
Começaram de forma pacífica, mas hoje os protestos estão longe de ser só os dois dedos de conversa que davam no início para mostrar a quem manda porque é urgente colocarmos as preocupações ambientais em cima da mesa. Desde então, radicalizaram-se e hoje as ações dos ativistas climáticos terminam sempre com uma ou várias detenções. Durante a campanha eleitoral, têm tido mais palco do que nos últimos tempos. No debate com todos os candidatos para as Legislativas, invadiram o estúdio e atiraram a habitual tinta para a câmara. Depois disso, e durante uma visita de Luís Montenegro à BTL de Lisboa, acertaram em cheio no candidato da AD, que ficou todo manchado de tinta verde.
Para estes golpes de marketing, a publicidade é fundamental. Os ativistas querem ser filmados e garantir que o momento chega a todos e viraliza nas redes sociais, sendo que, para isso, a rotatividade de quem dá a cara naquele momento específico é garantia do sucesso. Isto porque, ao início, e numa fase em que o movimento ainda não estava tão organizado, os rostos de quem se manifestava já eram conhecidos de seguranças, políticos, e de todo o seu staff, sendo muitas vezes barrados antes do protesto.
Hoje, com muito mais elementos, que utilizam muitas vezes nomes de código, e uma organização muito bem estruturada, é quase impossível identificá-los no meio da multidão, até porque não despertam atenções. A maioria são jovens, andam pela casa dos 20 e vestem-se como todos os seus pares, com um aspeto "arranjadinho" que faz com quem nunca estejam no centro das atenções.
Mas o ar educado contrasta, muitas vezes, com o que transmitem em mensagens. À revista 'Sábado', o Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, contou uma história que é sintomática da radicalização destes grupos. "Tinha marcado um encontro pessoal no Largo de Camões. Quando cheguei, estavam lá uns rapazes e raparigas em trajes avermelhados, que faziam performances a abrir e fechar os braços. Quando passaram por mim, deram um panfleto e, como sou educado, agradeci", revela, acrescentando que o teor da mensagem o deixou petrificado. "Apelavam à minha morte, à minha eliminação. Acho que os ativistas nem sabiam quem eu era."
De facto, e ainda de acordo com a 'Sábado', no Relatório Anual de Segurança Interna de 2022, as secretas portuguesas incluíram "a radicalização do ativismo" climático. "Alguns setores da extrema-esquerda e militantes autónomos continuaram a impulsionar a luta ambientalista, sendo notório o alargamento da sua base de apoio junto da sociedade civil, particularmente da população estudantil, e a radicalização do seu ativismo (em determinados casos, aproximando-se do extremismo)", lê-se no documento.
Mas afinal quem são os miúdos que têm aparecido cada vez mais nestas ações disruptivas em nome do Ambiente? Inspirados em movimentos semelhantes fora de Portugal, começaram a ser vistos na Assembleia da República em 2018, quando ainda conversavam pacificamente com os governantes, mas agora as suas iniciativas são sempre marcadas por alguma violência.
Dividem-se entre três grandes movimentos, o Climáximo, a greve estudantil ou a Extinction Rebellion e a maioria dos jovens já estão sinalizados como impulsionadores da iniciativa. Descubra quem são.JOÃO CAMARGO
Nem só de miúdos vive, na verdade, este movimento pelo Clima. João Camargo, mestre em Engenharia do Ambiente e Produção Animal, é considerado o líder informal do Climáxico e como estando por detrás de muitas das ações organizadas. Em 2018, o também companheiro da filha de Francisco Louçã chegou a reunir-se com o então Ministro do Ambiente por questões relacionadas com o setor. Desde então, estará na retaguarda dos protestos mais desafiantes levados a cabo pelos ativistas.
Climate Strike Lisboa #globalclimatestrike #ClimateStrike #greveclimatica #climaximo #salvaroclima #gretathunberg #350org pic.twitter.com/afMps5sxAu
— João Camargo ? ??? (@JoCamargo83) September 27, 2019
MATILDE ALVIM
Foi dos primeiros rostos jovens a surgir ligados ao ativismo em Portugal. Em 2019, então com 17 anos, Matilde Alvim recebeu Greta Thunberg na sua passagem por Portugal e conseguiu impulsionar o movimento da Greve Estudantil pelo Clima por todo o País. Depois disso, viria a ser convidada por João Matos Fernandes para uma conversa no Ministério do Ambiente.
FRANCISCO PEDRO Em 2019, Francisco Pedro interrompeu o discurso de António Costa e tentou tomar o microfone, enquanto, nesse mesmo momento, choviam na sala da FIL, em Lisboa, aviões de papel em protesto contra a construção do aeroporto no Montijo. Acusado de desobediência qualificada, foi absolvido no ano passado pelo Tribunal Criminal de Lisboa.
FRANCISCO PEDRO
Em 2019, Francisco Pedro interrompeu o discurso de António Costa e tentou tomar o microfone, enquanto, nesse mesmo momento, choviam na sala da FIL, em Lisboa, aviões de papel em protesto contra a construção do aeroporto no Montijo. Acusado de desobediência qualificada, foi absolvido no ano passado pelo Tribunal Criminal de Lisboa.
ALICE GATO É hoje um dos rostos mais conhecidos do Climáxico. Alice Gato conta que tinha apenas 15 anos quando se começou a interessar por questões ambientais e de lá para cá foi colocando os seus interesses ao serviço de organizações climáticas. É descrita pelos seus 'camaradas' como corajosa e obstinada e já deu a cara por várias ações disruptivas. Em novembro de 2022, colou-se ao chão do Ministério da Economia, com outros ativistas, após uma reunião que não correu como o esperado com o ministro António Costa e Silva. Na altura, em declaração aos jornalistas, o ministro referiu que não havia interesse em nenhum dos intervenientes do protesto em debater o que quer que fosse. "Se me demitir isso não vai acrescentar nada à preocupação ambiental [dos jovens] (…). Eu estava muito interessado em tentar entender as propostas, mas não quiseram discutir."
ALICE GATO
Mais tarde, colou-se a um avião da TAP que ia fazer a viagem Lisboa- Porto, com o coletivo a dar nota de que o protesto se devia ao facto de a indústria da aviação de "estar a matar descaradamente milhares de pessoas com voos inúteis". Pelos atos, foi detida, mas teve apenas de cumprir serviço comunitário. MATILDE VENTURA E CATARINA BIO Em setembro do ano passado, Matilde Ventura e Catarina Bio viram os seus nomes ganharem mediatismo depois de terem atirado tinta verde ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, enquanto falava sobre Metas e as políticas públicas para a transição energética. O vídeo gerou controvérsia nas redes sociais e para o 'Expresso' as jovens escreveram um artigo de opinião em que justificavam os seus atos.
Mais tarde, colou-se a um avião da TAP que ia fazer a viagem Lisboa- Porto, com o coletivo a dar nota de que o protesto se devia ao facto de a indústria da aviação de "estar a matar descaradamente milhares de pessoas com voos inúteis".
Pelos atos, foi detida, mas teve apenas de cumprir serviço comunitário.
MATILDE VENTURA E CATARINA BIO
Em setembro do ano passado, Matilde Ventura e Catarina Bio viram os seus nomes ganharem mediatismo depois de terem atirado tinta verde ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, enquanto falava sobre Metas e as políticas públicas para a transição energética. O vídeo gerou controvérsia nas redes sociais e para o 'Expresso' as jovens escreveram um artigo de opinião em que justificavam os seus atos.