As guerras de família da milionária Maude Queiroz Pereira: o berço de ouro, o apoio dos Espírito Santo e a acusação de fraude fiscal
Está acusada de Fraude Fiscal mas garante que o Fisco não tem razão. Quem é, afinal, esta empresária milionária, nascida no seio de uma das famílias mais poderosas do Estado Novo que entrou em rota de colisão com o irmão, Pedro Queiroz Pereira, e com a mãe, Maud. Afastada da gestão das empresas, vendeu as ações por 62 milhões de euros, saiu de Portugal e mudou-se para Londres. Agora o Ministério Público investiga se deve, ou não, sete milhões de euros ao Estado.
Nascida numa das famílias mais poderosas do Estado Novo, Maude Queiroz Pereira, 74 anos de idade, irmã do falecido empresário Pedro Queiroz Pereira, enfrenta a acusação de fraude fiscal. Em 2013 vendeu as suas ações nas empresas da família ao irmão por 62 milhões de euros e o Fisco alega que estão em dívida sete milhões de euros em impostos não liquidados e remeteu o caso para o Ministério Público, como noticiou o 'Correio da Manhã'.
Em causa está a mudança da residência fiscal para Londres, em 2013, depois do divórcio com o empresário João Lagos e por guerras de família com o irmão e com a mãe, que a afastaram das empresas de família. O Fisco pretende saber se esteve no País mais de 183 dias. Caso se confirme, Maude passa a ser considerada residente. Com a taxa de tributação aplicada em Portugal - 28% - deveria ter pago sete milhões pelas mais-valias.
A defesa de Maude Queiroz Pereira alega que não, que, para além das 19 viagens de avião consideradas pelo MP, haverá pelo menos outras três deslocações para Espanha, de automóvel, e mais viagens de avião, que, 11 anos depois, já não tem os respetivos comprovativios, tal como é avançado pela 'Sábado', que teve acesso ao processo.
NO SEIO DE UMA DAS FAMÍLIAS MAIS PODEROSAS DO ESTADO NOVO
Quem é, então, Maude Queiroz Pereira? Discreta e reservada, nasceu em 1950 no seio de uma das famílias mais poderosas do País. O avô, Carlos Pereira, foi presidente da Companhia das Águas de Lisboa (agora EPAL) e tratava Salazar por "meu bom amigo". O filho, Manuel Queiroz Pereira, fundou a Cimianto, "que passou a fazer as grandes tubagens para transportar essa água. E é assim que começa a fortuna dos Queiroz Pereira", refere uma fonte próxima da família, citada pela 'Sábado'.
Os pais conheceram-se no intervalo de uma ópera no Teatro São Carlos. Manuel Queiroz Pereira já com 39 anos, viúvo e com um filho, Maud, solteira, com apenas 22. Casaram e foram pais de quatro filhos, sendo Maude a segunda. A família instalou-se na Avenida das Descobertas, Restelo, naquela que era considerada "a melhor casa de Lisboa". Quando regressaram da lua de mel, os pais de Maude foram surpreendidos com a generosa oferta do amigo Ricardo Espírito Santo, avô de Ricardo Salgado, que lhes decorou a casa, de forma luxuosa.
A casa era cuidada por empregados fardados e as crianças cumpriam normas rigorosas, fruto de uma educação rígida de Maud. Dos quatro irmãos, apenas Maude se licenciou. Estudou História de Arte em Itália e fez um curso de arquitectura de interiores na Fundação Ricardo Espírito Santo. Por esta altura, a família era proprietária do Hotel Ritz, onde Maude teve escritório durante mais de 20 anos. De acordo com a 'Sábado' foi ela quem liderou as renovações do hotel em 1998.
A GUERRA COM O IRMÃO PEDRO QUEIROZ PEREIRA
Enquanto isso, o irmão Pedro Queiroz Pereira – falecido em 2018, a bordo do seu iate em Ibiza, na sequência de uma queda de dois metros – transformava as empresa de família num dos colossos empresariais do País, com a Navigator a representar 1% do PIB português, a ocupar a terceira posição entre as maiores exportadoras. Antes de entrarem em guerra, Maude e Pedro tinham grande estima um pelo outro e defendiam-se mutuamente. Mais tarde, acabaram de costas voltadas, com Maude a acusar o irmão de a ter afastado da gestão das empresas e de ficar com o controlo do Grupo de forma ilegal. Por esta altura, a empresária tinha o apoio dos Espírito Santo, durante muitos anos sócios e amigos da família. De acordo com o irmão, ela tinha perdido o apoio dos acionistas e da mãe.
De acordo com a 'Sábado', que teve acesso ao testamento da matriarca Maud Queiroz Pereira, falecida em 2011, Pedro foi o principal beneficiado na parte da herança que a mãe podia dispor. A relação entre mãe e filha era, há vários anos, distante.
DOIS CASAMENTOS E TRÊS FILHOS
Maude Queiroz Pereira foi casada duas vezes. A primeira com António Miguel Teles da Silva – 1970 – de quem, tem um filho, Martim. E a segunda – 1978 – com o antigo tenista e empresário João Lagos, de quem tem dois filhos, Tomás, falecido em 2023, e João. Quando se casou com João Lagos envolveu-se nos negócios do marido, nomeadamente no Estoril Open e fez parte da organização do Dakar, cuja prova acompanhou duas vezes de helicóptero, ao lado da piloto Joana Lemos.