
Quem havia de dizer que os documentos que o hacker português Rui Pinto ajudou a divulgar acabariam por grantir a "liberdade" a Cristiano Ronaldo no caso de alegada violação nos Estados Unidos. Como? Comecemos pelo "início":
Foi decidido esta sexta-feira que a acusação de violação a Cristiano Ronaldo, por parte de Kathryn Mayorga - que pedia uma indemnização num valor acima de 23 milhões de euros pelos acontecimentos que alegava terem acontecido em Las Vegas, em 2009 - será arquivada.
Os motivos prendem-se com o facto de, como afirmou no relatório de 42 páginas, a juíza Jennifer Dorsey ter considerado que as ações do advogado de acusação, Leslie Stovall, não se coadunavam com os procedimentos considerados apropriados. Mais concretamente, a juíza apontou a conduta de Stovall como uma ação de "má-fé", por ter recorrido a documentos confidenciais roubados que revelavam as comunicações entre Cristiano Ronaldo e os seus advogados: "O uso continuado destes documentos foi de má-fé", explicou Dorsey no relatório, tendo assim seguido a posição do magistrado Daniel Albergts, em 2021, que recomendou o arquivamento do caso por "conduta inadequada" do advogado de Mayorga.
De que documentos se fala? Daqueles que foram usados pelos advogados da norte-americana e que advém dos ficheiros 'Football Leaks'.
Recorde-se que os documentos em causa foram vazados nos famosos ‘Football Leaks’, operação na qual esteve envolvido o hacker português Rui Pinto, tendo sido tornados públicos pelo jornal alemão ‘Der Spiegel’, num artigo com o título ‘Segredo de Cristiano Ronaldo’, que dava conta do acordo de confidencialidade entre o futebolista e Mayorga para que fossem retiradas as acusações, em 2010.
Ora sobre este facto, o tribunal tem a seguinte opinião: que não encontrou provas de que os advogados de Ronaldo tenham intimidado Mayorga no sentido dela retirar a queixa", quando esta o fez, em agosto de 2010, aceitando mais de 354 mil euros por isso. A juíza faz ainda tábua raza sobre tudo o que possa ter acontecido naquele quarto de hotel de Las Vegas, ou seja, a alegada tentativa de violação, remetendo todo o caso para a falta de fiabilidade dos documentos usados pelos advogados da norte-americana.
A juíza reconheceu que o facto deste processo ser arquivado por estes motivos se trata de uma sanção "severa", mas esclareceu: "Desqualificar Stovall não irá apagar o preconceito a Ronaldo devido aos documentos inapropriados e os sues conteúdos confidenciais estão na génese das alegações de Mayorga. As sanções severas são merecidas."
A partir deste momento Cristiano Ronaldo pode voltar a movimentar-se nos Estados Unidos, a investir - como foi sua vontade no passado, antes do processo surgir - em negócios e clubes.