
Os portugueses, que andam pela casa dos 50 e 60 anos, ainda guardam na memória uma música infantil que começava assim: "Vamos falar de animais e de como eles são / Do periquito, do gato e do cão / E outros mais também virão / Talvez uma girafa um macaco ou um leão" (estes últimos, felizmente, não saíram do Jardim Zoológico para a campanha eleitoral) e depois continuava com o refrão "É o fungagá / Fungagá da bicharada…".
Ora nesta campanha eleitoral para as Eleições Legislativas de 2022 temos dois líderes dos principais partidos que andam exatamente por estas idades – António Costa tem 60 anos e Rui Rio 64 – e, talvez por isso, se lembrem bem dos tempos em que eram adolescentes e o apresentador Júlio Isidro animava as tardes da criançada a falar de bichos, o filósofo e professor José Manuel Barata-Moura dedilhava músicas infantis nas cordas da sua viola.
Amigos dos animais como parecem ser, e saudosos dos tempos em que os bichos eram "nossos amigos", eis que Rui Rio criou, acreditamos que inadvertidamente, uma revolução na campanha, ao revelar os pensamentos e as angústias do seu gato de estimação, Zé Albino, no seu Twitter. Rio deu alma ao bichano ao dizer, no dia 19 deste mês, que "O Zé Albino anda desolado com a aproximação do PAN ao PS". Estava lançado o mote: a campanha virou, num tirinho, um verdadeiro fungagá da bicharada.
BICHOS À SOLTA NA CAMPANHA
De um momento para o outro, aquela que parecia estar a ser a campanha mais enfadonha, onde imperavam as ideias vagas e os insultos velados em comícios e arruadas, um dos principais tema dos diretos televisivos passou a ser... o que o Zé Albino! E o que o gatucho "pensava" sobre o PS, sobre António Costa, a análise felina sobre o andamento da campanha e quais as suas expectativas de se mudar para Lisboa. E tudo isto enquanto gato tristemente confinado e afastado do dono.
Enquanto Diabo esfrega um olho, o socialista António Costa jogou a sua "cartada animal" ao lançar também para a praça pública, o que sentem os seus cães Docas e Naná. Mas como foram os últimos animais nesta campanha a quem o dono deu voz e alma, vamos deixá-los para o fim deste artigo, que isto dos "tempos de antena animal" obedece a uma certa ordem.
João Cotrim de Figueiredo não se ficou! Exatamente no mesmo dia, o presidente do Iniciativa Liberal, proativo como é costume, antecipou-se e, não querendo ficar atrás na exposição pública do animal doméstico, usou logo uma fotografia da sua cadela Bala, em pé, para provar que o partido que lidera está direito e sempre a subir e com a seguinte mensagem associada: "Já a Bala anda muito entusiasmada com o crescimento da IL e com a hipótese de reformarmos o país nos próximos quatro anos!"
Mas como começou a febre da bicharada? O 'tweet' de Rio surgiu depois de António Costa ter rejeitado publicamente a ideia de estar refém do PAN, ou mesmo de qualquer outro partido, para formar governo.
António Costa não respondeu logo, mas o também hiperativo Rui Tavares reagiu à brincadeira e "atiçou fogo à estopa". Aliás, na véspera do fenómeno Zé Albino, com direito a mostrar o rosto, já o fundador e candidato do Livre tinha publicado uma imagem do seu gato no instagram pessoal. O bichano, Camões de seu nome, só ganhou nome, porém, no dia seguinte (19, claro), no twitter, já sem livros em redor, mas com direito a comentário que igualmente desvendava o estado de espírito do bichano: "Olha, e o Camões anda eriçado com as hesitações do PSD com a extrema-direita".
Os restantes líderes partidários, que tentavam manter a campanha minimamente séria, também não resistiram a reagir e começou uma chuva de 'tweets' e 'post' sobre o tema "Zé Albino & Companhia".
Inês de Sousa Real, a porta-voz do PAN, mesmo mantendo a privacidade e integridade física da sua cadela Luna, ao não publicar uma foto da mesma - ou não fosse a preservação dos animais (e também da sua imagem) uma das bandeiras do seu partido – não deixou Rui Rio sem resposta. "Caro Rui Rio, não vale a pena ter ciúmes! Até porque tenho cá para mim que o Zé Albino vota mesmo é no PAN!".
Na verdade, a foto da cadela já era conhecida desde agosto de 2021, quando a apresentou no seu instagram, dando conta que além da cadela abandonada até chegar aos seus braços, também tem a seu cargo o Mikas, um gatinho que foi adoptado enquanto "juvenil".
NINGUÉM BATE ZÉ ALBINO NO 'TWITTER'
O 'tweet' de Rui Rio sobre o facto do seu gato Zé Albino ter desconfiado haver marosca no apoio e possível futuro entendimento entre António Costa e Inês Sousa Real do PAN não foi, contudo, a primeira intervenção pública do felino do líder laranja.
A odisseia no twitter do gatucho começou a 8 de janeiro, quando o gato, pela interpretação do dono, já se tinha manifestado: "O Zé Albino está a verificar se eu estou ali atrás da televisão. Um ‘raciocínio’ ditado pelas saudades de quem já não me via há cinco dias em carne e osso".
A publicação, aparentemente inocente, fez disparar os gostos e Rio teve mais de 4,4 mil pessoas fãs do seu Zé Albino. Como em tempo de guerra não se limpam armas nem se cortas as garras ao gato, o líder social-democrata capitalizou a popularidade do seu bichano e começou a usá-lo como trunfo para captar eleitores. E parece ter surtido efeito.
Dias depois, Rio voltou à carga: "O Dr. António Costa esquece-se que o Zé Albino pode ir para Lisboa". O 'tweet' era metafórico e sobre ele, mas os seguidores de Rui Rio gostaram e continuaram a aplaudir a ousadia de Zé Albino, o gato que já sonha ser mascote, conquistar São Bento, bater grandes sonecas ao sol nos jardins da Residência Oficial do Primeiro Ministro e ronronar com os afagos dos funcionários da casa.
Como o prometido é devido e em democracia há tempo de antena para todos, António Costa contra atacou Rio e o PSD soltando os cães lá de casa e nós revelamos a resposta.
À provocação do gato de Rui Rio, que já se vê instalado com o dono em Lisboa no bem bom das mordomias de São Bento, o secretário-geral do PS respondeu que "a Naná e o Docas", a sua cadela e o seu cão: "já estão habituados às [suas] ausências e não se deprimem".
E formulou um desejo sarcástico para o futuro de Zé Albino: "É indiscutivelmente um gato bastante simpático, embora Rui Rio o tenha deprimido. Mas desejo as melhoras do Zé Albino, que ele rapidamente se reanime. Com a vitória do PS o Zé Albino vai sentir-se menos só e Rui Rio vai ter mais tempo para ficar em casa".
O MISTERIOSO SILÊNCIO DA COELHA ACÁCIA
Estranhamente, fora desta campanha onde os bichos foram mais protagonistas e populares do que certos donos, ficou Acácia, a coelhinha fofinha e peluda de estimação que André Ventura trata como uma filha - e que desejamos que continue de boa saúde, a mimar o dono.
Em 2019 Ventura chegou a fazer sessões fotográficas com a amada coelha. Será que agora quer manter preservada dos holofotes da fama a bichana que expôs aos mundo aquando das Legislativas de 2019? Só Ventura e Acácia poderão revelar...