
São tempos difíceis para a rainha Isabel II. Os escândalos no seio da sua família – aquela pela qual tanto se esforçou que fosse um modelo de integridade moral, além de um exemplo para os seus súbditos – deixam-na triste, abalada e, principalmente, muito envergonhada. Além disso, a monarca britânica perdeu em 2021 o homem que amou ao longo da sua vida, o pai dos seus quatro filhos, o seu porto seguro, o seu farol. Aquele que foi o seu ombro amigo durante todo o seu longo reinado. O príncipe Philip. Nada a preparou para tão grande perda.
Agora, a somar a isso (ou por tudo isso), enfrenta problemas de saúde. Aos 95 anos de idade, depara-se com uma fragilidade física que desconhecia, da qual não gosta nada, pois não aprecia estar dependente de ninguém. Recusa-se a ser vista em público em cadeira de rodas. Quer que guardem dela a imagem de uma mulher forte e dura. Aquela que nunca – ou raramente – se permitiu mostrar emoções, mesmo quando isso nada abonava a seu favor. Continuará a preferir que se recordem dela como uma mulher fiável, séria, íntegra e forte como uma rocha, que nada nem ninguém conseguiu amedrontar e impedir de prosseguir os desígnios a que se comprometeu no dia em que foi coroada rainha de Inglaterra, no já longínquo 2 de junho de 1953, na abadia de Westminster, em Londres.
Dores e contrariedades que, ainda assim, não a atingiram tão fundo quanto aquilo que o neto Harry lhe fez. Sim, isso foi algo que a feriu profundamente. Um sofrimento e uma angústia difícil de ultrapassar, pois veio de quem ela menos esperava. Do seu menino! Aquele (o único) neto a quem Isabel II se afeiçoou como a ninguém mais. Aquele a quem sempre passou a mão pela cabeça. Aquele a quem ela sempre desculpou as maiores traquinices de infância e rebeldias de adolescência. Aquele a quem deu colo e que tantas vezes a cativou pelas suas graças. Aquele a quem ela não conseguia dizer "Não". Sim, aquele que foi (e ainda será) o seu neto preferido.
DA PROTEÇÃO AO AMOR
Mas como nasceu esta relação entre avó e neto? De onde vem esta afeição já que nem sequer é ele o herdeiro do trono, mas sim o seu irmão William? Pois bem, Isabel II "reparou" em Harry a partir da separação de Diana e Carlos, mas ainda mais aquando da morte de Lady Di no fatídico 31 de agosto de 1997. À data da tragédia, William tinha 15 anos e Harry apenas 12.
Órfãos de mãe, a monarca passou a olhar com outros olhos para os netos. Mas enquanto o príncipe herdeiro, muito reservado e tímido, se recolheu na sua concha para gerir o luto, o irmão mais novo começou a manifestar sinais de carência. Sentia saudades da mãe, da sua atenção, dos seus carinhos físicos. O pai, o príncipe Carlos, mostrava-se incapaz de dar tudo isso aos filhos. E mesmo que tentasse, Harry necessitava de uma figura maternal na sua vida. As amas – por mais competentes que fossem - não conseguiam colmatar essa lacuna. Assim, a criança foi aproximando-se da avó. Se no início ela estranhou esta aproximação, aos poucos foi-se deixando conquistar por aquele menino ruivo. Pela sua vivacidade e pela sua meiguice. Com o tempo, avó e neto foram construindo uma relação muito próxima, embora ela continuasse a mostrar-se um tanto desconfortável com as manifestações de afeto físico de Harry. Mas diga-se que foi esta vivência que "amoleceu" o coração da rainha. Começou a rir-se com as traquinices do menino, a abrir-lhe os braços quando ele corria para ela… até a aconchegar-lhe a roupa da cama sempre que o neto passava uns dias com ela em Buckingham ou Balmoral.
