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THE MAG - Entrevista

Mimicat, a mulher dos "olhos de gato" que venceu o Festival da Canção e chorou "a potes" no momento da vitória. E não foi só de emoção..

Mãe de dois filhos, um com quatro anos e outro com onze meses, Marisa Mena, a artista que andou sempre pelo mundo da música como uma 'outsider', conseguiu finalmente, aos 38 anos, "o momento" que teimava em surgir. Quando o seu nome foi anunciado como a vencedora do Festival da Canção, a cantora chorou e explica agora o porquê de tantas lágrimas.
Miguel Azevedo
Miguel Azevedo
16 de março de 2023 às 22:25
Um sonho tornado realidade para a cantora Mimicat vencedora do Festival da Canção 2023
Mimicat, Vasco Palmeirim, Filomena Cautela, Inês Lopes Gonçalves
Mimicat
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Mimicat, Vasco Palmeirim, Filomena Cautela, Inês Lopes Gonçalves
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Já militava pelo difícil e muitas vezes ingrato mundo da música, imagine-se, há quase 30 anos, mas o nome de Marisa Mena ou Mimicat (adoptado em 2014) era, até à presente edição do Festival da Canção (a 57ª), completamente desconhecido. No passado sábado, no entanto, tudo mudou e Mimicat, a mulher de "olhos de gato", mãe de dois filhos pequenos que, sem dizer nada a ninguém, resolveu "tirar da gaveta uma canção feita há dez anos" e concorrer ao festival, está hoje por todo o lado. No próximo mês de maio, vai representar Portugal na Eurovisão, em Liverpool, no Reino Unido, primeiro na semifinal do dia 9 e depois, "se tudo correr bem" na final do dia 13. E lá por fora já se começa a falar dela. E de que maneira... 

Independentemente do que acontecer na Eurovisão, Mimicat já teve aquilo que há muito procurava, mas teimava em chegar: o seu "momento", diz. A noite de sábado, que ditou a vitória no Festival da Canção, foi há menos de uma semana, mas já tudo está diferente. "Ainda não consegui aterrar. Descansei ali um bocadinho no domingo, para estar com a família, mas desde então que tenho andado a mil. Ainda assim tem sido a tempestade perfeita", desabafa à The Mag. A grande final, no dia 13, está já à distância de menos dois meses e Mimicat ambiciona lá estar. Por isso, promete arrasar e garante: "Vamos com tudo!". 
Tendo sido a preferida dos portugueses para ganhar o festival da Canção em Portugal, Mimicat ainda está longe de uma posição de destaque nas casas de apostas para a Eurovisão e o mais recente ranking colocava-a apenas na 26ª posição, entre os 37 concorrentes. A verdade é que o tema 'Ai Coração', que descreve uma crise de ansiedade de forma bem humorada, misturando a pop e o jazz com uma toada inspirada na música dos Balcãs, tudo num ambiente de cabaret e meio burlesco, já merece os mais rasgados elogios dos fãs da Eurovisão no canal oficial do concurso. "Este ano, Portugal não vem apenas para concorrer mas para ganhar", escreveu, por exemplo, um seguidor italiano. "Paixão", "Uma obra prima", "Se a arte fosse um país, seria Portugal" são alguns dos comentários que se podem ler.     


Nascida em Coimbra a 25 de Outubro de 1984, Marisa Mena gravou o seu primeiro disco aos 9 anos, tendo seis anos depois, aos 15, concorrido pela primeira vez ao Festival da Canção, em 2001, com a canção 'Mundo Colorido', então com o nome de Izamena. No entanto, não chegaria sequer à final. Depois andou por uma banda chamada Casino Royal até assumir o alter-ego de Mimicat, com o qual gravou dois discos, 'For You' em 2014 e 'Back To Town' em 2017. Já este ano e porque não tinha "nada a perder" justifica, resolveu enviar uma "demo" ("gravação") para o Festival da Canção na modalidade de livre submissão por contraste com os convite que são feitos pela organização. E quando lhe ligaram a dizer que tinha sido aceite até pensou que era a brincar. 

Começando por rebobinar a cassete atrás, como é que o coração da Mimicat lidou com as emoções do passado sábado?
Foi o que se viu. Eu quase não conseguia falar porque estava mesmo muito emocionada. Houve uma altura em que me perguntaram qual era a primeira coisa que eu faria se ganhasse o festival e eu sempre disse que choraria a potes. E foi isso que aconteceu (risos). Foi um misto de alegria, cansaço e alívio. 
Alívio porquê?
Porque eu já andava a trabalhar há muitos anos para que algo acontecesse, para ter o meu momento, algo que ainda não se tinha proporcionado. O festival foi o culminar de todos estes anos de muito trabalho, sempre rodeada de pessoas de quem gosto muito e que sempre me ajudaram. Por isso também foi muito bom saborear aquele momento com essas pessoas. Ou seja, hoje tenho um coração muito feliz. 

"Eu quase não conseguia falar porque estava mesmo muito emocionada"
Diz que teve agora o seu momento depois de muito trabalho. O que é que estava a faltar?
Acho que me estava a faltar a música certa no momento certo. Corrijo: se calhar até já tinha tido a música certa, não tinha era surgido o momento. O que eu acho agora é que se alinhou tudo.  
 
