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literatura

Ainda vai a tempo! 8 livros para oferecer (e, sobretudo, ler) neste natal

Preocupado com os presentes de última hora? Opte por dar um livro. Nesta quadra, e para quem ainda não fez as suas escolhas, deixamos as nossas sugestões. E o porquê das mesmas.
Luísa Jeremias
Luísa Jeremias
23 de dezembro de 2021 às 22:22
Quarentena
Quarentena

1. 'Tintin no país dos Sovietes', de Hergé

ASA

Foi o primeiro álbum de banda desenhada de 'As Aventuras de Tintin', assinado por Hergé, um dos belgas mais famosos de sempre. Data de 1929. E percebe-se a "antiguidade" e o facto de ser o primeiro pelo traço - da mesma forma que, no início Mickey Mouse era distinto do que depois se popularizou. Nesta história, reeditada pela ASA em formato capa dura, o jovem repórter Tintin já é um despachado, de traços simples, e o seu fiel companheiro Milu um farejador nato de encrencas! A história é absolutamente datada - da pós revolução soviética - mas uma delícia que apetece seguir até à última prancha. Pelo meio surgem chineses - que reencontraremos nos álbuns seguintes, como 'O Loto Azul' e outras curiosidades. Ou seja, quase um século depois da primeira edição, continua impressionantemente "atual". 

Último Olhar, de Miguel Sousa Tavares
Último Olhar, de Miguel Sousa Tavares

2. 'Último Olhar', de Miguel Sousa Tavares

Porto Editora 

Depois de uma longa ausência, o autor de Equador regressa com um romance sobre a pandemia. Literalmente "sobre" porque não só foi escrito em 2020 como a história transmite as dores de quem vive este tempo na angústia de nada conseguir fazer para alterar a "ordem natural das coisas". Talvez o isso, antes da própria novela se iniciar, Sousa Tavares cite um enfermeiro ativista do hospital de Cremona, em Itália, onde tudo ganhou uma dimensão global: "Não quero esquecer nunca o que aconteceu connosco. Isto tornar-se-á história. Carregamos tudo o que vimos dentro de nós, sentimo-nos cercados pela escuridão". A partir daqui sabemos o que nos espera: os pensamentos, medos, vivências de um espanhol de 93 anos, Pablo, que sobreviveu à guerra civil mas não sabe se tem forças para combater a covid. A leitura é rápida, empolgante, em jeito de thriller. E marca uma época que todos sentidos, cada um de sua forma. 

Primeira Pessoa do Singular, de Murakami
Primeira Pessoa do Singular, de Murakami

3. Primeira Pessoa do Singular. de Murakami

Casa das Letras

Murakami não precisa de grandes apresentações: é possivelmente o mais pop dos escritores atuais. Os seus livros - não se pode chamar-lhes romances, talvez antes reflexões a partir de um tema, de personagens, de um olhar sobre si próprio para interpretar a realidade circundante. Com uma forma de escrita simples, peculiar, que mistura imaginário e fantasia com vida real, Murakami conquistou uma legião gigante de fãs, mundo fora, apaixonados por pela sua forma etérea de escrita. Primeira Pessoa do Singular, o último livro de "histórias" editado pela Casa das Letras, segue o exemplo dos anterior. São 8 contos que enquadram a tradição japonesa, numa modernidade e simplificação da realidade global que prende irresistivelmente o leitor. Uma espécie de arte de contar histórias com sabor a doutrinação sobre a capacidade de voar. Confuso? Nada. Se nunca experimentou ler Murakami, faça o teste e diga se não foi o que sentiu: liberdade. 

Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo
Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo

4. Caderno de Memórias Coloniais. de Isabela Figueiredo

Caminho

A primeira edição data de 2015 mas o sucesso de A Gorda, o livro mais vendido da última Feira do Livro de Lisboa, ditou (possivelmente) a reedição - que é muito bem vinda. Numa idade em que continuamos sem querer falar dos traumas da guerra colonial, da vida "aficana" antes e depois desta, no que mudou, no que sobrou, no que nunca foi assumido nem "vomitado" como numa purga afugentando fantasmas que ainda existem, este livro surge como de leitura obrigatória. Como uma suavidade e uma sabedoria - que fazem lembrar, noutro estilo, Lídia Jorge - mas uma força crescente arrebatadora, a autora transporta-nos a Maputo, ou melhor, a Lourenço Marques, capital idílica do colonialismo português, a recordações, medos e lutas que mudaram a forma de vida branca numa cidade que parecia uma coisa mas era outra. Esta edição conta ainda com prefácios de Paulina Chiziane e José Gil, e várias imagens de época. 

