Enquanto o mundo aplaude de pé movimentos como o #metoo e o empoderamento feminino é uma nova forma de estar na vida, no Palácio da Zarzuela as janelas permanecem fechadas aos ventos de mudança e respira-se até um certo cheiro a bafio que, na verdade, não é igual para todos os elementos da família.
É quase um 'faz o que eu digo, não faças o que eu faço'. Enquanto Felipe VI teve liberdade de escolher a sua noiva, casando com uma jornalista, plebeia e divorciada, a mais velha das filhas dos reis, Leonor, herdeira ao trono, parece não gozar dos mesmos privilégios reais e poderá pagar pelos erros que um clã inteiro cometeu até aqui.
Se Juan Carlos manchou a imagem da realeza devido aos escândalos de corrupção e infidelidades à rainha Sofia, esperava-se que Letizia e Felipe VI conseguissem limpar finalmente a imagem de uma realeza doente. E pareciam estar a ser bem sucedidos nesta tarefa até que a 'bomba' da traição da rainha com o ex-cunhado, Jaime del Burgo, rebentou no trono, fazendo com que, de repente, Juan Carlos quase parecesse um santo.
Devido às novas polémicas, passou a haver um regime de tolerância zero para controvérsias. De acordo com a especialista Pilar Eyre, Leonor conhece bem as regras do jogo e sabe, por exemplo, que o seu futuro noivo terá de ter uma espécie de aprovação prévia e, acima de tudo, terá de passar naqueles que se consideram alguns 'pontos fulcrais' para poder haver casamento. "Não pode ter um passado polémico: noivas problemáticas, drogas, cadastro nem amigos dispostos a contar a sua intimidade em praça pública", disse a jornalista à 'Lecturas', para justificar que, no fundo, o futuro marido de Leonor terá ter um ficha limpa ao nível de uma Virgem Maria.
Mas isto é apenas um detalhe da longa lista de items em que a princesa Leonor terá de pôr um certo, se quiser levar um noivo ao altar. Por exemplo, se nos dias que correm andamos constantemente a ouvir que não importa se somos bonitos ou feios, gordos ou magros (na verdade, estas passaram a ser palavras quase banidas do dicionário porque o que importa é sermos felizes, não é?), pois bem, Letizia e Felipe estão-se nas tintas para essas 'balelas'. Então uma 'estampa' como a princesa agora ia passar a vida a olhar para um pequeno ogre? Nada disso. Por alguma coisa, o seu marido será um príncipe e não um sapo. "O príncipe consorte vai ser dos homens mais fotografados do Mundo, por isso é de esperar um sorriso e um semblante agradáveis", afirma Pilar Eyre para justificar porque é que o marido de Leonor terá de servir também para lavar a vista dos súbditos espanhóis.
No fundo, em Espanha ainda se casa à antiga e a jornalista adverte que Leonor não ganha nada em olhar para exemplos como o da prima Victoria Frederica, que faz o que quer e lhe apetece, ou outros casos próximos da realeza Europeia, como a princesa Stephanie do Mónaco que fez do lema 'amor e uma cabana' um modo de vida. Para Leonor, a única cabana que pode entrar na equação é uma daquelas casitas à beira de água para umas férias nas Maldivas, uma vez que um marido pobre está fora de questão.
Se isto for tão verdade como os especialistas em realeza espanhola apregoam, Leonor, que atingiu a maioridade em outubro, já deve estar a fazer contas à vida ou a pensar se não vai ser a única rainha solteirona do pedaço, uma vez que preencher todos os requisitos impostos é quase tão difícil como acertar no Euromilhões. E se for possível, claro, conciliar esta longa lista com o facto de estar apaixonada, mas talvez isso já seja demasiado. Pelo sim, pelo não, esse ponto fica para último, depois logo se vê!
Ironias à parte, a verdade é que este se tornou num tema em Espanha desde que Leonor assinalou 18 anos. Seria de esperar que - e seguindo os exemplos de outras casas reais - a filha mais velha dos reis de Espanha pudesse viver a vida nos seus termos, sem passar cavaco a ninguém, e escolher simplesmente aquele que quer a seu lado. Por exemplo, se se confirmasse que a princesa está, de facto, a achar piada ao jogador da Seleção espanhola Pablo Gavi, que mal teria se ela fosse a primeira rainha WAG a subir ao trono?
Parece que esta é uma questão que está a deixar determinada elite espanhola com os cabelos em pé. Preocupados com a continuação da coroa, temem que a princesa não saiba "casar bem", colocando a instituição em perigo e perpetuando as polémicas das últimas décadas. De acordo com Pilar Eyre, é por essa razão que este afamado grupo de nobres espanhóis está a reunir esforços no sentido de encontrar o parceiro certo para Leonor, para evitar que outro plebeu lhes caia na sopa, como Letizia, não vá o 'sangue mau' correr nas veias da princesa e tê-la feito herdar a genética do povo e um certo gosto para o 'pé de chinelo'.
Certo é que o futuro noivo de Leonor é, para muitos, um barómetro para saber em que ponto estamos na casa real espanhola. Se fosse um teste de cruzinhas de uma revista de verão iria ter no título qualquer coisa do género: "em que século parou a família real?"
Se descartarmos as elites mais conservadoras, muitos acreditam que não irá haver lugar para extremismos e, como pais que querem o melhor para a filha, Letizia e Felipe estarão atentos, sim, mas não irão interferir nas escolhas de Leonor porque irão desejar o mesmo que a maioria dos pais do mundo: que a sua menina seja feliz. Mas vá, de preferência com alguém bonito, com uns sete ou oito nomes pomposos e, claro, um património interessante, porque toda a gente sabe que um ordenado mínimo não dá para comprar malas Yves Saint Laurent, não é?