Mas não é frustrante, depois de tantos anos, a coisa espoletar com uma canção numa única atuação na televisão?
Não, de todo! Uma das coisas que eu nunca duvidei foi das minhas capacidades. Se nunca desisti da música é por nunca ter duvidado do meu talento, da minha energia e do meu carisma. Neste momento só posso estar feliz por ter uma canção a chegar às pessoas desta maneira. Nem eu, alguma vez pensei que as pessoas dessem este feedback à música. 
O seu filho de quatro anos viu a mãe na televisão a ganhar o Festival?
Sim, mas ele diz que eu não ganhei nada (risos). Coitadinho, ele tem apenas quatro anos e ainda não percebe nada. A primeira semifinal, por exemplo, ele simplesmente rejeitou. Disse que a mãe tinha era que estar em casa e não na televisão (risos). Na final é que a minha mãe me disse que ele esteve sempre muito quietinho a olhar para mim.  

O que é que espera que aconteça agora?
Agora é voltar a fazer o que já fizemos, darmos o nosso melhor, dar a paixão que todos temos por isto, tentarmos fazer na Eurovisão uma apresentação que seja fiel à minha visão para a canção. Vamos lá mostrar o que Portugal tem para dar ao resto da Europa e do mundo. O que eu posso dizer é que vamos com tudo.  
 
O que há para saber sobre a canção?
O 'Ai Coração' foi escrito há dez anos, no chão de uma casa a olhar para o teto. Estava aborrecida à espera de uma pessoa e a música começou a sair naturalmente "Aiiiiiii Co-ração..." [exemplifica]. A música nasceu ali literalmente em cinco minutos, tal e qual como a conhecemos hoje. A única coisa que não tinha era o último refrão. 
E porque é que essa canção demorou tanto a ver a luz do dia?
Porque eu sempre achei que não era para mim. Na altura estava a lançar o meu primeiro disco, que nada tinha a ver com aquilo. Eu nem sequer cantava em português. Tudo o que eu fazia era em inglês. Por isso, fui empurrando esta canção com a barriga durante estes anos todos, sempre a achar que a ia dar a alguém. A verdade é que nunca a dei (risos). 

"O 'Ai Coração' foi escrito há dez anos, no chão de uma casa a olhar para o teto. Estava aborrecida à espera de uma pessoa e a música começou a sair naturalmente"
Mas chegou a mostrá-la? Nunca ninguém a cobiçou? 
Eu só tinha mostrado a alguns amigos mais próximos e a algumas pessoas da família. A verdade é que toda a gente me dizia sempre que eu tinha que fazer alguma coisa com ela. Só que eu dizia que isto não era Mimicat. 
E como é que ela reapareceu agora?
Há cinco anos eu dei-lhe uma primeira oportunidade. Fiz uma primeira abordagem que por acaso não gostei particularmente porque não estava a conseguir atingir a visão que tinha para a música. Mas daí saiu uma demo [gravação] que eu enviei para o concurso, mesmo no último dia, sem dizer nada a ninguém, nem sequer ao meu marido. Até enviei a candidatura com o nome de Marisa Isabel Lopes Mena e não como Mimicat. O engraçado é que tudo isto aconteceu na altura eu já estava a gravar o meu novo disco que aí vem e à conta do trabalho até me esqueci que tinha concorrido. Quando o Nuno Galopim [RTP] me ligou estava eu em estúdio. Primeiro rejeitei-lhe as chamadas todas e quando finalmente atendi, até julguei que fosse um amigo a gozar.    

É verdade que gravou a sua primeira canção com nove anos?
Sim, mas não foi uma canção apenas, foi mesmo o meu primeiro álbum. Na altura ainda tinha o nome artístico de Izamena. Era um disco de músicas tradicionais como o 'Indo eu a Caminho de Viseu', 'Margarida vai à Fonte' ou 'A Loja do Mestre André' em versão dance (risos). Na altura, foi editado pela Sony/BMG que tinha à frente o Tozé Brito. Mas eu era uma menina  e não tinha a mínima ideia do que estava a fazer; quando era para gravar eu gravava, quando era para cantar eu cantava. 
E depois disso, porque caminhos andou a Izamena até se tornar Mimicat?
Depois de achar que não ia a lado nenhum e que estava num meio pequeno do qual os meus pais também pouco ou nada sabiam (e por isso foram enganados algumas vezes), entrei para uma banda de Coimbra da qual fui vocalista e escrevia as letras e melodias chamada Casino Royal. Estive lá oito anos e saí depois para criar o meu próprio projeto como Mimicat.
E este nome de Mimicat vem de onde?
Eu andava à procura de um nome que fizesse sentido internacionalmente, uma vez que cantava em inglês. Precisava de um nome que desse para pronunciar bem em qualquer língua, tanto em português como em chinês. E então surgiu primeiro o 'Mimi' que é uma alcunha que eu já tenho porque as madrinhas na minha família são chamadas de 'Mimis' (eu eu tenho uma afilhada que já é mulher feita) e o 'Cat' vem do facto das pessoas me dizerem que eu tenho olhos de gato. Então juntei os dois e achei que soava bem: Mimicat. Já nem mexi mais. Era mesmo o que eu queria. 
Chegou a estudar música?
Não. Tive aulas de canto durante alguns meses, mas nunca estudei música a sério. Sempre tive acompanhamento de canto, mas estudar mesmo acho que foi só quando era mais pequena e tentaram ensinar-me a tocar teclados. Mas depois assim que comecei no solfejo, percebi logo que aquilo não era para mim. 
Dizia que vem aí disco novo, que disco é esse?
Isto do festival vem agora atrasar tudo um pouco, mas posso dizer que estou a fazer um álbum conceptual dividido por capítulos onde conto um bocadinho a minha história como artista, de onde venho, por onde passei e para onde vou. 

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