
Aos 57 anos, Nicole Kidman está longe, muito longe da reforma. Enquanto outros colegas abrandam o ritmo, ou vão sendo encostados à box, a australiana está imparável e, nos últimos anos, tem somado produções cinematográficas, séries e contratos milionários que consagram o seu estatuto como uma das maiores divas de Hollywood. E um dos segredos para isso é estar sempre disposta a surpreender, nunca virando a cara a um desafio.
Nos últimos dias, a estrela chegou ao Festival de Cinema de Veneza com aquela elegância habitual, o seu sorriso impenetrável, e o rosto esticado, de bisturi, que faz com que nos últimos 30 anos não tenha envelhecido muito mais do que três. Quem a visse na passadeira vermelha, a passo seguro, não imaginava, porém, que por dentro Nicole Kidman tremia por estar prestes a mostrar-se ao mundo na sua versão mais vulnerável, despida de preconceitos, na Premiere de 'Babygirl'.
O filme conta a história de uma empresária de sucesso que se apaixona pelo seu estagiária, colocando em risco tanto a sua fortuna como a família que construiu. E, claro, leva a personagem interpretada por Nicole Kidman às cenas de sexo mais tórridas. Ora, ela que já gravou o mítico 'Eyes Wide Shut', de Stanley Kubrick, ao lado do então marido, Tom Cruise, deixa logo o aviso que nunca a vimos assim. E esse era, na verdade, o motivo pelo qual tentava, a todo o custo, esconder as mãos que lhe tremiam, em Veneza.
"Definitivamente, senti-me exposta, vulnerável, assustada e todas essas coisas, mas fazê-lo com estas pessoas aqui foi delicado, íntimo e muito, muito profundo", contou a atriz, que teve quase um set fechado para determinadas cenas.
Apesar do teor sexual do filme, Nicole mostrou-se orgulhosa por poder quebrar tabus e colocar em cima da mesa temas como o desejo feminino em plena crise existencial, e protagonizar uma personagem com tantas camadas. "É contado por uma mulher através do seu olhar… isso para mim é o que torna o filme tão único, porque, de repente, eu estava nas mãos de uma mulher com todo este material e foi muito, muito profundo e libertador poder partilhar essas coisas", conta sobre o filme, que até fez o próprio marido, Keith Urban, corar quando questionado pelos jornalistas se já tinha visto as cenas mais ousadas de Nicole. Ainda que tenha dito que não, o cantor revelou que não podia estar mais orgulhoso pela forma como a mulher continua a empoderar-se na carreira.
Ao mesmo tempo que 'Babygirl' chega às salas de cinema, a atriz australiana – distinguida com um Óscar pela sua participação no filme 'As Horas' – vai estar também na Netflix com a série 'O Casal Perfeito', num sucesso que a torna num dos nomes do momento.
DEGRAU A DEGRAU... COMO ELA CONQUISTOU HOLLYWOOD
Discreta, de uma beleza etérea e uma elegância que a leva a ser eleita musa de vários criadores, Nicole começou a ser notada por Hollywood quando participou no filme 'Dias de Tempestade'. Provavelmente, até poderia ter passado despercebida, mas acontece que foi aí que conquistou o coração de Tom Cruise, que dava então os primeiros passos seguros na indústria cinematográfica.
Os dois apaixonaram-se perdidamente e Nicole Kidman não tinha problemas em admitir que vivia consumida por aquele amor. E ainda que mais tarde, quando as coisas deram para o torto, tenha revelado que em muitas situações se sentiu uma espécie de troféu, sempre pronto para ser exibido, no início dos anos 90 aquela atenção que, de repente, toda a gente lhe dedicava sabia-lhe bem.
Durante 10 anos, viveu para este casamento, em anos que a catapultaram para a fama, mas que a título profissional foram os mais aborrecidos da sua carreira porque ela assume que vivia para os filhos, que adotou ao lado de Tom Cruise, Isabella e Connor.
Tom e Nicole passaram a ser um dos casais mais adorados de Hollywood, numa história de amor que respirava milhões e que fazia sonhar. Por amor, a atriz começou até a ser seguidora da Cientologia, mas saiu ainda antes de o casamento ter chegado ao fim, em 2001, de forma tão intensa como começou. Pouco depois, o galã assumia um novo romance ao lado de Penélope Cruz, enquanto Nicole preparava a derradeira chapada de luva branca, entregando-se ao trabalho como forma de superar o desgosto, protagonizando alguns dos maiores êxitos da sua carreira como 'Moulin Rouge'.
Os filhos escolheram então ficar a viver com o pai e Nicole Kidman confessa que atravessou um período pessoal difícil até se reequilibrar. Sobre o que correu mal com Tom Cruise, nem uma palavra disse, mas que correu é inegável, não havendo, 25 anos depois, espaço para uma mínima amizade ou cordialidade na relação. Aliás, a tensão é tanta que ainda no ano passado, o galã, indicado para um Óscar pelo remake de 'Top Gun', falhou a cerimónia para não ter de se cruzar com a ex-mulher.
Foi um fim polémico de uma relação adorada, mas o nascer de uma estrela, que se soube reiventar nas dores mais pessoais, subindo degrau a degrau, e sozinha, a escalada ascendente da sua carreira. Já estava feliz e plena quando conheceu, em 2005, Keith Urban, que a fez voltar a acreditar no amor e concretizar o sonho de ter um filho biológico (acabou por ter duas, Sunday e Faith).
O casamento não tem sido um mar de rosas e os dois estiveram a um ponto de se divorciar antes de Urban procurar uma clínica de reabilitação para tratar a sua adição a drogas. Foi uma fase desafiante em que, ao mesmo tempo, Nicole Kidman se debatia com algumas inseguranças relacionadas com a perda da sua juventude, sendo criticada por abusar nas plásticas e no botox para travar o passar dos anos.
Hoje, há quem diga que vive debaixo de um novo equilíbrio porque, mais uma vez, se soube reinventar nas asas do seu trabalho e vontade incansável de nunca parar e acompanhar os ritmos de Hollywood, que estão sempre em mudança.
Entre a carreira, que não lhe dá descanso, Nicole gosta de dizer que o seu grande trabalho é o de criar os filhos e impõe-se a desfrutar do seu tempo para ser mãe. Por isso, sempre que a agenda abranda é para a Austrália que foge, onde tem uma quinta avaliada em cinco milhões de euros (o seu património está avaliado em 250 milhões), com cavalos, duas alpacas e árvores de frutos, que gosta de cuidar. Numa casa cheia, não falta família, um cão e três gatos para que os dias sejam uma festa contínua, de quem sabe estar na vida.