
Rodrigo Guedes de Carvalho fez uma longa reflexão na sua mais recente crónica no 'Expresso', comparando a crescente popularidade do Chega, evidenciada nas últimas eleições, com o Nazismo.
Intitulada 'Noite de Cristal', a crónica reflete sobre como esta popularidade tem vindo silenciosamente a crescer, sob a apatia da maioria.
Recorde-se que Noite de Cristal é como ficou conhecida a noite e madrugada de 9 para 10 de novembro de 1938 em que as forças paramilitares Nazis aterrorizaram milhares de judeus - matando quase uma centena - destruindo as suas casas e estabelecimentos, perante a inércia das autoridades, que nada fizeram. Seria o prenúncio do massacre que estava por vir.
"Os espantos vão aprendendo a digerir, e não foram muitos a adivinhar o que lá vinha. E talvez estes, entre os quais me incluo, sejam a mais aproximada ideia de uma moderna maioria silenciosa", começou por escrever.
"Talvez seja choque de negação, o mesmo que leva a esquerda que vai desaparecendo do Parlamento, como espécies de aves do ecossistema, a proclamar uma ideia de vitória que já se torna embaraçosa. Títulos de jornais do dia seguinte andaram quase todos em redor de um espanto, Portugal acordou assim, Portugal acordou assado, e eis de facto o problema, Portugal não ter percebido que andava a dormir", continuou.
"Os letrados, privilegiados que ouviram na escola, vezes sem conta, a professora escrever no quadro que a história se repete, e se repetirá porque repetiu sempre, andam agora a tentar organizar um protesto, mas não sabem como. Porque nenhum poder foi tomado de assalto. Foi tomado na ironia fina, com boleia de um jornalismo que gozava com um líder e que, ao mesmo tempo, o transportava ao colinho de uma atenção permanente", acrescentou.
"Chegou a inevitável Noite de Cristal. Estamos divididos entre os que ainda percebem o título, pequeno exército fragmentado e confundido, e os que nem sabem o que significa. Mas vão mandar um dia, segundo as regras dessa noite destinada a repetir-se", rematou.
A crónica promete causar polémica, já que os militantes do Chega continuam a recusar a denominação de Extrema Direita.