
Há investimentos das estações que, para mim, permanecerão sempre um mistério. Como se aposta numa produção com atores de primeiríssima linha, numa boa história, cenários tradicionais, realização clássica e, ninguém saberá bem a razão e quando a decisão começou a ser tomada, se deixa cair o produto, o tal no qual se depositaram milhares de euros e que acaba esquecido, sem glória. Nos últimos tempos, esta tem sido a sina de várias novelas, na SIC como na TVI. Mas o último caso, impressionante, é 'Flor sem Tempo'.
A produção estreou no início do ano, no horário nobre da SIC. Anunciada como um regresso aos "clássicos" – ao novelão, como chamam os brasileiros –, a novela tem no elenco um palmarés de atores que fazem os sonhos de qualquer produto: Alexandra Lencastre, José Wallenstein, Marina Mota, Cristina Homem de Mello, Luís Esparteiro, Luísa Cruz... um luxo! A estreia foi feita em horário nobre, após o campeão de audiências 'Jornal da Noite', no lugar da bem-sucedida 'Sangue Oculto'. Mas como não se estraga um produto – que até estava a "dar luta" a 'Festa É Festa' para tentar promover uma novidade – 'Flor sem Tempo' –, Daniel Oliveira (e bem) colocou a novela no horário em que fazia sentido: como a segunda de horário nobre. O problema foi o que se seguiu. Em vez de episódios de 40 a 50 minutos, 'Sangue Oculto', na ambição de vencer a concorrência, começou a esticar até à hora e meia, com recurso a cenas e mais cenas de 'Stock shots' (paisagens da Costa de Caparica) a intercalar a ação. Enquanto isto, a concorrente TVI emite não só a líder 'Festa É Festa' como a novidade 'Queridos Papás'. A SIC "empastela", perde e ainda atira 'Flor sem Tempo' para as onze e tal da noite. Não contente, parte-a ao meio com um intervalo de mais de 10 minutos. Resultado: quem sai nesse momento já não volta... e lá se vai metade do público.
Há alternativa a isto? É complicado responder: os compromissos publicitários têm de ir para o ar e o risco de um produto morrer, no fim da noite, entre blocos comerciais que não passaram em horário nobre é grande. A pergunta, então, é outra: vale a pena o investimento para este retorno? Tenho dúvidas...