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O desejo por cumprir. A grande mágoa de Marco Paulo que nunca foi capaz de perdoar ao pai

A história pessoal de Marco Paulo fez-se de muitas conquistas, momentos felizes, mas também de dores e mágoas que nunca foi capaz de curar. A principal esteve relacionada com o pai, uma figura austera, que nunca foi capaz de lhe dar o amor que o cantor queria. O que se revelou em momentos específicos.
07 de novembro de 2024 às 23:06
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Marco Paulo cresceu numa família relativamente numerosa, com quatro irmãos, em Mourão, no Alentejo. E numa dualidade de afetos sobre a qual viria a falar abertamente, especialmente depois da morte dos pais. Se com a mãe, Maria Isabel da Silva, mantinha uma relação de colo, afeto, cumplicidade e confidência, com o pai sempre foi o oposto.

Em sua casa, a austeridade reinava, e nos tempos em que a sociedade era, marcadamente, um patriarcado, o pai, João Marques Silva, era uma figura dominante, mesmo nas suas ausências. Quando chegava a casa, assume, todos se colocavam em sentido e era impensável, por exemplo, sentarem-se à mesa sem que o pai tivesse entrado em casa. A fome podia apertar, a hora do jantar já ter passado, mas não havia refeição sem a presença deste homem à mesa. Era apenas um dos muitos exemplos que Marco Paulo poderia ter utilizado para descrever o poder da figura paterna na vida do clã.

"Eu gostava muito dele, mas por ser uma figura mais austera havia outro respeito. Era muito exigente e criterioso com os filhos e isso fazia-me olhar para ele até de uma forma mais séria", confidenciou Marco Paulo no livro 'Marco Paulo - Palco, Amores e Fé', escrito pelo jornalista Miguel Azevedo. "Bastava abrir os olhos para pôr os filhos na ordem."

Como consequência, desse distanciamento físico e emocional, Marco Paulo nunca teve vergonha em admitir que nunca olhou para o progenitor da mesma forma que encarava a mãe, o seu apoio e ombro de todas as horas. Por isso, quando João Marques Silva morreu, nove anos depois de o cantor ter perdido a mãe, o sentimento de tristeza não pôde ser comparado. "Claro que senti aquela perda, mas tenho de dizer que não sofri tanto como aconteceu com a minha mãe. Eu e o meu pai tínhamos tido uma relação mais fria ao longo da vida", fez saber no mesmo livro.

A GRANDE MÁGOA QUE FICOU PARA SEMPRE

Apesar de, mais tarde, ter aceitado que o pai era como era e nada podia ter feito para o alterar, uma mágoa que Marco Paulo teve toda a vida é a de o pai nunca ter parado para o ouvir cantar. À sua frente, nunca podia colocar-se com cantorias, se dava um concerto, ele recusava-se terminantemente a ir e mesmo em casa, havia remédio para isso: mudava de canal.

"Não gostava das discussões entre o meu pai e a minha mãe, discutiam por causa de eu cantar e ir para os espetáculos. Tinha a aprovação da minha mãe, mas do meu pai não", partilhou, acrescentando que o pai fez de tudo para lhe mudar o destino.

Marco Paulo com a família
Marco Paulo com a família

Para o progenitor, ser cantor não era sequer considerada uma profissão. Queria que ele estudasse, que 'fosse alguém', o que passaria sempre por uma profissão mais convencional. Mais tarde, em desespero de causa, e vendo que nada funcionava, tentou enviar o filho para o Seminário.

"Ele era daqueles pais empenhados em preparar os filhos o melhor que pudesse para a vida. Fazia questão que nós estudássemos ou trabalhássemos. O meu pai já tinha planos para mim. Queria que eu entrasse num seminário para tirar um curso. Se eu tivesse sentido vocação, até podia ter continuado, mas a verdade é que não senti. Eu era o único dos quatro filhos a quem o meu pai insistia em escolher a ocupação. No fundo, ele fazia-o para evitar que eu cantasse ou viesse a ter uma profissão artística."

E se inicialmente Marco Paulo ainda pensou que o pai se habituasse à ideia dos palcos, para sua grande dor, tal nunca aconteceu: morreu sem algum dia o ter visto cantar.

Além disso, afetos também nunca houve e o cantor garante que nunca recebeu um beijo do pai. "Ele achava que um pai não tinha de beijar os filhos homens e por isso nunca senti o toque dos seus lábios no meu rosto. Claro que me entristeceu esse distanciamento, mas sei que não era por mal. Ele dizia para dar à minha mãe porque os homens não se beijam uns aos outros."

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A homenagem dos fãs de Marco Paulo no velório do cantor

Uma ausência de amor paterno que, mais tarde, Marco Paulo tentaria colmatar com o afilhado, uma vez que nunca teve filhos.

"Dei mais coisas ao meu afilhado, o Marco António. Era dar-lhe a ele aquilo que eu nunca recebi. Eu era muito controlado, comprei o meu primeiro carro com o meu próprio dinheiro. O meu pai era um bom pai, mas era uma pessoa fria. Eu via os pais dos outros a terem algumas atitudes que o meu pai não tinha." 

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