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Há 20 anos a ser acusado de ser "pesetero", Luís Figo conta agora tudo sobre a verdadeira "traição"... que não foi a Helen Svedin

Corria o ano de 2000 quando o antigo futebolista internacional português protagonizou aquela que para muitos é a transferência mais chocante da história, trocando o clube que é um dos principais símbolos da Catalunha pelo Real Madrid, o eterno rival da capital. Agora, chega através da plataforma de streaming o documentário ‘O Caso Figo: A Transferência que Mudou o Futebol’ com explicações de todos os intervenientes diretos sobre o que levou àquele surpreendente desfecho.
Afonso Coelho
Afonso Coelho
25 de agosto de 2022 às 23:37
Luís Figo e Helen Svedin
Luís Figo e Helen Svedin Foto: getty images

Há pouco mais de 22 anos rebentava uma das maiores ‘bombas’ da história do futebol. Luís Figo, herói e símbolo do FC Barcelona, era apresentado no eterno arquirrival Real Madrid, em troca de 10,3 milhões de pesetas, 60 milhões de euros, cumprindo-se assim uma promessa do presidente madridista Florentino Pérez da qual até o próprio craque português duvidava.

Nesse dia, o futebolista natural de Almada tornou-se no inimigo número 1 na Catalunha. Os adjetivos multiplicavam-se – ‘pesetero’ era o mais comum – e o desespero vivido pelos barcelonistas ao encaixar o que se havia acabado de passar seria praticamente indescritível.

Em outubro de 2000, Figo encontrou pela primeira vez o seu antigo clube: imagens suas eram queimadas nas bancadas, objetos foram-lhe atirados quando bateu um pontapé de canto e, para piorar, saiu derrotado, num jogo que até teve como protagonista outro português, Simão Sabrosa. Dois anos depois, em mais um confronto entre Barcelona e Real Madrid, Figo viveu um verdadeiro inferno, tendo até uma cabeça de porco sido arremessada para o relvado de Camp Nou.

Apesar das várias afirmações que se sucederam sobre a polémica transferência, a verdadeira história nunca foi contada ao pormenor. Contudo, esta quinta-feira tudo isso mudou com a estreia do documentário ‘O Caso Figo: A Transferência que Mudou o Futebol’, na Netflix, com realização de David Tryhorn e Ben Nicholas, que pretende pôr os pontos nos is, com a participação de várias figuras envolvidas no negócio, incluindo Figo e Florentino Pérez, os dois homens que se autointitulam "protagonistas" da história, assim como os intervenientes José Veiga, empresário de Figo à época, ou Paulo Futre, ou outras personagens secundárias como Pep Guardiola.

O QUE CONTA O DOCUMENTÁRIO

O documentário não oferece um ror de novidades a quem tenha acompanhado a saga à época, mas o formato ao estilo "true crime", familiar para quem habitualmente segue as produções da Netflix, eleva a história a outro patamar, dando-nos a conhecer de forma organizada os eventos que levaram Figo a mudar-se para a capital espanhola.

Os eventos são listados de forma cronológica, ainda que existam ocasionais "throwbacks" a eventos que precedem a chegada de Figo ao Barcelona, o ponto de partida da história. O relato é adornado ainda com um completíssimo lote de vídeos, que documentam todas as vicissitudes daquele período da carreira de Luís Figo.

Durante a narração, surgem como que ilustrações os melhores momentos da passagem do português pelos dois maiores clubes de Espanha, tal como o seu percurso no Sporting, que culminou na polémica situação de ter assinado por dois clubes, também com "mão" de Veiga, que aqui tenta explicar o sucedido, e pela seleção no Europeu de 2000, quando o caso que dá nome ao filme documental ganhava forma.

Mas não é só de ação no relvado que foi feito o caminho do extremo: para além de vídeos de "bastidores", que mostram, por exemplo, a forte amizade entre Figo e o seu colega de equipa Pep Guardiola, também pequenas montagens com excertos de telejornais portugueses da altura auxiliam a forma como a história é enquadrada.

A distância temporal entre os acontecimentos e o dia de hoje tem, ainda assim, as suas vantagens e desvantagens: se é o facto de ser um evento ocorrido já bem no passado que permite a José Veiga assegurar que está a contar toda a verdade, também é um fator que, de acordo com o próprio treinador do Manchester City, impede Guardiola de colocar indiretamente a Figo todas as questões que lhe passaram pela cabeça à altura da "traição" que separou os dois colegas de equipa.

Pep Guardiola, Luís Figo
Pep Guardiola, Luís Figo

No fundo, o que se pode concluir das intervenções e imagens presentes nos 104 minutos de documentário é que tudo se deu somente por força do dinheiro: foi com o 'vil metal' que Futre convenceu Veiga a ponderar pela primeira vez alinhar na promessa aparentemente irrealista de Florentino Pérez, na qualidade de candidato à presidência do Real Madrid, de fazer Figo vestir a cor do emblema ‘merengue’.

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'Non tengo palavras para agradecer todo o carinho que recebi de todos vosotros'. Paulo Futre em direto da cama do hospital pede pijama especial

Tudo se dá quando José Veiga desliga o telefone a Futre após este ter levantado pela primeira vez o assunto a pedido de Florentino. Aí, Futre finge que a conversa continua e pensa que consegue encontrar a solução para desbloquear o primeiro passo do negócio: "Se Florentino Pérez paga tantos milhões em 'cash', pode pagar mais algum. No momento em que meto o telefone em cima da mesa [depois de falar com Veiga], digo para o Florentino: 'Ele quer 10 mlhões de euros de comissão'. Ele primeiro diz 5 e depois chega aos 6", referiu o ex-jogador, curiosamente lenda de outro dos rivais do Real Madrid, o Atlético.

