
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está no centro de mais uma polémica depois que dois deputados pediram explicações sobre os gastos das Forças Armadas com 35 mil unidades de sildenafila, o medicamento que é popularmente conhecido como Viagra.
O escândalo foi divulgado no início da semana, mas pouco depois surgiram outros dados sobre os gastos das Forças Armadas com a compra de 60 próteses penianas e botox. E as encomendas não são tímidas.
Dos 35 mil comprimidos de Viagra de 25 mg e de 50 mg, 28.320 unidades foram destinados à Marinha, cinco mil unidades ao Exército, a Aeronáutica ficou com a menor fatia, dois mil comprimidos. A imprensa brasileira não referiu o custo das compras, mas o valor estaria 143% acima do preço de mercado. O deputado Marcelo Freixo pediu ao Ministério Público uma investigação por suspeitas de sobrefaturamento.
De acordo com a CNN brasileira, as próteses penianas, com tamanhos que variam de 10 a 25 centímetros, custaram ao Exército 3,5 milhões reais (688 mil euros) em 2021. No caso do botox, foram destinados 546 mil reais (107,3 mil euros) à compra da substância entre 2018 e 2020, segundo o ‘Metrópole’.
AS JUSTIFICAÇÕES
Claro que há uma justificação para tamanha farra farmacêutica! O Ministério da Defesa explicou que o viagra será destinado a casos de hipertensão pulmonar arterial (HPA). Contudo, esta condição é uma doença rara que atinge mais mulheres jovens do que homens. Além disso, a dosagem dos comprimidos indicada nos casos de HPA é de 20 mg. A dose de viagra de 25 mg é usada para disfunção erétil, afirmou o médico Marcelo Bandeira, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ao ‘G1’. As Forças Armadas disseram não ter o número de pessoas que estão a recorrer ao tratamento.
E-mail da Pfizer oferecendo Viagra para as Forças Armadas foi respondido em cinco minutos pic.twitter.com/1Fx2U1aOC1
— Sensacionalista (@sensacionalista) April 11, 2022
Jair Bolsonaro comentou com ministros e parlamentares, no tradicional pequeno-almoço, que "isso é nada", os remédios são "muito mais usados pelos inativos e pensionistas." O presidente brasileiro reforçou também a resposta oficial: "As Forças Armadas compram o Viagra para combater a hipertensão arterial e, também, as doenças reumatológicas."
Sobre as 60 próteses penianas, o Exército confirmou numa nota apenas a compra de três implantes do tipo hidráulicos, "dentro das exigências legais".
Já o botox "é administrado para algumas patologias neurológicas como distonia, doença de parkinson, espasmo miofacial, espasticidade, enxaqueca crónica e neralgia do trigémeo, além de queixas odontológicas como distúrbio da articulação temporomandibular", justificou o Exército ao ‘Metrópole’, acrescentando que "não realiza compras desse material para fins estéticos". O Hospital das Forças Armadas, em Brasília, local que Bolsonaro procura quando tem uma urgência, previu a compra de 50 frascos da toxina em 2021, o que equivale a 5 mil aplicações. Em 2018, o hospital comprou seis frascos, passando para 15 em 2019, e seis em 2020.
A GRANDE "FARRA DE SALMÃO, 'FILÉ' E PICANHA"
Os gastos suspeitos não ficam pela área da saúde. As Forças Armadas ainda não se recuperaram do escândalo que está a ser chamado de "farra do salmão, filé mignon [bife da vazia] e picanha", depois de terem gasto 56 milhões de reais (cerca de 11 milhões de euros, no câmbio atual) nestes produtos.
O carregamento de Viagra chegando pic.twitter.com/y46VGtbj3X
— Luduvicu (@luduvicu) April 11, 2022
No período de um ano, foram 577 toneladas de bife da vazia (25.398.849,99 reais, ou 4,9 milhões de euros), 373,2 toneladas de picanha (18.792.526,88 reais, ou 3,7 milhões de euros) e 254 toneladas de salmão (12.221.607,11 reais, ou 2,3 milhões de euros), denunciou o deputado Elias Vaz, de acordo com a revista ‘Isto é’.
O deputado acredita também haver "indícios de irregularidades" no valor da compra. "O preço da carne não subiu 42% nesse período", comentou no Twitter sobre as suspeitas de sobrefaturamento.
Jair Bolsonaro enfrenta a 2 de outubro as eleições presidenciais, tendo como Lula da Silva o seu principal adversário.