento na Internet. Ele estava a usar muito as redes sociais, tanto como comunicação para o seu povo e para o mundo, como propaganda. Nós estávamos a ver aos desenvolvimentos. E, claro, ele fez os discursos por videochamada para os parlamentos: o Parlamento Europeu, o Parlamento Britânico, o Congresso Americano e outros. Nós estávamos muito conectados e a história dele era muito fácil de se encontrar. Só tínhamos de fazer a pesquisa.

A relação que Zelensky tem com as redes sociais é muito diferente da de Vladimir Putin. O que pensa ser o motivo do sucesso de Zelensky nesta área?

Zelensky é o oposto direto de Putin, pessoalmente, politicamente e no modo em que ele passou as suas comunicações para o mundo durante a guerra, ainda o é. Enquanto Zelensky estava nas ruas com o pacote das redes sociais, a falar para o mundo em Kiev, Putin estava a uma distância de vários metros a falar com os próprios generais. Completamente o oposto.

É interessante porque no famoso telefone com Donald Trump, há três anos, ele diz que "aprendeu" com o então presidente dos Estados Unidos, enquanto candidato. O que acha que ele queria dizer que "aprendeu"?

Não tenho a certeza do que ele quis dizer. Apenas posso supor que, por exemplo, Trump a pedir-lhe para lançar a transcrição da conversa foi algo muito incomum entre chefes de Estado. Talvez Zelensky tenha achado que a franqueza de Trump era interessante, talvez ele tenha pensado que isso fosse algo que merecia ser feito porque foi apelativo para ele. Na situação dele, estava a ser atirado para este palco mundial. Para além desse telefonema [que levou ao pedido de ‘impeachment’ contra Trump], ele quase não era conhecido.

É interessante porque no famoso telefone com Donald Trump, há três anos, ele diz que "aprendeu" com o então presidente dos Estados Unidos, enquanto candidato. O que acha que ele queria dizer que "aprendeu"?

Como estava a ser correr a sua presidência antes da guerra, antes deste palco mundial?

Não muito bem, ele tinha ganho as eleições com uma popularidade enorme, 72% dos votos, mas porque, penso eu, tinha prometido combater a corrupção, o que não foi fácil de fazer e foi um trabalho muito lento. Antes da invasão russa, a sua popularidade tinha afundado, para cerca de 30%. Foi uma grande queda. De certa forma, a invasão aumentou a sua popularidade, mas eu aposto que ele preferia não ter a invasão. Acho que ele aprendeu muito, e rapidamente. Uma das coisas que ele disse quando estava a concorrer, que eu acho que é a chave para Zelensky como presidente é… Algumas pessoas diziam que ele não tinha experiência na política, então ele respondeu: "não é preciso ter experiência na política, só temos de ser uma pessoa decente", o que eu achei uma coisa tão inovadora de se dizer. Espero que alguns outros políticos saibam disso em todo o mundo. Naquele primeiro encontro, em Viena, foi interessante porque Putin, obviamente, meio que o desprezou. Ele achou que Zelensky era um fraco, um comediante a fingir ser um presidente, e ali estava Putin, o homem forte e poderoso da Rússia. Foi ali que ele formou a sua visão sobre Zelensky, que estava tão errada. Uma das minhas regras de ouro na vida é nunca assumir nada sobre ninguém, se o fizeres cometes um erro e eu acho que esse foi o erro de Putin.

E quanto à sua imagem internacional? Estava a falar como estava a correr a presidência dele, como estava a sua imagem internacional antes da guerra?

Praticamente inexistente. Com a exceção de os seus antecedentes não serem na política. Isso é a primeira coisa a se lembrar, que a sua presidência foi a sua primeira vez na política, antes disso ele estava na televisão. Ele foi da comédia à presidência da Ucrânia, isso é uma grande história, mas por causa disso não houve uma criação de bagagem política, apenas quando ele entrou para a presidência é que as pessoas, especialmente a Europa do Leste, tomaram conhecimento dele. Ele não tinha muitos antecedentes internacionalmente, ele não era assunto para a imprensa fazer entrevistas, ele era desprezado, tal como Putin o desprezava.

E quanto à sua imagem internacional? Estava a falar como estava a correr a presidência dele, como estava a sua imagem internacional antes da guerra?

"Antes da invasão russa, a popularidade de Zelensky tinha afundado, para cerca de 30%. Foi uma grande queda. De certa forma, a invasão aumentou a sua popularidade"

Por que é que o chamou de "o herói improvável" no livro?

Por que é que o chamou de "o herói improvável" no livro?

É engraçado, porque o meu título preferido era ‘Zelensky - O Herói improvável’ [em inglês é ‘The Unlikely Ukrainian Hero Who Defied Putin and United the World’], então vocês [em Portugal] chamam-no como eu queria. Mas é "improvável" porque ele um jovem não-político, ou melhor, uma personagem política não conhecida que é o presidente de um Estado que nós pensávamos ser inferior ao russo, militarmente e em poder. Ele era como o David para o Golias da Rússia - apesar de a Ucrânia ser um produtor muito importante de comida, eles exportam enormes quantidades, isto é um grande problema. Ele não era o tipo de pessoa que se esperava que se opusesse a Putin. Por isso alguém chamou-o de ‘Churchill de t-shirt’, porque ele está a usar as palavras, ele inspira as pessoas e luta contra Putin.

