Aos 52 anos e há mais de 25 na televisão, Cláudio Ramos já habituou quem o segue à sua frontalidade. Deixa pouco por dizer e no programa que conduz com Cristina Ferreira, o 'Dois às 10', revolta-se quando o tema mexe com o seu âmago, não tendo pruridos em revelar, para isso, as suas opiniões mais pessoais. Foi, por isso, sem estranheza que no podcast 'Bate-pé', de Mafalda Castro e Rui Simões, a estrela da TVI tenha aberto o seu coração para falar, sem filtros, de uma série de temas que uma conversa de uma hora propicia ao desenvolvimento.
Do início da carreira à batalha para ser levado a sério e passar do papel de comentador para apresentador, Cláudio Ramos admite que os desafios foram inúmeros e, consciente do que teve de trilhar para lá chegar, explica que houve um momento-chave em que teve de colocar os pontos nos is para que, de alguma forma, não desse passos atrás na carreira. Aconteceu quando Cristina Ferreira voltou ao programa da manhã, para substituir Maria Botelho Moniz. Consciente de que na SIC o seu papel era quase acessório quando comparado com o da colega, Cláudio Ramos acabou por ter uma conversa com Cristina em que deixou bem claro que a hierarquia se tinha alterado.
"Tive medo de que voltasse a ser o vizinho da Cristina e tivemos uma conversa. Quando eu fui vizinho da Cristina, tive muita noção de que eu era um figurante especial, que se tornou especial porque a química correu muito bem. Quando me disseram que ia fazer o programa com ela, eu pensei 'fixe' porque eu dou-me muito bem com ela, mas aquilo não podia voltar, porque se aquilo voltasse eu estava a dar um passo atrás", começou por explicar, acrescentando que, depois da conversa com Cristina, todos os receios foram ultrapassados. "Aquilo teve de ser emocionalmente gerido, porque eu estava muito bem com a Maria… E a minha preocupação era, eu não posso dar passos atrás. Então, eu e a Cristina falámos e dissemos: aqui, somos colegas de trabalho, em paridade, a fazer a mesma coisa. Depois da uma e antes das dez da manha, és minha diretora. E é assim que acontece. Não houve um beliscar. Não houve um programa em que eu senti que a Cristina não me tivesse respeitado enquanto profissional ou a autoridade enquanto diretora se sobrepusesse. É de igual para igual. Respeitamos os silêncios e os espaços de cada um."
Com a dinâmica já perfeitamente estabelecida, Cláudio admite que a dupla não podia correr melhor com o trabalho a fluir, não imune a polémicas, como o facto de o apresentador nunca ter estado em estúdio das três vezes em que André Ventura esteve nos 'Dois às 10'. " Já viu que calha sempre no dia em que eu cá venho, ele nunca está", ironizou o político perante Cristina Ferreira, depois de esta lhe ter dito que o colega só não estava presente por ser o dia do seu aniversário.
Questionado sobre o assunto, Cláudio Ramos admitiu que apesar de não partilhar das opiniões políticas de Ventura, não se irá negar a entrevistá-lo, se for caso disso. "Das três vezes em que o André Ventura foi ao programa, eu não estava. Não sei se a equipa teve a gentileza de perceber, mas eu nunca disse 'não quero entrevistar o André ventura'. Vivo num país democrático, em que cada pessoa tem direito às suas opiniões, eu considero que umas são mais válidas do que outras. Há opiniões que para mim não são válidas. Se eu tiver de o entrevistar, vou fazer as perguntas que tiver a fazer", reiterou, criticando a campanha anti-imigração e as narrativas criadas em torno do assunto. "Vocês acham bonito aqueles cartazes isto não é o Bangladesh? Eu como cidadão sinto-me um bocadinho ofendido, não acho bonito."
AS PAIXÕES DE CLÁUDIO RAMOS
A vida sentimental de Cláudio Ramos parece atravessar uma fase mais morna. O apresentador, que assume ser de relações longas, não tece grandes comentários sobre o presente, mas assume que no passado já se dedicou muito ao amor. "A minha vida já girou em torno de alguém. Eu tive sempre relações longas, não sou um santo, mas se tenho um compromisso com alguém a base do compromisso é a lealdade e eu prefiro a verdade sempre", diz, acrescentando que não trai, mas era capaz de perdoar um deslize do companheiro. "Eu não te vou trair fisicamente, porque se eu estou com uma pessoa, essa pessoa preenche-me em todos os aspetos. E se estivermos focados nisso, eu não vejo nenhuma razão para trair. E também sou da opinião que uma traição não deve significar o fim da relação. Eu não traio porque eu não tenho necessidade. Se a pessoa trair e me contar… Eu não terminaria uma relação por causa de uma traição. Eu faço tudo para que a coisa corra bem, às vezes até exageradamente. Eu tenho muito aquela coisa de: se me acrescentar, eu vou tentar."
Aos 52 anos, e sem esconder que lida mal com o passar do tempo, o apresentador diz que já faz planos para uma "reforma ativa" que lhe devolva o tempo que investiu na sua carreira televisva. "Gostava de ter uma reforma ativa aos 55 anos, onde possa escolher o que quero fazer (...) Eu já desejei muito a atenção do público, mas eu gosto muito do prazer de ser desconhecido. Eu gosto do bom de ser conhecido, mas gostava muito de ir à praia quando me apetecesse, ao cinema às nove da noite. Não gosto de andar na rua e que as pessoas saibam quem sou eu. Eu sou muito envergonhado", conclui Cláudio, que se orgulha do seu percurso no pequeno-ecrã. "A mim disseram-me que não era possível chegar até aqui, um diretor de programas, disse-me que era ótimo mas para trabalhar nos bastidores."