"Donald Trump, já que sei que estás a ver e tenho três palavras para ti: Aumenta o volume. Para atingires qualquer um de nós, tens de passar por cima de todos”. As palavras são de Zohran Mamdani no seu discurso de vitória na madrugada desta quarta-feira, dia 5, quando ficou confirmada a sua vitória nas eleições para o cargo de mayor (equivalente a presidente) de Nova Iorque, pelo Partido Democrata, o que representa ares de grandes mudanças na cidade.
Assumidamente socialista, Zohran Mamdani é, para muitos, um sinal de esperança. E não apenas nas estatísticas que ajuda a quebrar: aos 34 anos, será o primeiro presidente muçulmano, o que levou a que se tornasse no grande tema político do momento. Era, no entanto, um desfecho previsto por muitos daqueles que acompanharam uma campanha vista como disruptiva, sangue novo, de um jovem político que tocava o coração dos eleitores mais jovens ao ir diretamente à fonte dos seus problemas, prometendo soluções realmente impactantes. Propôs, a título de exemplo, um plano habitacional que visa congelar o aluguer dos imóveis na cidade por quatro anos, na tentativa de esbater o elevado custo de vida, que se tornou impróprio, aumentando, para colmatar esta questão, os impostos para os mais ricos. Além disso, falou ainda da criação de uma cadeia de supermercados a preços mais baixos, aumento do salário mínimo, transportes gratuitos e creches a preços comportáveis.
“Quando és filho de pais muito envolvidos com a justiça social, muitas vezes o que te lembras como brincadeira é teres participado em algum comício ou marcha”, já disse Mamdani à revista 'City & State', revelando, desta forma, o quanto as suas convicções foram impactadas pelos pais, imigrantes. Nascido em Kampala, capital de Uganda, África do Sul, chegou com 7 anos aos Estados Unidos ao lado dos pais, a realizadora indiana Mira Nair e o professor ugandense com ascendência indiana Mahmood Mamdani, com fortes ideias progressistas.
Fez o ensino secundário na Escola de Ciências do Bronx, uma instituição de ensino público de Nova Iorque e estudou, mais tarde, Estudos Africanos no Bowdoin College, no estado do Maine, onde começou a envolver-se na causa da Palestina, o que lhe valeria fortes críticas por parte dos rivais, durante a campanha, ainda que se tenha tentado manter à margem dos ataques, alicerçando o desejo de mudança e mostrando que, ele próprio, a praticava nas mais pequenas coisas como a casa onde vive, no popular bairro de Queens, ou o facto de utilizar transportes públicos diariamente.
A sua carreira artística, como rapper – atuou com os nomes de Coung Cardamom e, posteriormente, Mr Cardamom – faz ainda com que Zohran Mamdan se tenha não só tornado o queridinho dos Millenials – a quem falou diretamente no Tik Tok – mas também a uma comunidade artística que se sente cada vez mais ostracizada pelas políticas atuais.
A MAIS JOVEM PRIMEIRA-DAMA
Durante o seu discurso de vitória, Zohran Mamdan dirigiu também umas palavras à mulher, que se torna na mais jovem primeira-dama da cidade de Nova Iorque. "E, para minha incrível esposa, Rama, hayati ['minha vida', em árabe], não há ninguém que eu preferiria ter ao meu lado neste momento – e em todos os momentos", declarou para Rama Duwaji, de 28 anos, a companheira artista, de raízes sírias.
"Rama não é apenas minha esposa. É uma artista incrível, que merece ser conhecida pelo seu trabalho", escreveu Mamdani nas redes sociais a 12 de maio, altura em que revelou que se tinha casado três meses antes, depois de se terem conhecido na aplicação para encontros amorosos 'Hinge'.
Além de conhecida ilustradora na cena nova-iorquina, Rama é ainda conhecida pelo seu ativismo, comprometida com a causa da Palestina, alicerçando os ventos de mudança que se sentem na cidade.