
Porque a nossa vida "no sofá" também se faz de informação – cada vez mais, diga-se –, hoje falamos de coisas sérias – se é que assim podem ser consideradas, na verdade...
1. Comecemos pela notícia mais bizarra dos últimos tempos em cenário de crise. Vem aí a semana dos quatro dias. Pois é: no momento em que o custo de vida aumenta de forma descontrolada, em que o ordenado parece diminuir de semana para semana, em que a competitividade e o esforço são necessários para dar a volta à conjuntura internacional e recuperar, eis que o Governo saca da cartola uma medida amorosa, que mais uma vez segue a tendência internacional de garantir a qualidade de vida e a saúde mental aos trabalhadores: a semana dos quatro dias. A ideia é mesmo querida, ninguém duvida de que tenha excelentes resultados: não estivéssemos em crise... sem fim à vista. É certo que poderia haver outras soluções práticas, que os contribuintes agradeceriam, tendo em conta valores de combustíveis e bens essenciais: teletrabalho 1 a 2 dias por semana, por exemplo, que já deu provas de funcionar, não diminuiria os índices de produtividade e garantiria poupança às famílias. Mas não, semana de 4 dias é muito mais popular e modernaço. Por isso, siga sem mais questões. É o que temos...
2. Na polémica dos abusos na Igreja e das declarações controversas do Presidente sobre os mesmos, eis que a figura que levantou as questões mais difíceis e fez os trabalhos de casa foi, de novo, Ricardo Araújo Pereira. Digo "de novo" porque o mesmo aconteceu em campanha eleitoral, quando o humorista foi dos raros a fazer o TPC perante uma comunicação social amorfa e dedicada ao óbvio em vez de fazer o seu trabalho de pesquisa sobre o que se esconde para lá da espuma do dia a dia. Dir-me-ão que RAP não faz mais do que "o seu trabalho", ou seja, aquilo que um humorista sério deve fazer. Sobre isso não duvido. Duvido é de que os jornalistas sigam esse exemplo. De agenda, de temas comuns, dessa imensa névoa de espuma de "o que está a dar no momento", andamos nós fartos. Aliás, é por isso que a disruptora CMTV continua a subir audiências. Porque rompe o status quo. Como RAP. O resto... é mais do mesmo.