
Foi o único entre os Windsor – da família mais chegada – que não chegou a tempo de se despedir de Isabel II. Harry não teve tempo de pedir perdão. E a avó partiu sem lhe dizer que o perdoava por todo o sofrimento que viveu desde que ele e a mulher, Meghan Markle, decidiram abandonar as suas funções como membros da família real. Desde que abandonaram o Reino Unido. E, sobretudo, desde que se sentaram frente a câmaras de televisão para dizer mal da família – que apelidaram de ‘A Firma’ - e que sobre ela lançaram suspeitas de racismo e acusaram de tantas outras coisas que lhe mancharam a reputação. Reputação essa pela qual a rainha tanto lutou e tudo fez para proteger de ataques exteriores. Não estava preparada para que esses ataques viessem, um dia, de dentro e, muito menos, do seu tão amado neto. Que abalo tão grande para a monarca, cuja saúde – que já então era frágil – acabou por se ressentir. Harry martiriza-se com sentimentos de culpa e arrependimento.
Não poder dar a mão à avó no seu leito da morte e dizer-lhe uma última vez que a amava, é para o príncipe um desgosto difícil de aguentar. A lembrança do passado assaltou-o: também não teve oportunidade de se despedir da mãe e de lhe dizer uma última vez o quanto a amava. Tinha então 12 anos, mas nunca mais deixou de ter essa dor a turvar-lhe os dias. Ao chegar tarde ao Castelo de Balmoral naquele chuvoso 8 de setembro, o duque de Sussex percebeu que acabava de perder outra mulher que tanto amava sem ter a oportunidade de lhe dizer tudo o que lhe ia no coração. A história repetiu-se naquela triste e dolorosa quinta-feira.
FAMÍLIAA viver nos Estados Unidos, foi uma coincidência Harry e Meghan Markle estarem à data da morte da rainha em Inglaterra. Contudo, apesar da viagem à Europa, não estava previsto que o príncipe se encontrasse com os seus familiares mais próximos. Há muito que as relações entre Harry e o pai e o irmão, e novo rei e o atual príncipe de Gales, não eram as melhores. Há muitas mágoas entre os três homens. Carlos III e William consideram que Harry foi ingrato. Que não poderia ter dito o que disse e, em particular, dar permissão à mulher, Meghan Markle, de atacar tão ferozmente a família real. A entrevista a Oprah Winfrey foi uma terrível afronta difícil de perdoar. E a recente entrevista da ex-atriz de Hollywood à revista ‘The Cut’, três dias antes do 25º aniversário da morte da princesa Diana, foi a machadada final. Não entenderam isto como uma nova "rebeldia" dos Sussex, mas sim como mais uma ignóbil investida contra os Windsor e contra a monarquia.
PAI E IRMÃO Carlos e William sentem-se profundamente desiludidos com Harry
Se o afastamento do pai lhe dói, o afastamento do irmão dói-lhe ainda mais fundo. Harry e William eram muito chegados, cúmplices e amigos. Foi o irmão mais velho que assumiu um papel de proteção em relação ao jovem quando Diana morreu. O atual príncipe de Gales chamou a si a responsabilidade de amparar o irmão. Encobria-o nas suas traquinices infantis e, mais tarde, nas suas rebeldias adolescentes. Isabel II foi o outro apoio basilar de Harry. William e a avó nunca lhe faltaram. Estiveram sempre lá para ele. Mais tarde, quando Kate Middleton entrou para a família, o duque de Sussex construiu com ela uma bonita amizade. Era a sua maior confidente e foi acolhido sem reservas pelo irmão e pela cunhada. Estavam quase sempre juntos e a cumplicidade era evidente aos olhos de todos. Depois, nasceu George e, mais tarde Charlotte. Harry era louco pelos sobrinhos. Hoje, a relação é distante. Mais uma "facada" certeira no coração do marido de Meghan Markle quando se lembra do tanto o que já perdeu.
SAUDADES DE "CASA"
Mudou de país por amor à mulher com quem casou no dia 19 de maio de 2018. Acreditou que seria feliz do outro lado do Atlântico, mas a verdade é que não é bem assim. Tem saudades de "casa", do seu país e do carinho dos súbditos. Carinho esse que recebe sempre que regressa a Inglaterra, mesmo quando até o povo se sente desiludido com o duque de Sussex. Ainda agora, Harry percebeu isso quando saiu à rua para agradecer o apoio dos anónimos que não se cansam de homenagear a rainha Isabel II. Nesse contacto mais direto, ninguém lhe virou as costas e ninguém o ofendeu. Pelo contrário! Lá estava aquele afeto caloroso que sempre lhe dispensaram. E foi também perante os olhares compreensivos de uma imensidão de pessoas que o filho mais novo de Carlos III voltou a reviver um outro fantasma do passado.
No cortejo fúnebre que se realizou na passada quarta-feira, 14 de setembro, entre o Palácio de Buckingham e o de Westminster, sede do Parlamento britânico, Harry reviveu o doloroso caminho que fez há 25 anos atrás do caixão da mãe. E agora, tal como no passado, lá estava William a seu lado e o pai a liderar o cortejo. Tudo isso, lhe veio de novo à cabeça. Chegado à Abadia do Palácio de Westminster, e já durante o velório, o duque de Sussex não aguentou e as lágrimas correram… mesmo sabendo que isso vai contra o protocolo e que a avó o ensinou que um Windsor não chora em público, por maior que seja a sua dor. O choro é algo muito íntimo e pessoal e, por isso, está reservado a quatro paredes. Apesar destes ensinamentos, não resistiu, pois, a sua cabeça é um turbilhão imenso de emoções.
MEGHAN MARKLE
Por amor à mulher, Harry desistiu de tudo. Virou costas ao seu país, magoou quem tanto ama e cortou relações com aqueles que sempre estiveram a seu lado. Também por lhe ter dado ouvidos e ter pactuado com o tão falado 'Megxit', abdicou da sua carreira militar e nas cerimónias fúnebres da rainha Isabel II não lhe foi permitido envergar a sua farda para honrar a sua tão amada 'granny'. Esteve em pé de igualdade que o seu tio André, o "proscrito" que tem o seu nome envolvido num crime sexual com uma menor.
Não é fácil ter consciência de tudo isto, mas o príncipe tem-na. Sabe que a avó partiu magoada com ele e começa a refletir se tudo terá valido a pena. Percebe que esta é a maior e melhor oportunidade que alguma vez terão para tentarem remediar o mal que fizeram. Mas a norte-americana mostra-se irredutível e parece determinada em prosseguir a sua "cruzada" contra a família do marido. Harry fica assim numa posição bastante dolorosa: dividido entre o amor que sente pela mulher e o amor que sente pelo pai, pelo irmão, pela cunhada e pelos sobrinhos. Agora, que já não tem a avó, os sentimentos de arrependimento crescem dentro de si… e o príncipe encontra-se numa dolorosa encruzilhada. São estas as razões do seu sofrimento. Das suas lágrimas!