Mas por que não estabeleceu ela uma ligação idêntica com William? Também ele, tal como Harry, tinha perdido a mãe… A razão é simples de explicar. William e Harry têm personalidades completamente diferentes. Sempre que Isabel II olhava para o neto mais velho, via nele Diana. O mesmo olhar tímido, o mesmo sorriso envergonhado e a mesma reserva discreta. A nora continuava presente através do filho mais velho. É evidente que essas semelhanças não influenciaram a distância, mas também não ajudaram a uma aproximação. Depois, o jovem também não era tão carente quanto Harry. Fazia-se forte, pois era isso que lhe era exigido como herdeiro do trono e a monarca incentivava essa atitude. Nunca acreditou que o mimo e o afeto em excesso fossem benéficos para alguém que, no futuro, tem um papel tão importante, quanto William, no seio da monarquia inglesa. Isabel II queria – e continua a quer – que o atual duque de Cambridge seja o mais parecido com ela quando chegar ao trono. Esse é no seu entender o segredo de um rei exemplar. Um rei que estará preparado para todas as vicissitudes por mais duras que estas se lhe apresentem.
A REBELDIA DE HARRY Já Harry, nunca teve este peso sob as costas
Em 2012, novo escândalo. A Inglaterra e o mundo deparavam-se com fotografias de Harry completamente despido numa festa de excessos. Harry cobria o órgão genital com as mãos, num hotel de Las Vegas. O jovem príncipe tinha 22 quando reservou uma luxuosa suite naquela unidade hoteleira onde acabou por dar uma festa regada com muito álcool. De acordo com amigos de Harry que estiveram nesta festa, Harry despiu-se para "apimentar" uma partida de snooker. Sempre que alguém perdia pontos, despia uma peça de roupa. Mais uma vez, e após um pequeno raspanete, Isabel II voltou a passar a mãe pelo cabelo do neto rebelde. Ele sabia bem como acalmar a avó e como conquistá-la, sempre que ela se zanga por ele ter ultrapassado os limites do razoável.
COMO TUDO MUDOU
Hoje, avó e neto estão distantes. Deixaram de estar próximos em todos os sentidos e Isabel II sofre. Continua a sofrer muito. Não estava à espera que o Harry lhe fizesse o que fez e culpa Meghan Markle por ter virado a cabeça ao neto. Para a monarca, a norte-americana é a única responsável pelo príncipe ter virado costas à família real. De ter trocado o seu país pelos Estados Unidos. Considera que a ex-atriz é que orquestrou o tão polémico Megxit. A maior facada que poderia receber do seu amado neto e que lhe foi desferida quando Harry e Meghan Markle anunciaram, através do Instagram, que abdicavam dos títulos reais, bem como de todas as regalias como membros seniores da família real britânica, incluindo financeiros. Isso implicou a saída de Inglaterra e a mudança de continente.
Ficou privada de contactar de perto com o neto e com o bisneto, o pequeno Archie que nessa altura já era nascido. Não voltou a ver o menino. E ainda não conhece a bisneta, Lilibeth Diana que já nasceu em Los Angeles. Pior, é provável que já não venha a conhecer a menina, já que Harry tem deixado de querer marcar presença nos mais variados eventos que são tão importantes para a monarca, como a cerimónia que vai assinalar o primeiro ano da morte do príncipe Philip, avô de Harry.
Também a festa do 95.º aniversário de Isabel II dificilmente contará com a presença do duque de Sussex e a monarca começa a questionar-se se voltará a rever o neto. Se terá oportunidade de voltar a abraçá-lo, agora que se sente mais frágil e doente. Só anseia que volte, pois todas as afrontas que lhe foram infligidas por Harry – como aquela terrível entrevista que ele e a mulher concederam a Oprah Winfrey – já estão perdoadas por esta avó que se atreveu a amar tanto este menino ruivo que um dia lhe esticou os braços para que ela o pegasse ao colo.