
Quando, em 2019, Paula Amorim e a Vanguard Proprerties desembolsaram mais de 150 milhões de euros para adquirir os terrenos da Herdade da Comporta, estabeleceram um plano a dez anos, estruturado, para empreender melhorias em todo o eixo e desenvolver aquele que viria a ser um dos resorts mais exclusivos de Portugal. À época, a oferta era fraca com os dois hotéis de Troia e alguns alojamentos de charme por ali espalhados a não satisfazerem a elevada procura do exigente turista que visitava a Comporta e tudo o que a empresária fez foi colmatar a lacuna, com um investimento que se estimou poder chegar aos mil milhões de euros.
Só que a Comporta dessa altura já não é a mesma, e se era expectável que o destino continuasse a estar na moda e a crescer, nada fazia prever o 'boom' que, de repente, passou a fazer com que toda a zona entre Troia e Melides fosse não só a mais desejada de Portugal como da Península Ibérica, com lotação esgotada e necessidade urgente de novos alojamentos que os investidores do setor souberam aproveitar com mestria.
O sucesso da Comporta transcendeu de tal maneira as expectativas que, de repente, foi necessário fazer ajustes e empreender uma série de medidas que podem não jogar a favor daquilo que Paula está a edificar na localidade. Enquanto a empresária acelera a conclusão das cerca de 50 villas de luxo, com a assinatura JNcQUOI, a autarquia de Grândola apresentou uma proposta para a alteração do Plano Diretor Municipal (PDM) de Grândola, e que prevê o aumento da intensidade turística em mais 2859 camas.
Ora, se para muitos isto são boas notícias, a verdade é que a massificação da Comporta não é uma coisa que interesse a todos, especialmente a Paula Amorim, que desenvolve parte do seu trabalho no segmento do luxo, que pede exclusividade e é precisamente o contrário do que o turismo de massas preconiza, o que quer dizer que se a Comporta se democratiza deixa de ser tão apetecível aos milionários, logo há muita coisa que poderá deixar de fazer sentido.
Mas essa é uma questão que a empresárias vai acompanhando com cautela e apenas uma das muitas lutas que a nova Comporta a faz travar, porque, de repente, é como se houvesse "sete cães a um osso" a disputar o mesmo pedaço de terra, ou neste caso de praia.
PEDE INDEMNIZAÇÃO MILIONÁRIA
O aumento de alojamentos de luxo na Comporta tem levado às situações mais bizarras e uma delas chegou a tribunal, numa ação conjunta entre a Vanguard Properties e a Amorim Luxury, em que exigem uma indemnização milionária, segundo avançou o Jornal Económico.
O processo foi movido depois de o empreendimento Casas da Encosta ter instalado uma cancela que impossibilita os proprietários do Dunas e do Hotel JNcQUOI, que está em fase de construção, de acederem a algumas das praias da Comporta. Ora, este sempre foi um dos atrativos do projeto e, na verdade, se Paula Amorim vir os seus hóspedes privados de um acesso à praia, isso impede, naturalmente, que este se segmenta no posicionamento que a empresária pretende porque, por muito luxuoso que seja, este é um aspeto exclusivo para a maioria das pessoas que procuram este tipo de alojamento. Além disso, o acesso também é essencial para efeitos contra incêndios.
Face à polémica, a Câmara Municipal de Grândola mandou retirar as cancelas, mas a administração do condomínio recorreu, o que promete continuação para esta novela, que se está a transformar na última das dores de cabeça dos Amorim, que este ano já sofreram um outro revés: o JNcQUOI House, o hotel de luxo que iriam abrir em Lisboa, em plena Avenida da Liberdade, foi consumido por um incêndio, que deflagrou no número 189.
"Houve uma perda total dos elementos do segundo e terceiro piso e da cobertura", afirmou o comandante dos Sapadores de Lisboa, Alexandre Rodrigues, ao Correio da Manhã, confirmando, assim, que o hotel tinha sido destruído pelas chamas.
Este era o arranque do Grupo Amorim Luxury no conceito de hotéis de charme, e que serviria como que um barómetro para medir se estariam prontos para o novo JNcQUOI na Comporta, mas se todos os restantes projetos têm vingado com grande sucesso, parece haver como que um ensombrar de tudo o que esteja ligado ao setor hoteleiro com as dificuldades a não fazerem, no entanto, com que Paula Amorim perca o ânimo e veja nascer o projeto de sonho que empreendeu para a Comporta.