
Quem passou os olhos, na última segunda-feira, dia 26, pela emissão da TVI pode ter-se deparado com um estranho vídeo entre os spots publicitários. A dado momento, as promoções a cosméticos ou artigos de supermercado foram substituídas por um vídeo em que se podem ver enfermeiras com mãos ensanguentadas ou um profissional de saúde a deitar um saco com sangue para o lixo – sugerindo tratar-se de um feto – numa demonização da Interrupção Voluntária da Gravidez. Só no final do vídeo, se pode ver a quem este é atribuído, uma vez que ao lado da frase "Obrigada mãe" surge a assinatura: 'Guru Mike Billions', nome artístico para Miguel Milhão, o excêntrico diretor da marca de produtos desportivos Prozis.
Se tem estado atento ao seu percurso, saberá certamente que esta polémica não é uma novidade no controverso currículo do empresário de Braga. Já no ano passado, na final da Taça de Portugal, tinha comprado tempo em antena para partilhar as suas políticas contra a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez e, se recuarmos ainda mais no tempo, em 2022, conseguimos encontrar as origens da polémica. Por essa altura, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos acabava com o direito constitucional ao aborto no país e a decisão era celebrada pelo dono da Prozis com uma frase que geraria grande polémica. “Parece que os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA! A natureza está-se a curar!”, escreveu Miguel Milhão na sua página do Linkedin.
Depois da opinião partilhada, a crise instalou-se e caras como Jessica Athayde ou Isabel Silva bateram com a porta da Prozis por não se reverem na política do seu diretor. Mas, feitas as contas finais, Milhão levou a melhor: o caso não só não afetou a Prozis como funcionou como publicidade gratuita e, dos mais de 1800 influenciadores que promovem a marca, apenas 11 decidiram terminar a parceria. Hoje, em 2025, o caso parece tão distante que quando Cristina Ferreira ou Carolina Patrocínio 'vendem' nas suas redes sociais, produtos da marca, dificilmente alguém fará relação com a controvérsia de 2022. E, entretanto, o empresário, de 39 anos, soma e segue, tendo mesmo afirmado que se estava nas tintas para aquilo que o País pensava, uma vez que, palavras do próprio, não precisava "de Portugal para nada". "Não preciso de Portugal e não preciso da Prozis. Tenho recursos ilimitados", fez saber.
UMA FORTUNA CONSTRUÍDA DO ZERO
Não se sabe ao certo quanto mede a fortuna do bracarense, mas é público que é dono de um grupo que fatura cerca de 200 milhões de euros, tem 12 fábricas em Portugal e emprega mais de 1500 pessoas. Uma empresa que construiu do zero quando, aos 23 anos, e apenas semanas depois do casamento, ficou a saber que a mulher estava grávida. Os seus negócios até então pouco lucrativos precisavam de um abanão e a Prozis acabaria de nascer dessa urgência de mudança.
Antes, teve uma vida confortável, em Braga, ainda que goste de recordar que ele próprio poderia ter resultado num aborto, não fosse a resiliência da progenitora, que decidiu ser mãe solteira, aos 19 anos, ainda que anos mais tarde também tivesse casado com o pai de Milhão. "Nasci cego do olho esquerdo, a minha mãe era nova, tinha 19 anos, solteira e eu era um candidato fixe para o aborto. Mas ela pensou diferente — mandaram-na fazer [refere-se à interrupção da gravidez], mas ela não fez, e aqui estou", partilhou aquele que não deu seguimento aos estudos por considerar a escola "demasiado fácil" e pouco estimulante.
Acabaria, isso sim, por apostar tudo dos negócios, com o apoio da mulher, que permaneceu em casa a cuidar dos três filhos, enquanto ele fazia fortuna. Sobre a relação, é mantida no segredo dos deuses, mas as crenças de Milhão sobre o casamento nem por isso, com o empresário do Norte a já ter partilhado algumas considerações igualmente polémicas.
"Se eu tivesse uma filha que tivesse sido violada, ou se a minha mulher tivesse sido violada, eu tentaria falar com ela e cuidava dessa criança. Não consigo sacrificar um inocente pelos crimes de um criminoso. Não consigo fazer essa cena", disse, mostrando-se pouco interessado na opinião da companheira sobre o assunto. "Já falei com a minha mulher sobre isso, mas não me lembro do que ela disse…"
Sem medo de dizer o que pensa, mesmo que isso pode chocar – e choca frequentemente – Miguel Milhão surpreenderia poucos pela forma como manifestou o seu apoio a André Ventura no seu podcast 'Conversas do Karalho', que conta com mais de 50 mil subscritores no Youtube. "O futuro primeiro-ministro de Portugal", disse, como nota de boas-vindas.