
Destemida e obstinada bem que poderiam ser os seus nomes do meio. Inês Aires Pereira nasceu no Porto, mas aos 18 anos agarrou na mochila e mudou-se para Lisboa atrás do sonho de ser atriz. E quando as coisas não correram como planeado, foi servir às mesas. Aí, ganhou dinheiro e decidiu viajar pelo mundo, há cerca de três anos. Na Austrália trabalhou num hostel onde "fazia os turnos da casa de banho e lavandaria". Ao fim de sete meses, quando ficou sem dinheiro, regressou. Atualmente, aos 27 anos, podemos vê-la na novela ‘Rainha das Flores’.
De onde vem essa paixão pela representação?
Desde que me conheço que digo que quero ser atriz, está-me no sangue. Estou a passar as cassetes VHS para DVD e ao rever esses filmes vejo que são todos comigo. A minha maneira de brincar em pequenina era em frente a uma câmara. Ligava-a e começava a fazer musicais ou programas de televisão. E não precisava de ter ninguém a assistir, era para mim. A minha família é bem grande, somos seis irmãos: dois só do meu pai, dois só da minha mãe e dois em comum. E eu sou a mais nova. E nos jantares de família eu é que era sempre a palhaça de serviço. Cantava, representava... Eu crio imensas personagens e sou capaz de ficar horas nelas, é bastante esquizofrénico. As pessoas divertem-se, nunca se cansam de mim.
Porque essa necessidade?
Não sei mesmo, nasceu comigo. Gosto muito de imitar as pessoas, de apanhar os jeitos, os sotaques. Adoro representar. O meu pai sempre tentou que eu seguisse uma área menos artística. E ainda hoje me pergunta: "Tens a certeza que é isto que queres? Olha que é uma profissão tão incerta." A minha mãe sempre me apoiou porque também é toda artista, é cantora lírica. Portanto, a culpa é dela [risos].
E quando é que deixou os teatros caseiros e começou a levar isto a sério?
Por volta dos 18 anos, quando vim para Lisboa estudar teatro. Passados uns meses comecei a fazer a novela ‘Rebelde Way’. Mas assim que acabei fui para o Brasil, estive quatro meses no Rio de Janeiro a estudar representação. Voltei e fiz logo outra novela, ‘A Lua Vermelha’, depois fui um mês para Los Angeles fazer outro curso e quando regressei, voltei para casa, para o Porto, onde fiz uma peça de teatro. Terminado esse projeto, fiquei sem trabalho e regressei a Lisboa à procura de qualquer coisa na área. Não arranjei nada. Não desisti, fartei-me de estar sem fazer nada e arranjei trabalho num restaurante. Aí comecei a pensar: estou a servir à mesa para fazer castings! Eu vou mas é servir à mesa para viajar e arranjar trabalho num sítio que me paguem bem. Então, agarrei nas minhas coisas e fui. Andei sete meses a viajar entre a Austrália e Ásia.
Destemida e aventureira…
Nómada, sou mesmo uma nómada.
Fale-me dessa viagem…
Foi há cerca de três anos. Comecei pela Austrália! Lá recebia muito bem e, durante três meses, consegui amealhar um bom dinheiro para continuar a viajar. A partir daí fiz Nova Zelândia e sudoeste asiático.
E trabalhou em quê na Austrália?
Trabalhava num hostel para não pagar alojamento e fazia os turnos da casa de banho, da lavandaria e sem problema nenhum! É importante saber que posso fazer qualquer coisa e que a felicidade pode acontecer de muitas maneiras. E isso, aprendi a viajar. Antes pensava que só era feliz a fazer teatro ou novela. Mas não. Fiquei muito feliz quando arranjei trabalho no hostel, fiquei feliz a conhecer pessoas diferentes, fiquei feliz com uma boa conversa de pequeno-almoço com um estrangeiro. A felicidade não está só na carreira e no dinheiro. Infelizmente, precisamos dele para viver, mas o que importa é gastá-lo bem.
Voltou porquê?
Porque fiquei sem dinheiro. Só marquei a viagem de regresso quando percebi que estava mesmo a ficar sem dinheiro. Bati à porta dos meus pais sem avisar. O meu pai perguntou-me logo: "Então quanto dinheiro fizeste?" Nada, estou sem dinheiro respondi-lhe! [risos]. E eles receberam-me de braços abertos, claro. Nós temos uma excelente relação, mesmo. A nossa família é muito rara. É muito bonito.
Mas não se aguentou muito tempo em casa dos pais…
Nunca senti necessidade de sair de lá. Voltei para Lisboa porque fui escolhida para apresentar o ‘Curto Circuito’. Deixei o programa porque queria muito voltar à representação. E fui fazer um musical. Depois comecei a fazer a ‘Rainha das Flores’ que já esta a acabar. Entretanto, já tenho um projeto em teatro, mas não posso falar sobre ele.
Para uma nómada, já está há muito tempo em Lisboa! Já está a sentir aquele bichinho de "tenho de sair daqui"?
Já. Das duas uma: ou começo com um trabalho atrás do outro ou então acho que me mando para o Brasil outra vez. Tenho lá família e fiquei com o bichinho do Rio de Janeiro. Não consigo ficar quieta, mas mais do que isso, tenho de otimizar o meu tempo.
Como é que o seu namorado aguenta essa correria toda?
Não sei e sei que não é fácil. Mas ele vai ter de acompanhar o meu ritmo. Se não… Sempre ouvi a minha mãe dizer: "Nunca deixes de fazer nada por um homem." E nesse aspeto, sou bastante egoísta, portanto ele tem de me acompanhar [risos].
Já lhe disse que está a pensar ir embora outra vez?
Sim. Ele também adora viajar e também é artista, músico, por isso, o Brasil poderia ser bom para ele.
Assentar, casar e ter filhos não faz parte dos seus planos?
Também quero imenso ser mãe. E sempre disse que queria ser mãe nova. Posso viajar e ter o filho lá, porque não? Se por acaso engravidasse agora, também não deixaria de ir. Ou se tivesse cá o filho, viajaria comigo. Se houver força de vontade, as coisas fazem-se.