Silverview, de John Le Carré
Silverview, de John Le Carré

5. Silverview, de John Le Carré 

Dom Quixote

 

Alerta para os fãs de Le Carré e dos melhores enredos de espionagem de sempre: esta é a obra póstuma do mestre e não deixa nada a desejar a 'A Casa da Rússia' ou 'O Alfaiate do Panamá'. Desta vez o thriller apresenta-nos uma personagem, um livreiro pacato que já foi um homem de negócios ambicioso e que, de um momento para o outro, sem estar à espera, se vê confrontado com um dilema de vida que põe em causa as suas escolhas. E não, isto não são reflexões sobre a existência à la Murakami (como vimos antes). Isto é policial a sério, daqueles que faz voltar a página, sentir o coração bater, as pupilas dilatar e ler, ler, ler sem parar até chegar ao fim. Para os fãs do género, recomendação das boas para as tardes de inverno no sofá. 

As Doces Receitas da Minha Avó Bertha Rosa-Limpo
As Doces Receitas da Minha Avó Bertha Rosa-Limpo

6. As Doces receitas da minha avó Bertha Rosa-Limpo, de Nuno Alves Caetano 

Casa das Letras

 

Numa época em que toda a gente acha que é chef, mostra os feitos nas redes sociais (ou nos programas de televisão), cria blogs, vira instagramer, 'foodie' e a partir de uma qualquer receita de internet já se acredita capaz de conceber os mais fotografáveis macarons de que há memória... voltamos aos clássicos. Neste natal a Leya deixou-se de fotografias repletas de cor e optou por um livro de receitas "à antiga": com desenhos e sobretudo com pratos deliciosos. De quem? Da autora de Pantagruel - sim, o clássico que figura (ou deveria) nas nossas estantes, nem que fosse para tirar dúvidas. O neto decidiu reuniar receitas de fazer crescer água na boca e que têm tudo a ver com esta época do ano. Quer um presente que qualquer guloso goste? É este! Se for você o guloso, ofereça-se a si si próprio este manual de boas práticas de cozinha e tire a barriga de misérias. É só uma vez por ano... ou quando um homem quiser. 

De maneira que é claro, de Mário de Carvalho
De maneira que é claro, de Mário de Carvalho

7. De maneira que é claro, de Mário de Carvalho 

Porto Editora

 

Há muito que Mário de Carvalho nos habituou a olhar o país através da sua escrita. Desta vez não estamos perante um romance que conta fragmentos da História de Portugal pela via da ficção. É de crónicas que se trata, de leitura ágil, rápida, pouco ficcionada, mas nem por isso menos apelativas. Pelo contrário. 'De maneira que é claro...' faz uma leitura de hábitos quotidianos, de uma forma de estar, de comportamentos padronizados, de emoções pelas quais raramente damos conta, de forma suave porém pragmática. As crónicas arrastam-nos a atmosferas e à nossa própria existência, ao mesmo tempo que mantém o olhar crítico sobre a sociedade. Recomendado a quem precisa de se "reencontrar" com este mundo em que crescemos e vivemos. 

 

Factfulness
Factfulness

6. Factfulness, de Hans Rosling 

Temas e Debates

 

Mais uma vez, não é um livro novo. Tem 3 anos, na verdade. Mas, mesmo com uma pandemia pelo meio, não podia ser mais atual e essa é provavelmente a razão pela qual continua a vender como pãezinhos quentes mundo fora. Ora, do que se fala aqui: de informação em excesso... que leva a mal-entendidos sobre a realidade, à criação de mitos, e à cegueira sobre assuntos de relevância primeira para o nosso bem-estar. E por que não indicar um livro sobre vírus e o pós-covid (ou ainda) e a nova ordem mundial onde a China, a Rússia e os Estados Unidos disputam território económico e de influência. Porque tudo isso ouvimos diariamente nos noticiários, lemos nos sites que consultamos online. Factfulness desconstoi e abre horizontes para novos valores e, sobretudo, para um apaziguamento com a realidade e connosco próprios. Não, não é um manual é auto-ajuda. É mais um: "atenção, nem tudo o que parece, é". Posto isto, vale a leitura, nem que seja das partes que mais interessam a cada um. 

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