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WEEKEND Caderno de viagens

Afinal o que é que Formentera tem? Barcos e águas cristalinas na mini-ilha onde se" brinca aos pobrezinhos"... cada vez menos

Do tempo em que as praias de Formentera eram território de nudistas e a vida se fazia numa cabana de praia resta pouco. Desde que o turismo (e sobretudo as celebridades) descobriram a ilha vizinha de Ibiza, nem a falta de aeroporto a salva. Venha daí numa viagem entre o melhor e o que ainda resta de um paraíso hippie que corre o risco de perder a alma.
Luísa Jeremias
Luísa Jeremias
25 de julho de 2024 às 13:42
Formentera
Formentera Foto: ge

Preâmbulo: não, este não é um texto melancólico, daqueles que diz "antigamente é que era, quando aquilo era só nosso". Nada disso. Cada coisa no seu lugar. Antigamente era assim, hoje é assado. E é bom das duas maneiras, apenas bem diferente. 

peixe seca ao sol em Formentera
peixe seca ao sol em Formentera Foto: Getty Images

São cerca de cinco da tarde e o Lucky, uma barraca na praia de Migjorn está cheio. Turistas – em particular (ainda) italianos, estendem-se da meia de dúzia de mesas pelo curto areal fora até ao mar. Bebem cerveja, spritz ou umas caipirinhas de cachaça duvidosa. Pouco importa. Há música e, sobretudo, há um mar quente, translúcido, mesmo ali em frente, onde nos banhamos de cinco em cinco minutos e ali ficamos a "encarquilhar" até apetecer. No Lucky e em redor, "amigo não empata amigo": quem quer andar nu anda, quem quer andar vestido anda. Sempre foi assim e, se não aparecer por aquelas bandas nenhum novo puritano a ditar ordens, assim continuará a ser. É a harmonia com a natureza em estado quase puro. Em Migjorn, uma das praias de melhor areal e menos rochas - logo, uma das mais procuradas pelos operadores turísticos - ainda é possível comer uma das melhores paelhas de Formentera, na estalagem/restaurante (que lembra os velhinhos, em betão, da Caparica), o Real Playa, ver um pôr do sol, "hippie style", com cítaras misturadas com house, ou passar pelo Blue Bar, um dos primeiros da zona, onde um marciano dá as boas vindas, como se tivéssemos entrado num after-hours indevidamente localizado.

Chiringuito de praia em Formentera
Chiringuito de praia em Formentera Foto: Getty Images

Migjorn é isso tudo: a tradição de Formentera, com os iates e veleiros milionários a emoldurarem o mar azul esverdeado em dias que passam devagar. Mas também é o futuro. Foi ali que nasceu o Teranka, um hotel minimal chique, ao estilo Nobu – foram eles os primeiros donos, embora depois tenham passado o testemunho para se concentrarem na marina de Ibiza – que se pode gabar de ter um dos melhores terraços para assistir a um sunset com um sofisticado (e caríssimo) cocktail na mão. A experiência vale a pena. Tal como vale um jantar requintado não muito longe dali, no Ghecko, um dos primeiros – senão o primeiro – hotel de praia de "primeira classe" em Migjon. A carta, a esplanada sobre o mar, o ambiente calmo e requintado de uma outra Formentera, mais sofisticada, valem o que se irá pagar no final. É muito? É bastante, mas é uma experiência. 


A PRAIA MAIS 'INSTAGRAMÁVEL' DAS BALEARES 

Então mas onde é que fica aquela praia que todos os "famosos" portugueses, que adotaram Formentera como "casa de férias" e não se cansam de postar fotos de tudo e mais alguma coisa nos seus instagrams pessoais, aparecem sempre? A praia das águas cristalinas, recheada de mega iates "a la Abramovich" nos seus tempos áureos em fundo? Ah, ses Illetes, é como se chama o paraíso. Fica do outro lado da ilha e tem regras para quem quiser lá pôr o pé em pleno julho ou agosto: ir cedo. A praia (são várias, na verdade, cada uma com seu nome) situa-se numa península. Logo, entrada e saída faz-se pelo mesmo local. Há parque de estacionamento – em Formentera, para quem não estiver em versão barco, convém alugar um carro ou uma scooter (mais uma influência italiana por ali) e assim deslocar-se para todo o lado facilmente – mas enche rapidamente, tal como o mini areal. A solução é levantar cedo e fazer-se à estrada, sob pena de passar horas em fila para estacionar ou nem sequer lá conseguir chegar. Depois, uma vez lá, é aproveitar o mar onde se anda, anda e nunca se fica "sem pé". E, se der, almoçar num dos vários restaurantes que dão nomes àquelas praias, para depois prosseguir até ser noite no ritmo que se impõe: mais banhos de mar, mais dormir no areal, mais e mais mergulhos em água quente e acreditar que a vida poderia ser só aquilo e seríamos muito felizes... se não houvesse contas para pagar no mundo real. 

Em ses Illetes, eu, que adoro um pé na areia em restaurante 'fancy' de praia, não posso deixar de recomendar o Tiburón. As tapas são excelentes, os cocktails idem e a música é ainda melhor. Podíamos lá passar o dia inteiro, só que é complicado porque o spot não chega para as encomendas e há que dar a vez ao próximo. Sem pressas. Convém reservar – como, aliás, em qualquer restaurante da ilha.

Formentera
Formentera Foto: Getty Images

O CENTRO: OU SEJA, MEIA DÚZIA DE CALLES

Como em qualquer localidade balnear há um centro, apinhado de restaurantes com marisco e (em Espanha) paellas, lojas com t-shirts e souvenirs péssimos, gente a vender nas ruas e a convidar a entrar nos spots locais. O conselho é: fugir! Calma, por ali nem tudo é mau. Em redor do largo da igrejinha que ilumina a pequena ilha e lhe dá aquela cor mediterrânica adorável, há meia dúzia de lojas locais que vale a pena espreitar. É o 'hippie chic', ou o 'boho' na sua melhor qualidade e bom gosto. Há que escolher, claro, mas encontram-se peças interessantes tanto de vestuário como decoração. 

Para os que preferem os programas noturnos aos diurnos, e tiverem o cartão de crédito abonado, vale a pena uma ida ao Can Carlos – não confundir com o Can Carlitos, no porto de Formentera, igualmente agradável. O restaurante é um clássico da ilha, todo ele uma imensa esplanada de árvores que cobrem mesas e convidam a aproveitar as noites de calor. A carta de vinhos condiz com os carpaccios, risottos e outros mimos mediterrânicos. 


O que falta dizer sobre Formentera? Que, como já se percebeu, só há duas formas de chegar: por ar (para os magnatas que tenham helicóptero e onde o aterrar, pois aeroporto nem vê-lo) ou por mar, através dos ferries diários que fazem ligações constantes a Ibiza ou em barco privado. Esta última é a forma certa de conhecer a ilha e o seu mar quente, com as contingências (de carteira) que implica. Mas vale a pena. Há lá algo melhor do que um mergulho pela manhã num mar de 20 e muitos graus?! Não que eu o tenha feito por ali... mas contaram-me! :) 

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