Abusos sexuais pela calada da noite, amantes e machismo: "A cozinha é tua!". Atleta Ana Peleteiro relata violência no namoro. Nelson Évora garante que não é ele o 'ex' violento
Medalhada atleta olímpica, que namorou durante cinco anos com o português Nélson Évora, usou o Tik Tok para denunciar, num longo vídeo, os abusos que diz ter vivido durante uma anterior relação. Sem nunca denunciar o alegado agressor, enumera um sem-número de situações graves por que passou como abusos sexuais e um total desrespeito pela vida conjugal. Perante a polémica, o atleta olímpico apressou-se a reagir em comunicado.
Ana Peleteiro é atleta de triplo salto, com medalhas olímpicas conquistadas e se ainda assim tem dúvidas se é daí que conhece o nome da espanhola, provavelmente já tinha ouvido falar dela, mas por causa do namoro com Nelson Évora. Durante cinco anos, os dois mantiveram um romance discreto - maioritariamente longe dos holofotes da fama - que acabaria em outubro de 2021, com a desportista a garantir que a amizade prevalecia. Ainda que hoje a história seja um pouco diferente. Dessa suposta amizade, não se seguem nas redes sociais e num desabafo sobre o romance a desportista acabaria por deixar escapar que os anos ao lado do português não foram propriamente os mais felizes. "Oxalá tivesse durado menos", avançou.
O namoro terminou no outono de 2021 e, cerca de duas semanas após o fim do romance, Ana Peleteiro acabaria por se apaixonar por um outro antigo atleta Benjamin Campaoré, também ligado ao atletismo e que é o seu atual companheiro e pai da sua filha. Também Nelson Évora reencontrou a felicidade e este ano foi pai pela primeira vez, fruto da relação com Evy Alberola.
Ao longo dos últimos anos, a espanhola foi levantando a pontinha do véu sobre o tema 'violência no namoro' para garantir que antes de Benjamin tinha vivido um relacionamento abusivo e tóxico, mas foi na última segunda-feira que o acabaria por fazer de forma detalhada e pessoal. Aderindo a uma trend no Tik Tok em que mulheres detalham por que ficaram em relações abusivas, mesmo sabendo que o que viviam não estava certo, a medalhada atleta denunciaria situações realmente graves. Num vídeo de cinco minutos, Peleteiro relatou ter sido vítima de abusos físicos e psicológicos, não adiantando no entanto a identidade do agressor, garantindo apenas que "não é difícil saberem" a quem se estaria a referir.
Após muitas especulações, e vários sites espanhóis associarem a história de Ana Peleteiro a Nelson Évora, o atleta acabaria por reagir em comunicado. "No seguimento das notícias que estão a circular e que envolvem o meu nome, manifesto toda a minha empatia pela Ana e por todas as mulheres e homens que passam por este tipo de situação. A pessoa visada nesta história não sou eu. Agradecia, por isso, que não me associassem a esse testemunho sob pena de consequências legais", fez saber.
Entre um dos epiósios mais graves relatados pela 'ex' de Nelson Évora estão os abusos sexuais que garante ter sofrido, por várias vezes, durante a noite, enquanto dormia. "Acordava de noite a fazer sexo sem consentimento. E mesmo assim fiquei. Ele mudou absolutamente tudo em mim, desde a roupa, ao cabelo, a forma como eu agia com a minha família, afastando-me de muita gente, e mesmo assim eu fiquei", disse, denunciando também que o tal companheiro tinha amantes e uma vida dupla, que Peleteiro sempre permitiu.
"Dizia-me que se não fizéssemos sexo sempre que ele quisesse, isso ia deteriorar a relação e que, no final do dia, quem não comesse em casa, comia fora. E que se ele fosse infiel, eu também não me deveria surpreender. E mesmo assim fiquei (...) Se eu fosse a casa dele aos fins-de-semana, ele desaparecia. Ele desculpava-se dizendo que precisava do seu espaço e que eu tinha de confiar nele. Deixá-lo fazer aquelas coisas porque isso era normal numa relação. E mesmo assim eu ficava. Ele voltava das viagens com chupões no corpo e dizia-me que eram picadas de insetos que talvez estivessem no colchão. E eu ficava na mesma.
Ana Peleteiro admitiu ainda que recebia frequentemente cartas das alegadas amantes em casa, mas que o ex-companheiro tentava sempre desvalorizar. "Recebi cartas das amantes dele em casa. E muitas vezes eu recebia as cartas e, por desconfiança, lia-as e dizia que eram fãs loucas que estavam obcecadas por ele. E mesmo assim fiquei".