E concorda com esta definição?

Sim, concordo. Acho que é uma descrição muito pequena, claro, é incompleta, é apenas um rótulo, mas de certa forma temos o mundo a vir vê-lo rapidamente, por causa do que ele estava a falar e como estava a falar. O ato de recusar sair pela sua própria segurança, ele foi reminiscente de Churchill quando Hitler estava a atacar a Grã-Bretanha. As pessoas surgiram com essa noção sozinhas no Ocidente. Então sim, quer dizer, não é completa.

Ele tem usado algumas frases fortes, nesta entrevista mencionou algumas, e ele não é tão diplomático, pelo menos não era nos primeiros dias. Chamou-o de "imprudente" no seu livro, porque num momento ele revelou a localização. Acha que este é o seu lado mais dramático tendo em conta os anos como ator?

Provavelmente sim. Ele está habituado a estar à frente de uma plateia e como um comediante ele tem prática em lidar com o público. Mas, na verdade, o que me impressionou sobre isso foi que quando ele estava a falar, uma das suas primeiras respostas públicas à reunião da UE, ele foi muito brusco. Ele disse: nós acabámos de ter uma reunião que obviamente ninguém quer saber sobre o futuro da Europa. Não é linguagem diplomática, e isso foi revigorante. Ele estava e ainda está numa situação dramática de ameaça de vida do seu país e é perfeitamente perdoável. Fico feliz que ele tenha feito isso, é preciso ser um pouco brusco nessa situação.

Como a declaração "preciso de munições, não de uma boleia"…

Isso foi algo que toda a gente viu como sendo um interessante e importante sinal de caráter.

Ele é o primeiro presidente ucraniano judeu. Qual tem sido a importância dessa parte da sua história na presidência e em tempos de guerra?

Ele minimiza o seu judaísmo, diz que não fala sobre religião. Ele foi criado no que era originalmente a Rússia [em Kryvyi Rih] e os judeus não faziam grande barulho sobre isso. Muitos judeus nem sequer praticavam a religião. Ele não é um judeu praticante. Para ele, é apenas uma pequena parte de um todo.

Como era a vida de Zelensky antes da presidência?

Ele era um produtor e ator de televisão de sucesso, ficou muito rico. Ele tinha a série, que tem o mesmo nome que o seu partido, ‘Servo do Povo’, a sua mulher [Olena Zelenska] escrevia guiões. Eles eram muito bem-sucedidos, tinham outros programas. ‘Kvartal 95’ era o nome da empresa de produção. E não esqueça que ele era muito conhecido na Rússia porque o programa era o terceiro mais popular em 2019. Mas houve aquele momento, no início do ‘Servo do Povo’, onde a premissa do programa era que um professor teve uma reação enfurecida sobre a corrupção para com um colega na sala de aula. E um estudante grava isso em segredo, coloca na Internet e torna-se uma sensação viral. Isso leva a sua personagem a tornar-se presidente. Foi o prelúdio dele a fazer exatamente isso na vida real. Ele escreveu o guião da sua própria ascensão à presidência, o que é fantástico.

"Zelensly era um produtor e ator de televisão de sucesso, ficou muito rico. A sua mulher [Olena Zelenska] escrevia guiões. Ele era muito conhecido na Rússia porque o programa era o terceiro mais popular em 2019"

Zelensky e a mulher, Olena
Zelensky e a mulher, Olena

O que é que achou mais interessante sobre ele?

Antes da invasão, a sua popularidade era muito baixa e imediatamente a seguir à invasão subiu para os 90%. Foi o seu caráter, foram as suas respostas de caráter para com a guerra, que mostraram ao seu povo do que ele era feito, é quase como uma história de Hollywood sobre o homem comum em circunstâncias extraordinárias. Há muitos filmes desses, porque as pessoas respondem a isso, as pessoas gostam dessas histórias.

O que acha que serão os próximos passos de Zelensky?

Toda a gente está a tentar adivinhar, mas o que vale a pena lembrar é que quando a guerra começou, o Ocidente estava muito lento e relutante em colocar muitos militares em movimento, foi muito lento, mas quando viram a resistência ucraniana e a sua habilidade em ripostar, foi aí que começaram a colocar o tipo de armas que eles realmente precisavam. Acho que, desde o início, o que era muito provável ser um desastre para a Ucrânia agora é mais provável ser um desastre para a Rússia.

Escreveu sobre a mulher de Zelensky, Olena, e a maneira que ela descobriu que ele ia candidatar-se à presidência, pelas redes sociais. Recentemente, numa entrevista, ela contou que não sabia que eles iam ficar separados nas primeiras semanas da guerra. Considera que este é um padrão de Zelensky, esconder algumas coisas da sua família?

Não sei, mas ele deveria ter-lhe dito, sem dúvidas. [risos] Deve-se sempre dizer tudo à mulher.

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