Às oito da manhã desta sexta-feira (5 de Novembro)- meia noite em Los Angeles- ficou disponível na plataforma de streaming Netflix a primeira série portuguesa. Chama-se 'Glória' e retrata uma história de espionagem em 1968, numa altura em que as ondas hertzianas (a rádio) eram tão importantes para a guerra fria que opunha Estados Unidos e União Soviética.
Depois de termos exportado novelas quer da TVI quer da SIC, e de termos estrelas a brilhar fora do ecrã nacional (Jani Zhao, Daniela Melchior, Joaquim D'Almeida, Daniela Ruah, Alba Baptista) é agora a vez de uma série escrita e produzida em Portugal ir para uma plataforma de streaming.
O elenco conta com uma série de estrelas, Miguel Nunes (o protagonista), Victoria Guerra, Afonso Pimentel, Adriano Luz, Joana Ribeiro, Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, Carloto Cotta, Maria João Pinho, Inês Castel-Branco, entre muitos outros...e a autoria é também de uma estrela: Pedro Lopes. Se o nome não lhe é estranho é porque ele é o responsável 'Coração D'Ouro', 'Sol de Inverno', 'Dancin' Days' (o remake nacional) e claro a novela que veio revolucionar a ficção da SIC, 'Laços de Sangue', isto para não falar de outros produtos.
COMO TUDO COMEÇOU
A The Mag by FLASH esteve à conversa com o autor menos de 12 horas antes da estreia e o nervosismo, embora contido, era notório. "Já vi várias vezes mas vai-me saber bem agora ver...em casa, como todos os portugueses vão ver", disse-nos.
A ideia de ver Portugal explodir também nas plataformas de streaming não era nova para a produtora por detrás deste produto, a SP Televisão. É uma batalha longa, e pensada detalhe a detalhe. "Desde há algum tempo que a estratégia da SP Televisão passa pela internacionalização. Foi de resto isso que, em 2017, levou à criação da SPI (SP Televisão Internacional). Já há muito tempo, em 2011- quando a Netflix lançou o 'House of Cards'-, discutiamos o papel que os novos operadores de streaming teriam no mercado de distribuição de conteúdos e como é que podíamos também ver-nos lá. Desde então, temos estado atentos a este movimento...até agora...", conta-nos Pedro Lopes.
A história contudo há muito "bailava" na cabeça do autor. "Começámos bem cedo a pensar em conteúdos que podiam viajar sendo que fossem também portugueses.Com essência nacional. Mas esta história já me acompanhava desde a infância. Sei da existência da RARET (o núcleo da trama) desde sempre e há muito sonhava em fazer algo com isso. Mas precisava das condições próprias para a história poder ser feita... como de resto acabou por ser."
Mas afinal do que é que trata 'Glória'? Já lhe contámos quem são os atores, quem escreve... falta a trama: 'Glória' é uma série histórica de suspense e espionagem, que decorre nos anos 60, no auge da Guerra Fria, na pequena aldeia da Glória do Ribatejo, onde se situa a RARET, centro de transmissões americano que emite propaganda Ocidental para o Bloco de Leste. João Vidal, um engenheiro de famílias ligadas ao Estado Novo, mas recrutado pelo KGB, vai assumir várias missões de espionagem de alto risco que podem mudar o curso da história portuguesa e mundial". É este o resumo....
PRIMEIROS PASSOS
O sonho de criar algo assim, como Pedro Lopes nos revelou, estava há muito presente na produtora e na sua cabeça. Mas tiveram que esperar pelo momento certo para que a ideia chegasse... onde devia chegar. "Começámos a desenvolver contactos com a Netflix há quatro anos... e um ano depois houve a possibilidade de fazer o pitch (apresentar uma ideia)... e naquela altura, esta série que vamos ver agora, era a que fazia sentido para mim e para a SP também. Dai, fomos a Madrid, onde mostrámos o projecto. Lembro-me que foi muito bem recebido". Mas isso era apenas o início. Apesar da aprovação a produtora teve que fazer "um episódio piloto" que esteve à espera de aceitação... até que subitamente "meses depois, de Miami, tivemos a luz verde para avançar."
Depois foi descobrir o ângulo certo e seguir em frente nesta história sobre a guerra fria que vai ser visto em 10 episódios- que podem ser vistos de seguida "como se fosse o filme bem longo, mas bom", diz o autor, que acha que este "é um excelente cartão de visita para o que se pode criar em Portugal". No seu caso, agradece "aos atores, aos técnicos, a toda a equipa de escrita. Trabalhámos nisto 200 pessoas, sem parar, a dar o nosso melhor...e mostra a capacidade criativa e técnica de fazer boa ficção"
Agora, em cima da estreia, Pedro Lopes, que inicialmente se assumia pouco nervoso começa a sentir as borboletas no estômago. Ele garante que a culpa "é da comunicação social" que "está a dar um peso muito grande" a esta estreia na plataforma de streaming. Ao mesmo tempo fica feliz por tantos se terem "interessado...é uma enorme alegria ver que todos querem pelo menos espreitar. Estão curiosos. Agora esperemos que tenha sucesso em Portugal e claro noutros países e se abra espaço para a ficção nacional vingar noutros mercados".
SERÃO DEZ EPISÓDIOS... O FIM?
A Netflix abre portas para o mundo. Atualmente a plataforma tem mais de 209 milhões de subscritores- a aumentar todos os dias- e chega a perto de 190 países. Por isso será que 'Glória' fica apenas por uma série? Pedro Lopes ri-se. "Quando tudo começou nós estávamos interessados em fazer bem estes 10 episódios. Claro que, e a brincar, atenção.... esta história passa-se em 1968, a meio da Guerra Fria. O Muro de Berlim só caiu em 1989 por isso, claro que há muita história para contar", diz a rir.
FASCINADO
Uma dos atores que vamos ver brilhar nesta série é Afonso Pimentel. O ator está "radiante" de ver 'Glória' "aparecer na plataforma Netflix", assumiu recentemente. "Eu adorei o projecto. E apareço com um bigode todo catita. Conta uma história que desconhecia, mas que achei muito interessante. Sobre a propaganda política que se fazia naquela altura. Senti que era uma grande responsabilidade... eu e todos... e dar o nosso melhor, porque no fundo além de ser um cartão de visita da série é também dos atores, da produção, da autoria. E era tudo muito bom. Agora podemos estar expostos a um mundo", disse-nos Afonso.
E mais não diz porque a curiosidade "mata-se" de outras formas:"Têm que ver. É a forma perfeita para aguçar a curiosidade", diz. Hoje já poderemos "tirar teimas".