Entre muitas situações, a atleta descreve situações caricatas como o momento em que foi viver com o 'ex' e este lhe explicou que não esperasse divisões de tarefas ou que este se ocupasse de jantares e da cozinha no geral. "A cozinha é tua", terá atirado.
No longo depoimento, Ana Peleteiro destaca ainda que o alegado agressor lhe disse que a cozinha era a sua divisão da casa e relatou que o 'ex' a deixou sozinha durante a pandemia, entre outros aspetos que atiram o ónus da questão diretamente para Nelson Évora - uma vez que essa altura corresponde, temporalmente, a uma fase em que os dois estariam juntos - mas o nome do português nunca é referido.
A FLASH! tentou contactar a medalhada atleta no sentido de esclarecer a questão, mas esta nunca respondeu às nossas tentativas de contacto.
Essa é, aliás, uma das críticas dirigidas a Ana Peleteiro no período pós-confissão. Apesar do impacto que o depoimento teve nas redes sociais - e até politicamente, com a Ministra da Igualdade de Espanha a ter agradecido o facto de a atleta ter mostrado que tem uma voz ativa - muitos questionam se, em temas tão sérios como aqueles que envolvem comportamentos abusivos, não se deve ir, na verdade, até ao fim, nomear os agressores, recorrer às autoridades competentes para, por mais tempo que tenha passado, apontar o dedo de uma forma consequente. Nesse sentido, Ana Peleteiro é criticada por deixar o assunto a meio e não nomear o agressor, que poderia ser, desta forma, responsabilizado social e criminalmente.
O caso ainda é mais grave porque Nelson Évora foi o namorado mais conhecido de Ana Peleteiro e o único que assumiu publicamente. Em Espanha, há inúmeros sites que fazem a associação direta mesmo que a atleta não tenha dito qualquer nome em voz alta, o que obrigaria o português a reagir.
Até porque esta já não é a primeira vez que a atleta aborda o assunto publicamente, deixando o tema a pairar no ar. Em maio do ano passado, Ana Peleteiro contou, por exemplo, como conheceu o atual companheiro e pai da sua filha, Benjamin Campaoré, e foi na sequência dessa entrevista que daria pistas sobre o relacionamento conturbado que tinha vivido no passado.
"Vínhamos os dois de relações supertóxicas, de onde saímos muito queimados. E, sem saber como, segui-o no Instagram, sem nenhuma intenção e vi que ele fez o mesmo. Eu antes seguia-o, mas o meu 'ex' obrigou-me a deixar de seguir todos os homens do atletismo", começou por revelar, à 'Yo dona'.
Na mesma entrevista, recordou o contacto visual que teve com o atual companheiro, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, numa altura em que ainda namorava com Nélson Évora, com quem terminaria a relação em outubro seguinte.
"Ele viu-me nos Jogos Olímpicos, cinco anos depois do nosso primeiro encontro, e percebeu que eu agora já era uma mulher. Vi-o na pista, mas foi super incómodo, porque estava a fazer-lhe olhinhos à frente do meu 'ex' [Nelson Évora]. Horrível! Não falámos. Só trocámos olhares. Eu estava intoxicada da minha relação e não era capaz de sair desse círculo. Mas no final conseguimos ambos sair das nossas relações tóxicas ao mesmo tempo. O meu objetivo era ficar solteira durante pelo menos um ano, mas isso foi tudo ao ar. Estive só uns 15 dias. Ainda que já estivesse sozinha no coração e na mente há muito".
ATUAL MARIDO CONDENADO POR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Ana Peleteiro apela a todas as mulheres que se libertem das relações tóxicas que vivem, e que não se deixem ficar em relações abusivas, normalizando esses comportamentos. Diz que, finalmente, aos 29 anos, descobriu o que é um amor livre e saudável, ainda que o atual marido também não tenha uma 'ficha imaculada'.
Em 2020, o atleta foi detido pelas autoridades francesas na sequência de uma denúncia da então companheira. De acordo com os dados apresentados pelos jornais 'Le Parisien' y 'L'Équipe' à época, a mulher do francês queixou-se de ter sido esbofeteada e atirada para a cama, numa cena presenciada pelos dois filhos.
Benjamin Compaoré viria mesmo a ser condenado a seis meses de pena suspensa por violência doméstica, sendo que em tribunal relataria que "problemas de comunicação" na relação acabariam por desembocar em outros mais graves, e que ele próprio também poderia ter denunciado a então companheira por violência.