Abandono, drogas e violência. As histórias dos cinco presos em fuga que se tornaram nos rostos mais famosos de Portugal

De repente, os rostos destes cinco homens tornaram-se, praticamente, nos mais famosos de Portugal. Desde o passado sábado que o país está em alerta máximo com cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Alta Segurança de Vale de Judeus, em Lisboa, a terem protagonizado uma arrojada fuga da prisão.

Como em todos os casos semelhantes, a fuga terá demorado semanas a ser preparada (há casos em que se relata até anos de planeamento) com estes cinco homens a juntarem-se de tempos a tempos para ver que brechas de segurança lhes permitiriam sair da cadeia.

Conseguiram-no último sábado. Era hora de visitas e os guardas de serviço - eram 20 para mais de 500 homens - dividiam as atenções pela parte do dia em que a prisão mais ganhava vida. Aproveitando a azáfama, os reclusos conseguiram sair por volta das 10h00, em plena luz do dia. Sabiam que a eletrificação do gradeamento estava desligada porque de cada vez que esta era ativada, a luz da prisão ia abaixo, e lá fora tinham à sua espera vários cúmplices e dois carros.

Foi-lhes atirada uma escada em alumínio, que se encontrava camuflada, e puderam escalar à pressa para se evadirem da prisão e até à data, ainda não foram capturados.

A imagen dos seus rostos está espalhada não só em Portugal, mas um pouco por toda a parte, com muitos países a darem eco da 'espetacular' fuga destes criminosos, que abalou o sistema de segurança das prisões no nosso país. 

Esta é a história dos cinco evadidos.

MARK ROSCALEER: O INGLÊS QUE JÁ NASCEU NA PRISÃO

Diz-se que dificilmente se consegue escapar ao destino e Mark Roscaleer também o tentou, mas não conseguiu. Em Inglaterra a sua história é bem conhecida, não apenas pelos crimes violentos que cometeu mas também porque foi um dos muitos bebés que nasceram na prisão... para mais tarde regressar.

De acordo com Correio da Manhã, Mark nasceu numa prisão do Reino Unido, onde a mãe se encontrava, então, a cumprir pena. Seria, mais tarde, adotado, mas a mãe adotiva morreu quando ele tinha apenas 12 anos, o que desencadeou um sentimento de perda e revolta e uma mudança no comportamento de Mark.

Mas se até aí, o jovem se revelava mais agressivo, no seu processo está descrito que a verdadeira mudança aconteceu quando atingiu a maioridade e conheceu finalmente a mãe biológica. É pela sua mão que diz ter entrado no mundo do crime e é à progenitora que culpa pelos crimes que cometeu no nosso país, garantindo que esta o forçava a enviar-lhe dinheiro.

Mas a justificação está longe de convencer os juízes, que encontram em Mark, de 35 anos, os "requintes de malvadez" que fazem parte do ADN de um verdadeiro criminoso. Em Inglaterra, já tinha sido condenado por um assalto violento, tendo conseguido fugir da cadeia e em Portugal viu ser-lhe aplicada uma pena de nove anos de prisão por ter sequestrado um homem num assalto violento.

"Apresenta impulsividade enquanto traço temperamental de base, que consiste numa tendência para agir no calor do momento em resposta a estímulos imediatos, numa base provisória e sem consideração pelas consequências para si e para terceiros, com dificuldade em estabelecer e seguir planos e com um sentimento de urgência e comportamento auto lesivo em ambiente de mal-estar emocional", é destacado no acórdão do Tribunal.

Desde então, passou a vida a tentar fugir da prisão. Em 2019, quando ainda se encontrava no Estabelecimento Prisional de Lisboa, conseguiu partir a janela da cela e embebeu todo o corpo em óleo para conseguir passar entre as apertadas grades. Acabou por ser apanhado quando estava a meio do processo, tendo agora concluído a fuga com êxito.

FÁBIO 'CIGANO': O ALGARVIO QUE CRESCEU NO MEIO DA VIOLÊNCIA

Como qualquer pessoa, cada um destes homens que conseguiram evadir-se tem a sua história e o nome de Fábio 'Cigano' tornou-se num dos mais mediáticos desta fuga. Estava preso há cerca de dez anos com uma lista interminável de crimes, entre os quais tráfico de droga, posse de arma proibida, rapto ou extorsão.

Quando no passado foi encontrado no Algarve, escondido numa casa em Alcoutim, há muito que já estava na mira das autoridades, que o detiveram, literalmente, com a 'mão na massa'. Em sua posse tinha mais de 50 quilogramas de Haxixe, pistolas, munições e além de dois carros de alta cilindrada.

Era o 'fim' esperado para um homem que cresceu com um pai extremamente violento, viu de tudo um pouco, ao lado da mãe e do irmão gémeo, e acabaria por ser institucionalizado na juventude.

Quando, no passado sábado, fugiu da prisão, usava umas calças de fato de treino e t-shirt preta, e desde então, já terá sido avistado em Lagoa, onde terá ido para dar um beijo à mulher e ao filho. O homem, que tem uma lágrima tatuada no rosto, tem hoje 33 anos, e ainda tinha por cumprir 15 dos 25 anos a que foi condenado.

EL RUSO: O SANGRENTO CRIME QUE PÔS FIM À VIDA DE POLÍTICOS

O nome de Rodolfo Lohrmann não está, de todo, confinado às fronteiras nacionais. É, de longe, o criminoso mais conhecido de todos os que fugiram de Vale de Judeus. No passado, liderou o gang acusado de cometer vários crimes bárbaros na sua terra Natal, a Argentina. 

Foram acusados de ter enterrado viva a filha do ex-presidente do Paraguai, de matarem o filho do Ministro da Saúde da Argentina, mesmo depois de a família ter pago o resgate, além de outros raptos e homicídios.

Depois da onda de crimes, no entanto, 'El Ruso' como que desapareceu do mapa. Procuraram-no durante anos, até que 14 anos depois já o julgavam morto. É quando uma nova onda de crimes violentos o localiza no nosso país, onde integrava então um novo gang violento, tendo sido detido quando se preparava para atacar uma carrinha de valores em Lisboa, estávamos então em 2018. Antes, já tinha assaltado várias dependências bancárias, sendo que há imagens que o mostram a agredir uma mulher grávida.

Foi condenado a 18 anos prisão, com outros países latinos a exigirem a sua extradição pelo facto de em Portugal não haver pena de morte, nem forma de pagar pelos crimes que cometeu no passado.