
Está a escalar a troca de acusações entre Luís Osório e Paulo de Carvalho e pode acabar em tribunal.
A polémica teve início no dia 13 de janeiro, quando o antigo jornalista dedicou a sua rubrica ‘Postal do Dia’ ao cantor que agora celebra 60 anos de carreira. Osório ficou em brasa com uma frase encontrada na biografia do cantor da Revolução em que se diz Paulo de Carvalho é "solidário".
Osório desmente essa faceta de Paulo de Carvalho e explica o motivo: diz que o cantor discriminou o seu pai, José Manuel Osório, falecido em 2011, quando ele revelou a Paulo de Carvalho que era seropositivo.
"Apeteceu-me várias vezes, ainda com ele em vida, falar publicamente do que o meu pai sofreu no dia em que Paulo de Carvalho lhe disse que já não podia contar mais com o seu trabalho. Para ele, o Paulo era uma espécie de Deus na terra. Durante muito tempo – muito mais do que dez anos – o meu pai foi o seu agente. Vendia os seus espetáculos. Organizava viagens, técnicos, agendas e vontades", começou por referir Luís Osório.
"O meu pai foi dos primeiros a ser infetado com o VIH. Mas só no início da década de 1990 se tornou impossível esconder que tinha SIDA. No momento em que foi pela primeira vez internado teve de avisar os mais próximos. E avisou também Paulo de Carvalho, o homem para quem trabalhava há longos anos. O Paulo não reagiu como ele esperava que reagisse. Aliás, nunca lhe passou pela cabeça que a relação terminasse ali. (…) O meu pai tinha SIDA e a partir daí as coisas só podiam piorar. Paulo de Carvalho não podia continuar a pagar-lhe por um trabalho que não sabia se ele poderia continuar a fazer", continuou.
"E o meu pai deixou de ter trabalho e ficou com uma mão à frente e outra atrás. Sem indemnização e quase sem dinheiro. Foi a única vez que o vi chorar ao pé de mim. De desespero, mas também de desilusão pelo homem a quem dedicara os melhores anos da sua vida. Nunca pensara que dali pudesse vir algum tipo de discriminação, o Paulo era o máximo, o melhor cantor português, um amigo, um irmão", acrescentou.
Por fim, explicou o que o levou a redigir esta publicação: "Nada do que contei até aqui seria suficiente para escrever este postal. Jamais escreveria ou falaria sobre o tema. E jamais voltarei a falar. Só que li a biografia oficial de Paulo de Carvalho. E antes de a ler, pensei: ora aí está uma boa oportunidade para uma referência, um parágrafo, uma nota de rodapé sobre o José Manuel Osório, um homem que se dedicou tanto a fazê-lo brilhar. Mas não. Nem uma nota de rodapé ou uma vírgula que fosse. (…) E ao ler a informação comercial sobre o livro entrou-me pelos olhos este bocadinho, esta desarmante definição sobre Paulo de Carvalho: 'Um cidadão de generosidade solidária'. Não aguentei. Porque isso não. Um cidadão de generosidade solidária, não. Isso é pornográfico."
Paulo de Carvalho responderia através de comunicado: "Fui recentemente vítima de uma série de graves calúnias por parte do jornalista Luís Osório, através do seu espaço na TSF – Rádio Jornal e, depois, nas redes sociais, onde foram amplificadas", afirmou.
"Luís Osório acusa-me de factos ocorridos há pelo menos 30 anos e que lhe terão sido relatados por seu pai José Manuel Osório, entretanto falecido. Lamento que Luís Osório invoque a memória do seu pai – de quem fui amigo – para, sem jamais ter procurado confrontar-me com os "factos", lançar sobre mim uma mentira infame. A qual repudio com a mesma intensidade com que me chocou", prosseguiu.
"Fui eu quem acompanhou o José Manuel Osório durante a doença, confirmada no Instituto Ricardo Jorge (…). E, nos anos seguintes, continuou a trabalhar comigo e apenas por usa livre vontade essa colaboração chegou ao fim. Nem foi despedido, nem jamais o estigma de uma qualquer doença seria motivo para me afastar de quem quer que fosse. Estou de consciência perfeitamente tranquila", frisou a voz de ‘E Depois do Adeus’.
Em resposta a este comunicado, Luís Osório recuperou uma entrevista que conduziu ao seu progenitor na RTP, no programa ‘Portugalmente’, no qual este último assinalou: "Houve duas ou três pessoas, se eu quiser, particularmente uma, com quem trabalhei durante muitos anos, a quem dediquei o que de melhor eu sabia, por quem passei muitas horas e muitos dias a não dormir e a paga que recebi é a que se vê. [Abandonou-me] completamente. Nem sequer um telefonema. Nunca denunciei em público, nem tenciono fazê-lo, porque a vingança é própria dos fracos. Espero que nunca tenha o atrevimento de me dirigir a palavra: fui para o México, para um congresso mundial de seropositivos, e, quando voltei, estava pura e simplesmente despedido", revelou, não explicitando a quem se referia.
O antigo diretor de ‘A Capital’ ainda faria mais uma publicação, esta segunda-feira: "Não posso deixar de responder ao comunicado de PC. Um comunicado que é ainda mais grave (e claro sobre a sua persona) do que tudo aquilo que esteve em causa no modo como tratou uma pessoa com quem trabalhava há longos anos. Penso que já não se trata de respeitar a memória de um homem como José Manuel Osório".
"Trata-se de respeitar o que foi o sofrimento de toda a família - a começar pela minha avó Alice e pela tia Cristina (e Teresa) que estiveram na primeira linha entre as pessoas que se sacrificaram naquela altura. No comunicado vai ao ponto de nos informar que foi ele a ajudá-lo quando ficou doente. Que foi o meu pai a desejar sair porque ele jamais faria tal coisa. Uma pessoa lê e não acredita. Por isso, coloquei aqui outra vez a nossa conversa (2002). O meu pai é absolutamente claro. Não o poderia ser mais", agregou.
"Se Paulo de Carvalho desejar - se achar por bem - que me processe por difamação do seu bom nome. Terei gosto em esclarecer o tribunal e de levar comigo toda a família direta, todos os que em casa presenciaram o estado de abandono, de sofrimento e de raiva do meu pai. Eu tinha 19 anos. Era muito jovem, mas felizmente ainda existem duas irmãs e a Teresa. Elas poderão confirmar e acrescentar o que não escrevi para salvaguardar o que Paulo de Carvalho representa como músico", afirmou, por fim, Luís Osório.