
O fim de semana passado não deixa dúvidas. A infanta Cristina voltou ao palácio. Tornou a ser acolhida pelo irmão. Foram muitos anos em que fez uma longa e sofrida caminhada sem o apoio do rei Felipe VI. O monarca fez questão de demonstrar publicamente que a irmã – que outrora tinha sido a sua melhor confidente e amiga – tinha passado a ser alguém que não era bem-vinda ao palácio. Tirou-lhe o título de nobiliárquico que o pai, Juan Carlos, lhe tinha oferecido como presente de casamento com Iñaki Urdangarín. Deixou de ser duquesa de Palma de um dia para o outro. Perdeu também o privilégio de ser tratada por ‘Sua Excelência’. Felipe mostrou-se implacável. Não teve dó nem piedade.
A falta de clemência ficou-se a dever – diz-se em Espanha – a Letizia. A rainha aproveitou o escândalo Nóos, que levou o ex-marido da infanta à prisão por fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais, para se vingar dos Borbón. O plano da antiga jornalista em desforrar-se da família do marido começou precisamente com Cristina. A mulher de Felipe VI estaria obcecada com a revanche. Não esqueceu as supostas humilhações a que terá sido sujeita na Zarzuela quando foi anunciada como noiva do então príncipe das Astúrias. Não terá sequer tido em conta que a cunhada foi a sua maior aliada quando Felipe desabafou sobre o namoro secreto que mantinha com a então pivô da TVE. Terá sido a infanta a "preparar o terreno" para que os pais, Sofia e Juan Carlos, aceitassem a plebeia que já havia sido casada, como noiva do atual monarca. Letizia olvidou tudo. Só queria vingança.
E Felipe, apaixonado pela mulher e apostado em ter paz dentro de casa, não teve coragem para se impor a Letizia. Um dos grandes trunfos usados pela rainha era de que o afastamento de Cristina e da sua família seria o melhor para a coroa. Caso o rei pusesse os seus sentimentos à frente da instituição, a monarquia poderia perigar. O peso destes argumentos, e muito consciente da sua responsabilidade e do seu amor pela coroa, Felipe VI cedeu. Virou costas à irmã. Fechou-lhe a porta do palácio e impediu qualquer contacto familiar com os Urdangarín.
ABANDONADA E HUMILHADA DIANTE O PAÍS
Um duríssimo golpe para Cristina. Quando mais precisava não pode contar com qualquer apoio da família, pelo menos de uma forma assumida e pública. Esteve sozinha quando teve de depor em tribunal, indiciada no tão falado Caso Nóos. Esteve sozinha quando o marido foi preso. E também esteve sozinha quando teve de continuar a criar quatro filhos. Na altura, apenas Juan, o mais velho, já tinha atingido a maioridade.
Foi impedida de participar das festas de família. Passou natais e aniversários sem ter os seus por perto e foi proibida de entrar no palácio de Marivent, em Palma de Maiorca, para passar férias. Pelo menos enquanto lá estivesse o irmão, a cunhada e as duas sobrinhas. Letizia nunca abdicou de impedir qualquer convívio entre Leonor e Sofia e os filhos de Cristina. Esta resignou-se às regras impostas pela Casa Real, mas doeu-lhe profundamente. Especialmente por Juan, Pablo, Miguel e Irene. Nenhum deles havia feito nada para serem obrigados a passar por tão grande vergonha. Não era justo que fossem impedidos de conviver (às claras) com a família materna.
QUASE 20 ANOS DE SOFRIMENTO
É evidente que a infanta continuou a contar com o amparo dos pais, Juan Carlos e Sofia, e da irmã mais velha Elena. Ainda assim, sempre de uma forma pouco assumida para o exterior. Imposição, uma vez mais, de Letizia. A rainha insistia na importância que o povo acreditasse que a Casa Real e os Borbón haviam deixado "cair" Cristina. Que ela tinha passado a ser ‘persona non grata’ em todos os sentidos. Portanto, desde 2006, ano em que quando o jornal ‘El Mundo’ denunciou um pagamento suspeito de uma instituição pública ao Instituto Nóos, empresa de fachada liderada por Iñaki Urdangarin, que a infanta viveu um autêntico calvário.
Foram quase 20 anos de solidão, humilhações, vergonha, mágoas e tristeza com um complexo divórcio pelo meio. Mas este verão houve indícios de que a longa travessia de Cristina terá chegado ao fim. Felipe ter-se-á reaproximado da irmã. E ela terá compreendido e, por isso, perdoado o afastamento do rei. Letizia, por sua vez, parece não ter tido voto na matéria. Não estará em posição de continuar a impor as suas vontades. Há rumores muito fortes que a rainha perdeu muito poder na Zarzuela desde que foi acusada publicamente de ter traído o marido com o ex-cunhado, Jaime del Burgo. A sua "queda" tem sido lenta, mas irreversível. E a entrada de Cristina no palácio é um sinal de que assim é, de facto.
A RECONCILIAÇÃO ESPERADA
Este último fim de semana e a prova do triunfo da infanta renegada. Foi-lhe permitido posar nas fotografias oficiais do casamento de Victoria López-Quesada, junto do seu irmão, Felipe VI, da sua mãe, a rainha Sofia, e da sua irmã, a infanta Elena. Aplica-se aqui o lema: uma imagem vale mais do que mil palavras. Outro sinal mais do que evidente desta aproximação entre os dois irmãos já havia acontecido horas antes no mesmo dia, ou seja, no passado sábado, 31 de agosto.
Felipe e Cristina deixaram-se fotografar juntos. Os dois seguiam no mesmo carro a caminho do casamento. Só os dois. Ele a conduzir e ela sentada a seu lado. Letizia encontrava-se em Paris a apoiar a comitiva espanhola nos Jogos Paralímpicos. Como será que a rainha aceitou estas imagens de harmonia familiar? A resposta só o futuro o dirá.