E foi também devido à recusa da direção do Barcelona de aumentar o ordenado de Figo que este sentiu não ter o "carinho e reconhecimento" que considerava merecer por parte da direção barcelonista, em oposição, segundo ele, ao apreço que lhe era endereçado pelos adeptos culés, e que o levou a não desmerecer imediatamente a ideia de se juntar ao inimigo.

Figo, Barcelona
Figo, Barcelona Foto: Getty Images

Os dias que antecederam a eleição de Florentino Pérez como líder ‘blanco’ são o clímax da ação do documentário, que ilustra perfeitamente a insegurança de Luís Figo – ao contrário da de Pérez que frisa que nunca teve dúvidas – quanto à decisão que iria tomar, através de dois momentos consecutivos.

Primeiro, a reunião de Veiga com Pérez em que o empresário afirma à imprensa que esperava estar de novo ali depois das eleições. Pouco depois, a entrevista ao ‘Sport’ pedida pelo próprio, na qual garante a sua continuidade e veste uma camisola do Barcelona, percebendo-se na transição para o discurso direto um esgar pouco comum de um certo arrependimento com o que se passara naquele verão.

Por fim, a "perseguição" de Veiga e Futre a Figo, voando até à Sardenha, onde o futebolista se encontrava de férias, para o convencer a assinar o contrato, com o empresário em desespero dado que teria de desembolsar 5 mil milhões de pesetas, ou 30 milhões de euros, para anular a saída de Figo.

O português ficaria quase convencido depois de uma conversa com o novo responsável máximo do Real Madrid, já em Lisboa, mas a conversa telefónica com Helen Svedin fê-lo novamente mudar de ideias, até que, em mais um volte-face, tomou, por "pensar em si", a decisão final de assinar pelo rival, depois de Florentino sublinhar o desejo que tinha de o ter no clube.

Figo tornou-se assim no primeiro "galáctico" de Florentino Pérez. Zidane, Ronaldo Fenómeno e Beckham chegaram nos anos seguintes, um por época, construindo desta forma uma das grandes super-equipas (pelo menos em termos de nomes) do futebol mundial.

Luís Figo, Real Madrid
Luís Figo, Real Madrid Foto: Getty Images

A DISCRETA VIDA FORA DO FUTEBOL

Quando saiu do Real Madrid, 245 jogos e 58 golos depois, Figo mudou-se para Itália, onde alinhou durante quatro épocas pelo Inter de Milão, e foi na cidade da Madonnina que teve como treinador José Mourinho.

Após a reforma, o clube milanês ofereceu-lhe o lugar de diretor de relações externas, cargo que cumpriu durante alguns anos. Em 2015, foi candidato à presidência da FIFA, tendo desistido antes das eleições, e depois tornou-se presença frequente em ações relacionadas com as entidades desportivas europeias e mundiais, assim como em encontros de antigos jogadores.

Não obstante todo o seu impacto no desporto, Luís Figo é uma personalidade que prima pela discrição. Raramente envolto em polémicas e sem qualquer extravagância na sua presença nas redes sociais, o antigo internacional português viveu a sua vida extrafutebol num tom incontornável de subtileza.

Sem o publicitar muito, Figo investiu em alguns negócios depois de pendurar as chuteiras. Por exemplo, o antigo futebolista é, de acordo com a ‘Vanitatis’, administrador e sócio da holding Damash Assets e proprietário da Damash Minerals, empresa portuguesa da área da exploração de minerais. Esta veia empresarial já lhe deu, todavia, alguns dissabores, dado que a Damash Assets terá sofrido perdas no valor de 155 mil euros, em 2020.

O único fator que poderia desafiar esta sólida compostura foi o rumor, nascido em fevereiro deste ano, de que o já duradouro casamento com Helen Svedin, modelo sueca que conheceu durante os seus tempos em Barcelona e com quem tem três filhas, estaria prestes a ruir.

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'Casamento por um fio'. Luís Figo 'a dar tudo para salvar casamento'

Tudo começara com uma notícia da ‘Hola’ de que Figo se refugiara durante duas semanas num hotel em Madrid, cidade onde o casal reside, devido a desentendimentos matrimoniais. A publicação afirma que fontes próximas do casal confirmavam que existia uma luta para tentar salvar o casamento e terão usado esse tempo a sós para refletir acerca da situação atual.

Facto é que, no dia de S. Valentim que se seguiria, Figo e Helen mostraram-se juntos numa publicação nas redes sociais. Um mês depois, recorrendo a fotografias tiradas ao casal durante um encontro num hotel, a ‘Hola’ concluiria que a crise estava ultrapassada, ainda que, desde então, persistam as especulações sobre uma possível cisão.

Se tal correspondia à verdade, aliás, somente os dois saberão, mas de ambos nunca surgiram, e dificilmente surgirão, achas para a fogueira. Aí, independentemente dos boatos, Luís Figo não alterou em nada a sua conduta ou faceta mediática e permaneceu subtil e discreto, fugindo assim ao tal… "protagonismo" que assumiu em julho de 2000, pelo menos até o fazer novamente diante das câmaras da Netflix.

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